Capítulo 36 - E eu vou quebrar

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Ele estava no mesmo lugar onde Ellexis o mandou ficar.

Ela voltou para o corredor a passos rápidos, com Luz das Cinzas empunhada, como se a qualquer momento tivesse que usá-la. Mas ele estava lá, parado, as mãos ainda nos bolsos.

Ellexis o olhou com o cenho franzido, examinando-o dos pés a cabeça, e aquela chama tornou a banhá-la por dentro, mas ela a ignorou.

— Você tem cara de brava — observou o príncipe com um tom de timidez.

— O que aconteceu com Wren? — Ellexis cuspiu as palavras, com a justa intenção de ser rude.

Ele desviou o olhar. Depois de breves segundos, disse, sem encará-la.

— O mesmo que aconteceu com todo mundo.

O tom não era mais de timidez, mas de tristeza. Aquilo incitou em Ellexis um pensamento estranho, que ela quis desprezar, sentir repugnância, mas não conseguiu: ele não parecia aquele que a perseguiu, que a matou naquele corpo pequeno e inocente, não parecia um assassino.

Ele parecia, em vez disso, o garoto do quadro que ela viu em seu primeiro sonho com o livro. O adolescente orgulhoso que segurava a coroa, com a mais plena certeza e alegria que um dia ela estaria em sua cabeça.

Aquele não era o Príncipe em Chamas. O garoto do quadro e aquele na sua frente amavam seu povo, ela podia ver isso em seus olhos tristes, e sentia tanto orgulho em pensar que um dia seria o rei e protetor de Eyessand, quando, no final, se tornou a ruína de seu reino e de seu povo.

As chamas dançavam pelo interior de Ellexis, ela deu um passo para perto dele, e sentiu que elas queimaram com mais força.

A fogueira viva que a Imensidão colocou dentro de si a incitava a se aproximar mais, mas Ellexis parou. Teve de fazer certa força para conter aquelas chamas, conter aquela vontade de chegar mais perto, não sabia o que era aquilo, ou por que a fazia se sentir assim, mas tentou, forçadamente, calá-la.

— Temos que partir.

O príncipe voltou a olhá-la nos olhos, e Ellexis notou que seus olhos não eram verdes como no quadro, mas de um preto muito profundo, tão escuros que mal podia se distinguir a pupila no centro.

E abaixo deles haviam grandes olheiras fundas, dando-lhe uma aparência de quem não dormia a dias.

— Partir? E Wrenett?

Ellexis o encarou, séria.

— Você sabe o nome dela?

— Eu sei muitas coisas sobre ela.

— Ah é?

— É.

Ela guardou a espada na parte de trás do traje preto, de certa forma ousada ao ficar desarmada na frente dele.

— Que pena que não pôde se despedir — Ellexis disse, sarcástica. — Eu a mandei de volta a Waterfall.

Ele piscou algumas vezes, como se estivesse surpreso.

— O quê?

Então Ellexis cansou de segurar a língua.

— Você quase matou minha irmã e por isso eu a enviei de volta para casa. Estou assumindo a missão dela a partir de agora e você vai me seguir calado aonde eu for, porque tenho muita, muita coisa para fazer para conseguir quebrar a merda da sua maldição, e eu vou quebrar.

Aqueles olhos tristes a miravam com desânimo, mas ela não se importou, e sua rispidez fez as chamas machucá-la por dentro, como se fosse errado falar com ele daquela forma.

Sob Chamas de Sangue | Vol. 1 Forged In DarknessDonde viven las historias. Descúbrelo ahora