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Após o almoço, eu resolvi fazer um bolo para o lanche da tarde. E enquanto assava, me inclinei á janela. Ventava bastante lá fora e o sol já estava quase se indo.

Pego um dos cestos que deixei separado ao lado da porta e o ponho debaixo do braço, caminhando para fora da casa. A camiseta agora seca no meu corpo, balançava com o vento, seguindo o ritmo dos meus cabelos.

Apanho as roupas com calma e por alguns segundos, desvio o olhar para a porta, vendo o Sr. Aldrik novamente me matar com o olhar. Eu jamais conseguirei distinguir os seus sentimentos através dos seus olhares.
Finjo que não vi nada e continuo o que estava fazendo, até a última peça de roupa, mas como se ele tivesse poder sobre mim, lembro-me do seu corpo muito próximo do meu, quando ele se inclinou por cima de mim, na cozinha. O que ele estava pensando?

Ele me dá espaço para que eu posso passar pela porta, nem ao menos noto que seguro a respiração até chegar a cozinha e soltá-la.
Ponho o cesto ao lado e vou até o forno, vendo se o bolo já estava completamente assado. Após ver que não. Entendo que dá tempo de guardar estas roupas.

Passo pela porta e pego novamente o cesto, giro os calcanhares, subindo as escadas. Será que ele ainda me observava?

O restante do dia eu me pegava lembrando da cena no quarto. O homem estava inteiramente suado e ofegante... e ele não pareceu nenhum pouco desconfortável com a minha presença.

- Suas roupas estão naquele armário. - Ele aponta para atrás de si. Sr. Aldrik estava sentado na sua poltrona, tomando um chá e comendo do bolo ainda quente. Desvio o olhar, procurando. Haviam dois armários grandes ali. Mas um deles possuía um cadeado atracando as duas portas. O que tinha ali?

- Obviamente não é este que está olhando. - Fala grosso com uma raiva quase paupável na voz.
- Pode usá-las ou trocá-las quando quiser. O inverno está cada vez mais próximo e este ano será rigoroso. - Diz, enfiando mais um pedaço do bolo na boca. O homem já comeu mais da metade dele, sozinho.

- Obrigada, senhor. - Ele desvia o olhar de algo a sua frente e me encara, como se estivesse surpreso em me ouvir agradecer.

Solto um suspiro, sentindo meu corpo implorar por um descanso. Fecho as porta do armário que eu havia acabado de guardar a louça seca e limpa.

Saio da cozinha com a intenção de pedir ao meu dono para que eu possa ir para a inferninha, mas o encontro dormindo na poltrona.

Decido não incomoda-lo. Saio pela porta, fechando a mesma atrás de mim. Como um passe de mágica o vento bate no meu rosto, me encolho com o ar gelado e praticamente corro até meu lar.

Abro a mala, tirando outro pano e desdobro o outro, fazendo assim uma "coberta" mais resistente.
Eu sabia que podia pegar as cobertas assim como ele me deu a permissão, mas eu também sabia que não poderia pegar sem avisa-lo ou até mesmo pedir de novo. Meus pais faziam isso algumas vezes, davam "permissões", mas caso eu fizesse sem pedir, ganhava sérias consequências. Aprendi rápido essa lição, mais do que gostaria.

A pior parte da inferninha é que o vento entrava por debaixo da mesma, mas era melhor do que sentir frio de todas as direções. Nunca estive tão agradecia por ter esses panos.

Fecho os olhos tentando me forçar a dormir, mas meus pensamentos vão para minha antiga "casa", já fazem quase um ano que estou longe, será que pensavam em mim? Mesmo que fosse para cozinhar algo ou... qualquer coisa? Como será que estava Lyli?
Imaginando como eles estavam, eu agarro no sono sem perceber.

- Vamos inútil! Acorde! - Ele bate na porta do lugar, já nem acordava mais assustada, já me acostumei a toda essa violência pela manhã.
- Aqui! Dê comida para os porcos! Irei caçar. - Ele diz, levantando-se do chão, saio da inferninha olhando para dois baldes, um deles havia uma mistura de comida, o outro tem milho em farelo.
- Ah, e dê para as galinhas também, ficam atrás de onde os porcos ficam. Está na hora de trabalhar de verdade!. - Ele diz e arruma a espingarda no ombro.

O observo virar as costas. Esta usando uma bota alta e uma blusa de manga longa, um casaco e também um chapéu, além das calças da mesma cor marrom do casaco.

Faço o que ele mandou e caminho quase aos tropeços até onde os porcos estão. Passo pelos cavalos e assim que abro as portas o cheiro de lama chega ao meu nariz. Jogo a comida em um grande vaso de madeira e logo eles se aproximam, não eram muitos, 4 no total, contando com os dois filhotes. Acho que eram recém nascidos, meus olhos brilham e baixo-me, ficando de cócoras.

Observo eles a comer e assim que terminam, um dos filhotes funga, vindo em minha direção. Não me importo muito com a sujeira e faço um leve carinho na sua cabeça, ele faz o seu barulhinho característico e eu gargalho, achando-o terrivelmente adorável. O porquinho levanta a cabeça procurando por mais, mas eu já havia me levantado.

Não queria imaginar Sr. Aldrik querendo o assar daqui uns meses, e me forçar a tratá-lo. Meus olhos se enchem de lágrimas e me recrimino por ser tão boba. Meu período deveria estar perto.

Espanto os pensamentos, tentando focar no que preciso fazer.

Pego o balde agora vazio e o deixo em algum canto do celeiro, antes de pegar o balde com milhos em farelos. Faço o mesmo caminho e passo pelos porcos me segurando para não parar e fazer mais carinho no pequeno porco.

Ponho o milho para as galinhas e pela primeira vez as vejo, meus pais criavam muito poucas e meu pai quem cuidava delas, ele dizia que eu era inútil para tarefas que eram para homens.

Algumas delas cacarejam assim que acabam de comer e escuto uns "piu" bem baixinho. O som vinha mais alto de uma das galinhas e eu me aproximo. Tinha medo de algumas delas me bicarem, já corri de algumas quando eu era criança. Achava os pintinhos fofinhos de mais para que me contentasse só olhando. Rio-me com a minha memória desbloqueada.

Surpreendentemente a galinha de penas avermelhadas me deixa aproximar a mão, um pintinho sai debaixo dela e olha para os meus dedos e dá uma pequena bicada. Seguro a risada para não assusta-lo com o som. Ele era muito lindo e pequeno. Depois ele volta para debaixo dela e aproveito a deixa para sair o lugar.

Ainda precisava fazer o almoço. Sr. Aldrik com certeza voltaria com fome.

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Muito grata a quem me ajudou, seja com alguma quantia ou um pouco do tempo e escreveu algo nos comentários me desejando coisas boas para que as coisas melhorem, gratidão de verdade. Quero sempre estar aqui retribuindo com atualizações. Obrigada por me acompanharem e gostarem dos meus livros!

A L D R I KOnde histórias criam vida. Descubra agora