27. NÃO

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Com o passar do tempo, elas perceberam que, embora muitas decisões e angústias encontrassem soluções, nem sempre as respostas eram positivas, pois tudo dependia da perspectiva de cada um.

Tudo que elas não tiveram a oportunidade de ter no passado agora estão tendo; não é todo dia que a vida sorri assim. Para Luiza, era mais fácil a decisão de ter um filho, ou mais, mas para Valentina, não. E talvez isso nunca mais fosse acontecer naquela vida, pois já haviam se passado dias, semanas, meses...

Cinco anos depois.

A matéria daquele jornal, naquele dia, surpreendeu Valentina, que correu para o escritório onde Luiza estava lendo alguns processos, a fim de pô-la a par do que estava acontecendo. Mas, para Luiza, não foi algo tão surpreendente.

- Amor - Valentina entrou afobada, sem bater na porta. Já estavam acostumadas a essa rotina; nenhuma das duas se importava. - Veja isso.

Luiza mudou o foco dos olhos, mas, antes de olhar para o que sua mulher tinha em mãos, a admirou atentamente. Trinta e oito anos, alguns fios de cabelos brancos já apareciam aqui e ali, que, quando a mulher de olhos verdes encontrava, surtava e corria para arrancá-los. "Ainda era nova demais para parecer velha" era o que dizia para Luiza, que apenas sorria para sua mulher. Por sorte, ou mero acaso, Luiza não tinha um sequer.

Sorriu para Valentina, tão cedo e já com fofocas em mãos. Todo dia Valentina lia a coluna de fofocas do jornal local; Luiza achava tosco e, se fosse com ela, já teria ganhado uma porção de processos por tanta calúnia e difamação naquele pequeno espaço de no máximo 100 palavras.

- Vamos, amor. Pare de me olhar feito uma boba - sorriu, pois sabia o que sua mulher iria responder.

- Boba sim, uma boba apaixonada por ti. - Sorriram juntas. Luiza estendeu, por fim, a mão e pegou o jornal, sem tirar os olhos de sua mulher. - Qual calúnia temos aqui hoje? - perguntou, mas não esperava uma resposta verbal de sua mulher. Era retórico. Focou os olhos nas letras em itálico, já sorrindo com o título.

Bárbara Bittencourt, ladra de esposas?

Nem leu a coluna inteira, já sabia do que se tratava o restante.

- Dessa vez esses desocupados acertaram. Ainda que esse título seja um tanto quanto tosco, isso é quinta série? Como se leva a sério essa coluna? - revirou os olhos.

- Você já sabia? - Valentina perguntou curiosa.

- Sim, ela me confidenciou há anos. Achei que demorou bastante pra bomba explodir. - Passaram-se segundos em silêncio. Valentina tinha agora um bico nos lábios e os braços cruzados. - O quê?

- Você sabia dessa fofoca e não me contou, Luiza?

- Amor, isso é coisa pessoal dela, eu nunca mais soube de nada, não falamos muito sobre essas coisas.

- Mas eu queria ter sabido antes. Poxa.

Parecia uma criança mimada, e Luiza a amava cada vez mais. Soltou um suspiro e puxou sua mulher para seus braços, fazendo com que ela se sentasse nas pernas de Luiza.

- Desfaz esse biquinho - pediu, roçando o nariz no pescoço de Valentina, que tentou ser irredutível, mas seu pescoço era um maldito ponto fraco.

- Isso não vale - sibilou, já se rendendo e amolecendo nos braços de Luiza.

- Não vamos focar nisso, meu amor. Vamos torcer para que tudo dê certo entre elas, hum?! - começou uma sequência de beijos molhados pelo pescoço de Valentina, que se ajeitou no colo de Luiza e enfiou os dedos de uma das mãos nos fios de cabelos da nuca de Luiza, dando mais liberdade para que ela seguisse com aqueles beijos e demonstrando que gostava ao puxar com carinho aqueles fios. A outra mão se agarrou ao ombro de Luiza. Arfou quando sentiu uma leve mordida em seu ponto de pulsação e uma mão boba de Luiza adentrar por sua blusa e apertar seu peito coberto pelo sutiã.

VOCÊ AINDA É TUDO - VALUOnde histórias criam vida. Descubra agora