1º FASE - Capítulo 15

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Milena estava concentrada em secar as louças, o som suave da água escorrendo e o pano deslizando sobre a superfície dos pratos a mantinham em um estado quase meditativo. O trabalho repetitivo era uma maneira de desviar seus pensamentos, de afastar, mesmo que temporariamente, as preocupações que a assombravam. Porém, seu foco foi abruptamente interrompido pela entrada repentina de Carolina na cozinha.

— Chegou isso aqui para você. - disse Carolina, a voz um tanto apressada, enquanto avançava em direção a Milena.

O barulho repentino e a presença inesperada fizeram Milena soltar um pequeno grito de surpresa, quase deixando a louça cair de suas mãos. Com o coração ainda acelerado pelo susto, ela se virou para ver Carolina estendendo-lhe uma carta.

Milena franziu o cenho, intrigada. Ela colocou a louça de lado, limpando as mãos rapidamente no avental antes de pegar o papel que Carolina lhe oferecia. O peso da carta em suas mãos parecia carregar mais do que apenas palavras escritas. Havia algo de inquietante, algo que fazia seu estômago revirar levemente de antecipação.

Ela olhou para a frente da carta e viu o nome de quem a havia enviado.

— É... do Naldo. - O nome escapou de seus lábios em um suspiro quase inaudível, como se o simples ato de dizer aquele nome trouxesse consigo uma carga de emoções misturadas. Havia uma sensação de apreensão no ar, algo que fazia seu coração bater um pouco mais rápido.

Por um momento, ela ficou parada, o papel entre os dedos, sentindo o peso das palavras que provavelmente estavam ali escritas, mas sem coragem imediata para abrir a carta. Carolina observava com uma mistura de curiosidade e preocupação, percebendo a mudança sutil na expressão de Milena.

Carolina observava Milena com um misto de curiosidade e preocupação, percebendo o súbito silêncio que se instalara após a entrega da carta. A pergunta escapou de seus lábios quase como um reflexo:

— Você está bem? - sua voz era suave, mas carregava um cuidado evidente, uma tentativa de romper o véu de tensão que parecia envolver a amiga.

Milena, no entanto, não respondeu. Suas mãos, ainda levemente úmidas da água que usava para lavar a louça, seguravam a carta com firmeza, mas sem pressa. Ignorando a pergunta de Carolina, ela fixou os olhos no papel em suas mãos, decidindo abrir a carta em um movimento lento e deliberado, como se já antecipasse o teor das palavras que ali estavam.

Carolina permaneceu em silêncio, entendendo que Milena não estava disposta a falar. Ela sabia que Naldo era um assunto delicado, algo que fazia Milena se fechar, como se uma muralha invisível se erguesse ao redor dela sempre que seu nome era mencionado. E, naquele momento, Milena parecia envolta nessa barreira, distante e impenetrável.

Ao desdobrar a carta, os olhos de Milena correram pelas linhas com uma mistura de apreensão e curiosidade. As palavras de Naldo, carregadas de uma familiaridade desconcertante, preenchiam o papel com um tom que ela conhecia bem, mas que, naquele instante, soava de forma diferente.

"Milena, meu amor," começava a carta, e Milena sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Aquelas palavras, que outrora poderiam ter trazido algum conforto, agora pareciam mais um peso. "Peço desculpas pelo nosso último encontro, talvez eu tenha me exaltado, de alguma forma..."

Ela parou por um instante, seus dedos apertando levemente a carta, como se precisasse se ancorar em algo. As lembranças do último encontro com Naldo vieram à tona, e Milena precisou de um esforço consciente para afastá-las. Sua mente tentava focar nas palavras, mas o tom delas começava a soar como uma repetição familiar de promessas quebradas.

"...você é a pessoa mais especial que eu conheço," continuava a carta, e Milena sentiu um amargo na boca. Havia algo de irônico naquelas palavras. Era como se ele soubesse exatamente o que dizer para tocá-la, mas, ao mesmo tempo, ela sabia que havia algo de calculado nisso tudo.

Por Outras Vidas - JorlenaOnde histórias criam vida. Descubra agora