1° FASE - Capítulo 24

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Nos últimos dias, Milena e Naldo passaram a compartilhar uma proximidade que antes não existia, uma cumplicidade que cresceu de forma quase inevitável. O clima em sua casa havia se tornado mais pesado com a fragilidade de Dona Santana, cuja saúde oscilava entre dias melhores e outros de preocupação constante. Cada vez que a febre de Dona Santana baixava um pouco, ou que ela conseguia comer sem dificuldade, os dois trocavam olhares de alívio silencioso, quase temerosos de acreditar que o pior tinha passado.

Milena, sempre tão independente, agora se via contando com a presença constante de Naldo ao seu lado. Ele havia se tornado uma âncora, alguém em quem ela podia confiar para compartilhar o peso da responsabilidade. Mesmo quando as palavras não eram ditas, havia uma comunicação silenciosa entre eles; um simples gesto, um olhar, era suficiente para entender o que o outro precisava.

Em meio à rotina de cuidados, momentos íntimos começaram a surgir. No início, eram pequenos detalhes, quase imperceptíveis: um toque de mãos ao passarem uma ao lado da outra na cozinha, o olhar prolongado enquanto ele preparava uma sopa para Dona Santana, ou mesmo o conforto silencioso de saber que ele estava por perto. Cada vez que Naldo a via lutando contra o cansaço, ele se aproximava, oferecendo um apoio silencioso que Milena começava a aceitar com menos resistência.

À noite, quando Dona Santana finalmente conseguia adormecer, os dois se sentavam juntos na pequena sala de estar, muitas vezes em silêncio, ouvindo apenas o som da respiração suave da matriarca no quarto ao lado. Essas horas de vigília se tornaram uma espécie de ritual. Milena, exausta, permitia-se relaxar um pouco, sabendo que Naldo estava ali, vigilante e atento a qualquer mudança no estado de sua mãe.

Por mais que ela tentasse ignorar, Milena começou a perceber o quanto havia se acostumado à presença dele, ao ponto de sentir um pequeno vazio cada vez que ele saía para resolver algo fora de casa. Essa proximidade era ao mesmo tempo confortante e desconcertante, trazendo à tona sentimentos que ela não queria, ou talvez não pudesse, admitir completamente.

Naldo, por sua vez, sentia que algo havia mudado entre eles. O vínculo que compartilhavam agora era mais forte do que antes, sustentado por uma situação difícil, mas também por uma nova compreensão mútua. Ele percebia o quanto Milena se esforçava para ser forte, mas também notava as pequenas rachaduras em sua armadura, momentos em que ela deixava transparecer o cansaço e a vulnerabilidade.

— Milena, vai descansar. - Naldo inclinou-se e depositou um beijo suave em sua cabeça, enquanto se sentava ao seu lado na cadeira junto à mesa, tentando disfarçar a preocupação em sua voz.

— Eu fico pensando... o que devem estar dizendo de mim lá no casarão. Uma criada que praticamente sumiu sem dar explicações. - Sua risada saiu amarga, sem humor, enquanto mexia distraidamente nos dedos. — Talvez eu devesse ir lá e...

— Não! - Naldo interrompeu abruptamente, a tensão em sua voz denunciando o quanto a ideia o incomodava. Ele se recompôs rapidamente, tentando suavizar o tom. — Quer dizer, Milena... olha o estado de sua mãe. Não tem condições de retornar, pelo menos não por agora.

Ela apertou os lábios, refletindo sobre as palavras de Naldo. Ele tinha razão, mas havia algo que a inquietava, algo que a fazia querer retornar, mesmo contra a lógica.

— Você queria falar com alguém de lá? Alguma amiga? Colega? - Naldo tentou sondar, percebendo que Milena estava perdida em pensamentos.

Milena hesitou, as palavras presas em sua garganta enquanto uma imagem invadia sua mente: Jordana. Como ela estaria agora? Será que, em algum lugar naquele casarão, Jordana também sentia sua falta? Será que o coração dela batia com a mesma saudade que agora apertava o peito de Milena?

Por Outras Vidas - JorlenaOnde histórias criam vida. Descubra agora