54 - Depois da tempestade, vem a calmaria.

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                          Devon

Eu ando de um lado para o outro na cela que me abriga. A vontade que tenho nesse momento é de enfiar uma barra desse ferro que me aprisiona bem no peito do desgraçado do Álvaro. Como sempre, ele me persegue. Às vezes, eu juro que me pergunto se fiz a escolha certa naquele dia em não ter matado ele. Quis poupá-lo porque achei que me arrependeria por ser meu meio-irmão. Eu evito até pensar que esse ser é meu irmão; ele adora ferrar com a minha vida.

E agora tenho outro idiota para me atormentar: César, esse outro ser que não presta de jeito nenhum, que teve a ousadia de ir à prisão quando eu estava preso, me enchendo dizendo que tinha beijado Nicole. Naquele dia, eu não tive a chance de bater nele porque, quando fui pra cima, os policiais me impediram. Mas esvaziei a minha raiva dele quando tive o grande prazer de bater nele hoje. Me sinto até aliviado, e daí se pra isso estou sendo trancafiado em uma jaula.

— Só me diz que vou sair daqui logo — resmungo, me sentando para não surtar de vez. A sensação de estar aprisionado de novo não é das melhores; me lembra dos meses terríveis que fui obrigada a ficar preso. Não gosto nem de pensar.  

— Você vai poder sair sob fiança, o advogado está aqui, eu já cuidei disso, irmão. Eles só precisam cuidar da papelada e tudo mais para você sair daqui — Ricky me informa, e me sinto mais aliviado agora.  

— Meus pais não sabem de nada disso? — pergunto, tenso. A minha relação com eles não está das melhores, e eu sei que a última coisa que precisam saber de mim é que fui detido por agredir um ex de Nicole. O meu pai está me delimitando muito na organização; não me deixa fazer mais nada sem a bendita orientação dele. Está no meu pé mais que nunca e, como se não fosse suficiente, até tirou metade dos capangas das minhas ordens que ficavam na minha casa.

Pouco a pouco, ele está me deixando sem poder nenhum. Estou tendo uma prévia de como vai ser a minha vida normal quando largar isso de vez. Bom, não sei se vou me acostumar, mas aí eu penso na Nicole e na minha filha, então tudo isso vai valer a pena no final.  

— Onde está a Nicole? — questiono, preocupado. Ela saiu daqui tão irritada, nem a culpo. Mais cedo, eu estava como um louco ciumento. Eu fui idiota, eu sei, mas só de ver aquela cena dela com aqueles dois, não consegui ter sangue frio para aquilo. Nem sei se algum dia serei capaz de ter isso. A única coisa que tenho em mente é consertar as coisas com ela.  

— No carro. Eu disse que poderia levá-la pra casa, mas ela disse que só sairia quando você saísse, então não pude fazer muita coisa — comunica ele.

Isso me dá um pouco de conforto saber que não foi embora e me deixou aqui sozinho, que se preocupa comigo apesar de tudo. Porém, ela não deveria estar aqui, grávida, e já é noite; devia estar em casa, deitada. Agora, a culpa me atinge porque fui eu que a coloquei nessa situação. Caramba, meu único dever era proteger ela e a minha filha, mas como posso fazer isso quando me descontrolo e paro em uma cela, a deixando atormentada? Eu sou péssimo. 

Passo a mão no rosto, soltando um suspiro frustrado. 

— Os seguranças ao menos estão perto delas? 

Ricky faz que sim, uma expressão de compreensão toma o seu rosto. 

— Relaxa, que ela tá segura, mas cara, você tem que aprender a se controlar e a usar outros métodos de fazer esse cara pagar por ter mexido com a sua esposa — percebo a insinuação dele, os métodos da máfia, mas eu prometi pra Nicole que mudaria, e mesmo que eu sinta que esse César não é nenhuma flor que se cheire.

Acordo PerigosoWhere stories live. Discover now