02. A abordagem - Parte 2

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O encontro com Christopher von Uckermann foi mais satisfatório. Pedro marcou com ele em uma cafeteria próxima à casa do artista. "Não te convido para vir aqui, porque não teremos sossego", Ucker havia dito, referindo-se à bagunça feita pelos seus quatro filhos. Melhor assim. Pedro também não tinha paciência para crianças - a não ser que elas estivessem lotando estádios para ver seus produtos.

De qualquer forma, Ucker chegou à cafeteria com um menininho pendurado nas costas, como se fosse uma mochila. Pedro se levantou para cumprimentá-lo e não sabia como agir com relação à criança descontextualizada. A ideia não era deixar os meninos em casa?

- Seu filho?

- Não sei. - Ucker respondeu - Diz oi para o tio Pedro.

- Oi, tio Pedro. - o menino era gracioso.

- A mãe dele entrou na Justiça para o reconhecimento de paternidade e ainda faremos o teste de DNA. Mas eu já me apeguei a ele. Mais um, menos um. O trouxe porque daqui a pouco ela vem buscá-lo.

- Uau. Cinco filhos!

- Cinco? Não! São sete. Com ele, oito. Quatro são os que moram comigo. Os outros estão com as mães.

Eles riram. Ucker sempre fora mulherengo. Era um destino previsível, esse.

- O que você tem feito? - Pedro sabia que ele estava há três anos afastado da TV e vinha se apresentando em festas trash e em lonas de circo. Mas queria ouvir isso da boca do Ucker antes de fazer a proposta. Para que o retorno do RBD fosse mais tentador, em contraste. Quando Ucker confirmou as informações, ele inseriu o tema. - Eu estou pensando em promover um reencontro do RBD por causa dos dez anos do fim do grupo. Você toparia participar?

- Tem dinheiro envolvido?

- Claro. Vocês todos vão lucrar bastante.

- Então é óbvio que eu topo. Tenho sete, ou oito, bocas para alimentar.


Christian era um caso à parte. Ele sempre disse em entrevistas que aceitaria voltar ao grupo, então era mais uma questão de oficialização. Mas ele tinha tentado o suicídio pela segunda vez há um mês, e Pedro não sabia se era adequado aparecer falando de trabalho. Mesmo assim, tentou. Foi à casa dos pais do cantor, com quem ele estava morando desde que saíra do hospital. Caso interesse, a quase-morte dessa vez havia sido por afogamento no vaso sanitário.

- Como você está, Christian? - Pedro perguntou, sentado com ele e sua mãe na sala de estar.

- Estou bem. Só assim para você aparecer, né?! - ele riu e Pedro deu um sorrisinho constrangido. Provavelmente, era essa a intenção da declaração: causar constrangimento. Pedro relevaria, afinal Christian tinha depressão.

- E você está tomando os remédios direitinho?

- Toma, porque eu mesma dou. - a mãe se intrometeu.

- Isso é bom. É bom ter o apoio da família nessas horas. - Pedro não tinha ideia de como falar sobre o RBD naquele clima. Talvez fosse melhor deixar para outro dia. Sentado ali, ele considerava essa hipótese: voltar depois para falar sobre o assunto. Não parecia ser o momento adequado.

- Hum... Na verdade, é um saco ficar em casa sem fazer nada. Eu quero voltar a trabalhar. Se você tiver algo para mim, vou adorar. - Christian disse e o rosto de Pedro se iluminou. Ele olhou para a mãe de Christian, como que buscando concordância, e ela assentiu. Estava a favor do filho trabalhar. Ótimo.

- Christian, eu realmente tenho algo para você. É por isso que eu vim aqui.

- Milagres acontecem! Sabia que eu não tinha sobrevivido à toa! - brincou.

A mãe deu um tapa nele, desaprovando o humor negro.

- Você quer voltar para o RBD? Vou trazer o grupo de volta.

Christian abriu a boca em espanto, mas era um espanto sorridente. Incrédulo de felicidade, talvez.

- Se eu quero voltar para o RBD? É tudo que eu mais quero! Nunca queria ter saído!


Dulce Maria havia sido deixada por último não por acaso. Ela era a única com quem Pedro continuava trabalhando desde o fim do grupo. Ele conduziu a carreira solo dela ao longo dos quatro álbuns que ela lançou. Obviamente, ela nunca conquistou sozinha o patamar do RBD, mas deu para levar a vida, graças principalmente aos shows na América Latina, que ainda a tratava como uma grande estrela sempre que ela iniciava uma turnê. Os dois tinham um contrato, então Dulce era quase obrigada a fazer o que ele mandasse, incluindo a volta do grupo. Ele sabia que ela era contra, mas teria que fazer de qualquer jeito. Então, ao contrário dos outros, não era uma questão de convencimento. Era mais jogar a bomba no colo dela.

Os dois se encontraram no escritório dele, como tantas outras vezes. Ela certamente não imaginava que o assunto seria esse. Pensou que eles falariam sobre um convite para uma novela - algo que ele havia ficado de estudar se valia a pena. Ela preferia cantar a atuar.

- Dulce, a gente tem que fazer algo aproveitando o gancho dos dez anos do fim do RBD.

Ela fez uma cara de quem não entendia.

- Eu vou trazer o grupo de volta para uma comemoração. Vou sentar com vocês e discutir o que é possível e viável de fazer neste ano. Mas vai ter algo. O retorno vai acontecer.

Ela estava calada. Não sabia o que dizer.

- Anahí, Christian e Christopher já aceitaram. Com você, são quatro. Faltam só Poncho e Maite. Mesmo que não topem, com quatro dá para fazer algo. Não tão grande quanto se fossem cinco ou seis, mas algo.

- E meu disco?

- O que tem seu disco?

- O ciclo de vida dele. Eu lancei apenas um single. Fiz poucos shows. Vou deixar de lado o álbum atual para participar desse projeto retrô? As pessoas vão achar que o disco foi um fracasso.

- Não deixa de ser.

- Não foi! Ainda estamos no início da divulgação, você mesmo disse.

- Bem, Dulce, o RBD nesse momento é prioridade. Com sorte, seu disco se beneficia desse retorno também. Nunca se sabe.

- Ai... Isso vai ser muito constrangedor, esse retorno. - ela sabia que era obrigada a fazer e não adiantava resistir, mas não dava para fingir que gostava da ideia tampouco.

- Não vai não. Vai ser épico.


Begin Again - O Reencontro do RBDWhere stories live. Discover now