Anjos e Demônios - O filho de Lúcifer

Capítulo 5 - O traidor

Lucien abriu os olhos, a visão um pouco turva e as lembranças da madrugada vindo em fragmentos, até se complementarem e ele se lembrar: havia transado com Ruthie. Soltou um longo suspiro e se sentou, não era intenção dele, mas aconteceu. Tirou a coberta de cima de si e levantou, vestiu apenas a cueca e a calça, já que a camisa estava rasgada.
Ele saiu do quarto e desceu as escadas, ficou surpreso ao ver que o Porsche não estava mais no meio da sala e estava quase tudo arrumado.
- Cara, você não sabe vestir uma camisa? - Julian perguntou, saindo da cozinha.
- É... - Lucien coçou a cabeça, que desculpa poderia dar? - quando eu percebi que você foi possuído, tentei lutar com o demônio, aí isso causou um rasgo na camisa...
- Já falei que você mente muito mal? - ele perguntou, num tom irônico - enfim, obrigado por terem me salvado. Ruthie o exorcizou?
- Não. - a voz de Ruthie surgiu, ela estava saindo do porão - o demônio me matou, aí o heroizinho teve a brilhante ideia de fazer um pacto.
- Apenas os demônios superiores podem fazer um pacto - Julian falou - ele disse quem era?
- Foi você que ele possuiu, não lembra de nada? - ela perguntou.
- Só lembro de ver o Lucker na escada, e... - ele parou por alguns segundos, como se estivesse forçando a memória - mais nada, então acordei aqui. Saí do quarto para descobrir onde estava e o Lucien fez o maravilhoso favor de dormir nu.
- Dormir não é exatamente a palavra - Ruthie murmurou - enfim, falei com a Kyra a algumas horas, ela disse para irmos ao sul, o mais rápido possível.
- Mas ainda tem aquela horda de demônios na fronteira da cidade, nos esperando. - relembrou Julian.
- Vamos mata-los - Lucien falou.
- Eu e Julian poderíamos passar facilmente por eles - Ruthie respondeu - se não tivéssemos que nos preocupar em manter você vivo.
- Então o problema sou eu? - ele perguntou - vocês não vão ter que se preocupar comigo, aprendi a lição, fala menos, mata mais.
- Mas... - começou Julian.
- Se ele diz que está pronto - Ruthie interrompeu - vamos, temos muito a fazer.

***

Eles estavam no carro de Julian, dirigindo para fora da cidade, e por mais que o carro fosse de Julian, quem estava dirigindo era Ruthie, Lucien no banco de trás e Julian no passageiro.
- Não podemos matar os demônios de Sahad - Lucien falou - não antes que eu interrogue todos.
- E você espera que eles tenham uma coleira escrito "Somos #TimeSahad"? - Ruthie perguntou.
- Seria realmente bom - ele concordou - então... Vocês não sabem mesmo quem são meus pais verdadeiros?
Ruthie e Julian se entreolharam, então ele falou:
- Não, não sabemos.
- E se Sahad...
- O mundo não gira em torno de Sahad, sabia? - Ruthie falou impaciente, mas num tom debochado - você vai ter sua vingança, lindinho. Mas quando puder enfrentar ele.
- E até lá eu fico assistindo a ele e Lúcifer destruírem o planeta?
- Não precisa assistir, só esperar. - ela ironizou - os anjos não podem vencer essa guerra.
- Então é uma guerra perdida? - Lucien perguntou - por que você é tão pessimista?
- Você acha que se Lúcifer pudesse simplesmente destruir a Terra e todos já não teria feito? Ele estava preso, apenas um anjo poderia liberta-lo...
- Então tem um anjo traidor. - Lucien concluiu.
- É a única explicação, a profecia dizia que Lúcifer só poderia ser libertado caso um anjo traísse Deus, aconteceu.
- Que maravilhoso, mas isso ainda não explica como a guerra já pode estar perdida.
- Porque apenas um dos 5 anjos do conselho de Deus teria tamanho poder pra isso. - Julian disse.
- E quem são?
- Draco, Kyra, Luther, Zacharias e Ariel. - ela respondeu.
- Espera... - Lucien falou, tendo uma ideia - e se aquele demônio queria que eu matasse Draco justamente por ele ser o traidor? E se ele fosse do bem.
Ruthie caiu na gargalhada, perdeu o controle do carro e por pouco não saíram da estrada, mas Julian segurou o volante.
- Um demônio bom? Você realmente acredita nisso? - disse ela, se acalmando - na verdade, deve ser o contrário.
- Como assim? - os dois perguntaram ao mesmo tempo.
- E se Draco for quem sabe quem é o traidor? Ou ao menos suspeita? Por isso o demônio o quer morto. Para não falar nada. - Julian concluiu antes de Ruthie completar.
- Exatamente. - ela confirmou - você não vai mata-lo, Lucien.
- O que? Como não? Claro que vou.
- Não, não vai. - Ruthie respondeu - ele é um anjo bom, você tem que matar o traidor.
- Mas por que eu? Não tem os outros anjos pra isso?
- Apenas porque sim. Não quero discussão.
- Não vou deixar você morrer.
- Os dois podem deixar a DR pra mais tarde? - Julian perguntou.
Quando os dois olharam pra ele, soltou uma risada.
- É, eu sei que transaram. Na verdade tava óbvio, você acordou com o cabelo todo molhado e bagunçado, sem contar a camisa rasgada.
De repente, algo acertou o carro, fazendo o mesmo voar no ar dando várias cambalhotas enquanto quicava no chão, até parar a algumas dezenas de metros, de cabeça pra baixo e pegando fogo.
- Lucien... - Ruthie sussurrou - Julian...
- Eu... estou bem. - Lucien respondeu, tossindo um pouco. Ele começou a chutar a porta - droga, não abre.
- Lembra que você tem poderes e não é um humano inútil. - ela sussurrou.
Lucien continuou chutando a porta, o fogo começava a se espalhar.
- Lucien... - chamou Ruthie, a voz estava quase inaudível.
Ele fechou os olhos e se imaginou arrebentando a porta, chutou novamente e ela voou a dezenas de metros, em pedaços. Ele saiu do carro e deu a volta no mesmo, tropeçando e quase caindo. Arrancou a porta do banco do motorista e puxou Ruthie, ela tinha um corte que ia da testa passando pela bochecha esquerda até os lábios.
- Ruthie... - ele sussurrou e a deitou no chão. "Correu" até o lado de Julian e arrancou a porta. Mas o fogo se alastrou de súbito, fazendo Lucien se jogar pra trás. Ele voltou e arrancou o cinto de Julian, tirou o mesmo do carro e caiu com o amigo por cima. Os três estavam muito próximos do carro, quando explodisse todos morreriam, e Lucien não teria tempo de afastar ambos a tempo.
- Julian... - ele chamou, mas não respondia - acorda.
Lucien saiu de baixo de Julian e se levantou, por algum motivo sua perna esquerda doía muito, mas não podia se preocupar com isso agora.
- Por favor, funciona. - ele pegou Julian pela camisa e fechou os olhos, então jogou o mesmo o mais longe possível, abriu os olhos e Julian estava flutuando no ar. - você vai me perdoar.
Ele "correu" até Ruthie, o fogo tinha consumido o carro por completo, ia explodir a qualquer segundo. Se agachou em frente a ela e a pegou no colo e fez a primeira coisa que passou em sua cabeça: correu.
Ele correu 10 metros antes do carro explodir e lança-los longe, Lucien estava quase desmaiando, mas sem soltar Ruthie, ele caiu no chão com ela por cima, mas acabou soltando quando começaram a rolar no asfalto. Lucien estava a poucos centímetros de Ruthie quando parou de rolar, ela estava coberta de sangue, da cabeça até os pés, mas por sorte o sangue não era só dela. Ele olhou para si mesmo e viu a camisa que Julian lhe emprestará coberta de sangue e vários cortes em seu peitoral.
A única explicação que encontrou para não ter sentido dor foi a adrenalina, sua calça também estava destruída, Ruthie e Julian não deviam estar diferentes.
Julian.
Ele se lembrou e ficou preocupado, torceu para que o amigo estivesse bem, mas tinha uma coisa que faltava... Quem havia jogado o carro para tão longe? Por hora não podia se dar ao luxo de ter mais uma preocupação.
- Ruthie... - ele pôs uma mão sobre ela e a balançou o mais gentilmente possível - acorda, por favor.
Ela resmungou levemente e abriu os olhos.
- O que aconteceu?
- Algo jogou o carro pra fora da estrada. - ele respondeu - não sei o que e nem quero saber, por pouco o carro não explode antes e nos mata.
- Cadê o Julian? - ela perguntou, sem agradecer mais uma vez.
- Eu... o joguei pra longe do carro. - ele suspirou - vamos achar ele.
- Acho que não, Lucien Adkins. - falou uma voz grossa.
Lucien se virou e viu um demônio com uns dez metros de altura e quatro braços.
- Será que não pode ficar pior? - ele murmurou.
Ao longe, dezenas de demônios e "humanos" apareceram, indo em direção a eles.
- Foi uma pergunta figurada. - ele resmungou.