Perséfone

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Diferente das outras deusas Perséfone cresceu longe do olhar dos olimpianos. Tamanha era sua beleza que invejava a própria Afrodite. Sua mãe a ensinara que no campo tudo era mais fácil, conviver com a natureza era algo maravilhoso. Perséfone amava aquele lugar isolado do mundo turbulento a sua volta. Haviam muitas coisas que nem sua mãe se atrevia a contar ou ao menos poder explicar o porquê de suas vidas serem tão diferentes dos demais deuses.

Se Perséfone era filha de Zeus o rei do Olimpo não seria ela princesa ou algo do tipo?

Ela nunca havia visto seu pai, nem uma vez se quer. Na verdade a única divindade elevada como um olimpiano que Perséfone já vira era sua própria mãe.

Às vezes ela chegava a imaginar-se como alguém tão elevada, mas via como sua mãe era responsável e séria com suas responsabilidades e pensou que jamais poderia chegar a ser alguém assim.

O campo a confortava de seus pensamentos. Os ventos traziam os perfumes das flores que tanto Perséfone gostava, afinal de contas ela era a deusa da primavera, ela fazia parte das flores. Os majestosos rios que haviam ali faziam parte de sua diversão e parte do que também anestesiava suas dúvidas e deveres que tornavam sua vida apenas mais entediante.

Mas nem os ventos, as flores e nem mesmo os rios diminuíam sua vontade obsessiva de conhecer o mundo e os outros demais deuses.

Perséfone queria ser diferente, queria ser lembrada e amada. Perséfone sabia que nascera para fazer algo maravilhoso. Ela sentia que na hora certa tudo mudaria.

____Ah, graças aos deuses consegui encontrá-la! ____gritou Deméter com um certo alivio na voz.

Perséfone encarava a mãe vindo da floresta que a um tempo atrás estava as suas costas.

____Mãe eu avisei a senhora que eu viria até o lago das ninfas. ____murmurou Perséfone indo ao encontro da mãe. Deméter fez uma careta de insatisfação com a resposta da filha.

____Venha não irá demorar para a noite cair. Não gosto de saber que você anda sozinha tão longe de casa. ____esbravejou Deméter. ____Tenho medo que algo de ruim possa acontecer.

____Não fique tão preocupada mamãe. Já tenho noção de que devo me cuidar quando estou caminhando para longe de casa.

A pequena casa que havia no meio dos campos de trigo abrigava as duas deusas. Perséfone sentia-se segura ao passar pela porta ou só apenas ao ver a ponta do telhado da casa.

____Quero que tome um bom banho, vá comer algo antes de ir para a cama. Amanhã iremos até o Olimpo, seu pai Zeus quer conhece-la e apresenta-la aos demais deuses. ____contou-me ela. Seu sorriso ajudava a esconder um terço da tristeza que havia em seus olhos.

____Mãe aconteceu algo enquanto eu estive fora? ____perguntou Perséfone.

____Eu apenas estou cansada, querida. Não há com o que se preocupar.

Após o banho, Perséfone sentou-se a mesa da cozinha com a mãe. A casa era simples, mas com um toque feminino bem sofisticado. A cozinha era pequena com duas das paredes ocupadas pelos moveis brancos que toda a cozinha tem, uma mesa de mármore de centro onde as se encontravam sentadas e por fim uma janela acima do fogão a gás coberta por uma cortina verde.

____Por que eu nunca pode conhecer os outros deuses? ____perguntou Perséfone na pausa de um gole de chá.

Deméter pareceu ficar nervosa diante da pergunta.

____Querida como você está pálida, como mais cereal! ____enrolou Deméter.

____Mãe para com isso, eu já não aguento mais comer cereais. ____resmungou Perséfone. ____Agora deixe de enrolação e conte-me logo.

____Escute aqui mocinha eu sou sua mãe e você não tem o direito de mandar em mim. ____disse Deméter com um tom grave na voz.

____Esqueça vou dormir. Não aguento mais. ____choramingou Perséfone.

Saiu correndo para o quarto mal ouviu quando sua mãe a chamara. Trancou-se no quarto. E chorou até pegar no sono.

Na manhã seguinte Perséfone acordou com os olhos inchados. Destrancou a porta para que o castigo que levaria não fosse tão feio.

Sentou-se na beirada da cama e passou a observar o quarto.

Completamente rosa e branco, a muitos anos o quarto era assim. O quarto de uma criança de 10 anos e não o quarto de alguém que fazia 16 anos no momento.

Às vezes Perséfone se deparava com perguntas que surgiam do nada e mudavam a todo o instante, por exemplo por que sua mãe ainda a tratava como uma criança.

A sua criança.

Uma única batida na porta fechada de seu quarto a fez voltar ao mundo real.

____Querida sou eu. ____disse Deméter.

____Entre, por favor. ____pediu Perséfone.

Sua mãe também parecia abalada, mas seus lábios envolviam-se em um sorriso que ofuscava sua dor.

Perséfone levantou-se da cama indo abraçar a mãe. Esse era o lugar preferido de Perséfone até mais que os campos e os ventos ou até mesmo seu precioso lago das ninfas, sua mãe a confortava de seus tormentos mesmo tendo tantas brigas e magoas entre elas. Mas desta vez Perséfone sentiu algo diferente. O abraço não era mais protetor ou carinhoso, ele era triste e demorado como se as duas estivessem se despedindo uma da outra.

____O que houve, mamãe? ____desesperou-se Perséfone.

____Nada, minha querida. Eu apenas estou emocionada por você ser tão bela e graciosa, você é tão desejada Perséfone. Apenas prometa-me que se recusará dos demais deuses e escutará seu coração quando for a hora certa. ____disse sua mãe.

____Se for de seu agrado é o que farei a senhora sempre tem razão. ____prometeu Perséfone.

____Querida sei que é pedir muito, mas jure para mim que escutará o seu coração?

Perséfone apavorava-se por dentro de si, temia que algo de ruim acontecesse com a mãe. Mas no entanto se seguisse o seu coração como sua mãe acabara de falar tudo ocorreria bem.

____Mãe eu juro pelo sagrado rio Estige que escutarei meu coração quando for a hora. ____jurou Perséfone. ____Mas agora preciso que ajude-me com meu figurino mãe!

Deméter soltou uma pequena risadinha e isso pareceu bastar para que as duas se entretecem.

A mais ou menos uma hora depois, Perséfone estava perfeitamente belíssima. Sua mãe a dera de presente um vestido rosado com flores brancas e roxas presas nas proximidades de sua cintura, elas faziam com que tudo ficasse mais suave, a saia do vestido caia em babados leves até deus pés. Seu rosto era coberto por uma fina camada de sabe e pós. Seus olhos apenas levavam um pouco de rímel e brilho, já seus lábios levavam com sigo um batom vermelho sangue que realçava seus olhos verdes. Seus cabelos estavam presos em um coque de tranças delicadas, Perséfone achou exagero de sua mãe.

Mas ela sentia-se bonita.

E talvez isso bastasse.


O Rapto de PerséfoneOnde histórias criam vida. Descubra agora