Amor

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Se houvesse um reinado para maus encontros, com certeza eu seria a rainha deles. Já perdi a conta de quantos caras idiotas com quem já sai, e o pior, nunca aprendo, pois continuo a insistir. "Procure seu príncipe na internet", alguém me disse meses atrás, infeliz da hora em que eu ouvi.

Nada tenho contra a internet e bato palmas para quem achou seu amor através dela. Mas, namoro via internet é como moda alternativa: não cabe para todo mundo. Sim, sou uma dessas pessoas para a qual a moda alternativa não fica bem, posso dizer o mesmo quanto a relacionamentos virtuais: não se encaixam em meu perfil.

A parte virtual, diga-se de passagem, é a melhor. Tudo corre extremamente bem. Mas, quando parte para o pessoal, a coisa simplesmente desanda. Acho que sei o motivo: na minha teoria, a internet pula a fase do encantamento. Uma boa paquera começa na troca de olhares, no mútuo interesse. Bem diferente da internet. Não consigo sentir-me atraída por uma foto ou, na melhor das hipóteses, por uma imagem de câmera. Acho muito antinatural. Não só as fotos, que são sempre as melhores, independente de terem sido tiradas cinco anos antes da conversa, mas também a postura mecânica diante da câmera.

E a conversa? Meu Deus, posso ser chata, mas será mesmo que só eu quem acho que algumas perguntas jamais seriam feitas em uma conversa cara a cara?

Em todo caso, eis me aqui. Pelo menos o Humberto, que prefere ser chamado de Betão, sim ele gosta de superlativos pelo que eu entendi, escolheu o restaurante caro de um hotel muito conhecido aqui do centro.

Ele não é o Brad Pitt que me mandou pela foto, mas também não é feio. Apenas escolheu uma daquelas fotos de anos atrás. Mesmo que a aparência não seja desagradável, ainda assim, há algo que não está batendo. Apesar de ter trinta e cinco anos, o homem se comporta como se tivesse na casa dos vinte. É um surfista em uma cidade que não tem praia. Tudo bem, nada contra os surfistas, mas bem, isso ele me disse agora, aqui, como sua profissão.

- Está brincando, não é? – pergunto, não tentando parecer tão preocupada quanto estou, após um generoso gole de vinho.

- Não. Estou em busca de um patrocínio – responde naturalmente e ignora a minha expressão incrédula. Estou um pouco espantada, porque pelo que me consta ele deveria ser mais novo para estar começando e deveria, também, ter me dito isso antes. Porém, a culpa é minha. Essa foi a segunda informação que fiquei sabendo em cima da hora. A outra era que ele não tinha carro. Não sou movida a álcool e até aceitaria o argumento de que ele é uma pessoa que respeita a ecologia, se ele não tivesse me pedido, assim que soube que eu sou uma pessoa politicamente incorreta, para apanhá-lo. Como é que alguém que não tem carro, para não poluir o ambiente, pede à pessoa que o tem, no caso eu, para apanhá-lo em casa? Ainda não compreendi. Discordei de apanhá-lo em seu endereço, até por motivos de segurança e o encontrei em uma estação de metrô. Era o começo da noite, não me zangaria por isso, mas deveria ter ficado alerta.

Estar solteira é uma droga. Você acaba caindo em armadilhas como essa: encontros ruins às sextas-feiras à noite.

Além do Humberto, ops Betão, ainda morar com os pais, ele troca a todo minuto o meu nome. Marcou para jantar com a Susana, mas toda hora me chama de Silvana. Parei de corrigir, após a terceira vez. Será exatamente Silvana que assinarei no telefone errado que pretendo lhe passar ao fim da noite.

A comida chega e é um alívio. É muito boa e com a boca cheia não precisamos falar. Logo, não pode piorar, não é verdade?

Engano. Sempre pode piorar. Uma noite ruim tem a chance de se transformar em péssima. Como diria a lei de Murphy, se algo pode dar errado, então dará. É exatamente isto o que está acontecendo agora.

Hotel dos Corações PartidosWhere stories live. Discover now