Feios

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- Acha realmente que aqui é um bom lugar para comer cachorro-quente? – Arthur provocou a irmã mais uma vez e a adolescente deu de ombros, para dizer que não ligava.

- Você viu em algum lugar escrito que era proibido? – Adma perguntou e deu uma boa mordida, saboreando. Estava acima do peso e havia prometido a si mesma que este ano mudaria seus hábitos alimentares.

- Pelo amor de Deus! Quem é que come cachorro-quente à beira da piscina? – o rapaz questionou indignado – Qual vai ser a dieta do mês? Se eu a ouvir reclamar do peso...

- Deixe de ser chato, Arthur! – a garota o interrompeu – Estou na espreguiçadeira, entendeu. Se fosse proibido comer aqui, os garçons não serviriam nada, não é mesmo gênio?

- Estou cansado de ouvir sua ladainha sobre peso, balança e dieta – o rapaz levantou-se – E já perdi meu tempo falando algo que nem está escutando.

- Não sou como você, Arthur, com seu culto ao corpo...

- Ah isso não é mesmo. Se não me dissesse, jamais perceberia.

- Seu mal é que pensa demais no corpo e esquece do cérebro - zombou.

- Bem, pelo menos eu posso usar sunga, bem diferente de você que tem a coragem de descer usando esse maiô do tempo da vovó – devolveu e teria continuado se seus olhos não fossem atraídos para o casal que surgia do outro lado da piscina.

Adma também os avistou e sentou-se imediatamente na espreguiçadeira, finalmente largando o restante do cachorro quente, envolvendo-o em um guardanapo e o escondendo atrás do corpo. Chegou a procurar o celular, mas ele havia ficado no quarto, sem bateria:

- São eles! Meu Deus, quando contar para as garotas que estávamos no mesmo hotel que o casal mais quente do momento, vão pirar! Como queria estar com o meu celular agora!

- Ainda bem. Caso contrário, conseguiria que fôssemos expulsos daqui, aí queria ver a explicação que daria para os nossos pais. A nossa mãe está super empolgada com essa viagem... – o rapaz parou, como hipnotizado, olhando a atriz Mariana Sá caminhando de mãos com o namorado, um cantor de música sertaneja, simplesmente idolatrado por todas as garotas que conhecia, inclusive pela Ana Luísa, por quem ele tinha uma queda desde a quinta série. Estavam cada vez mais próximos.

Ele nem é tudo isso – o garoto pensou, para não admitir que o tal Leandro Porto ao vivo e a cores também era bem apessoado. Agora a Mariana era perfeita, parecia uma deusa. Era como se deslizasse em vez de andar. Dona de um corpo impressionante, longilínea, e um rosto deslumbrante, fora a pele que parecia estar sempre bronzeada pelo sol. Seus cabelos encaracolados na altura dos ombros esvoaçavam enquanto caminhava, como se tivesse um vento próprio soprando sobre eles.

- Estão vindo nessa direção! – Adma disse nervosa, tentando sentar-se da maneira correta na cadeira.

- Pode falar mais alto, o décimo oitavo andar não escutou? – Arthur a repreendeu, ele mesmo um pouco tenso, com a aproximação do casal, pois a mulher mais perfeita do mundo passaria diante de seu rosto. Se estendesse a mão seria capaz de tocá-la.

Alheios aos olhares que provocavam, Mariana e Leandro caminhavam sem dizer uma palavra. Haviam se conhecido naquele hotel, quando o rapaz nem era famoso ainda. Ele fora o fã a quem ela deu um autógrafo.

Anos depois a paixão surgiu, quando se reencontraram durante o carnaval, em plena Sapucaí, em um camarote. Nesse tempo ele já era sucesso em toda as rádios e sua música possuía um refrão daqueles incapazes de serem eliminados da mente. No entanto, mais do que o sucesso, chamou-lhe a atenção o fato de ele ter relembrado o dia e a hora em que pegara o autógrafo:

Hotel dos Corações PartidosWhere stories live. Discover now