Garota

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Cibele andou de um lado para o outro impaciente, enquanto a amiga, Maria Cristina, verificava o quarto novamente. Havia guardado, de maneira estratégica, todos os objetos que pudessem ser arremessados em um momento de raiva.

- Acha mesmo que isso é preciso? – Cibele interrompeu seu ir e vir, apenas para perguntar.

- Da mesma forma que você ficar andando de um lado para o outro – Maria Cristina respondeu, piscando-lhe. Em outra situação, Cibele talvez tivesse ficado brava com a amiga, mas estava nervosa demais para se preocupar com a resposta irônica.

- Sabe que sou ansiosa e que não consigo ficar parada, quando estou nervosa – limitou-se a responder e Maria Cristina fez que sim com a cabeça. Afinal, se conheciam desde o primário, portanto era óbvio que sabia.

- Então, sente-se – Maria Cristina propôs, apontando o sofá e jogando-se nele. O quarto era magnífico, grande e luxuoso. Antes de se espreguiçar pensou que poderia morar em um hotel, se todos os quartos fossem daquele tamanho – Quanto pagou mesmo para estarmos aqui?

- Por favor, Macris, não vai querer falar em dinheiro agora, vai? – Cibele perguntou, antes de se sentar, de maneira sutil, com as costas bem retas.

- Só acho um exagero isso tudo e a Selma vai achar que foi uma armadilha – Maria Cristina foi sincera e procurou algo no bolso do jeans e só sossegou, quando achou os chicletes. Apanhou um e ofereceu à amiga, que educadamente recusou – O que disse para convencê-la a vir?

- Disse que era um dos meus presentes: uma noite só de garotas, como nos velhos tempos – Cibele respondeu naturalmente, percebendo que ficava mais calma, quando conversava.

- E ela caiu nessa? – Maria Cristina questionou surpresa e, como não obteve uma resposta, fez uma bola e a estourou, provocando o olhar incrédulo da amiga – O que é? Vai me dizer que advogadas não mascam chiclete?

- Eu me recuso a iniciar uma discussão sobre gomas de mascar com você – o olhar de Cibele  viajou até a porta. Pensou em como eram diferentes, no entanto isso não impedia que as amasse como as irmãs que nunca tivera. Macris era maquiadora profissional e o seu jeito despojado era comum no meio que frequentava, já que lidava com o pessoal do teatro e da TV. Logo, vindo dela, não se espantava com mais nada, nem mesmo quando aparecera com os cabelos roxos ficara surpresa.

O silêncio foi quebrado por três batidas na porta. O modo como foram dadas fez com que Cibele se levantasse e respirasse fundo. Maria Cristina levantou-se depois, mais relaxada e correu para abrir a porta.

Selma sorriu ao vê-las e deu um passo para dentro, sem conter a admiração. Os olhos passeando por todos os detalhes do quarto luxuoso.

- Vocês se superaram garotas! – sorriu e os dentes brancos formaram um bonito contraste com a pele negra. A mulher esguia e elegante, que sempre chamava a atenção por onde passava, caminhou para abraçá-las e, enquanto abraçava Cibele, Maria Cristina fechava a porta do quarto.

A amizade improvável do colégio sobrevivera ao tempo e às diferenças entre elas. Selma costuma dizer que Cibele era a nerd, Macris era a alternativa e ela, a festeira. E isso de festa não se resumia ao fato de gostar de sair para dançar, mas também remetia ao trabalho como organizadora de eventos, com o qual obtivera reconhecimento. Sempre dizia que era preciso saber se divertir para organizar uma festa na qual as pessoas se divertissem. Logo, as festas organizadas por Selma Antunes eram um sucesso, de público e de crítica.

- Foi bom poder escapar um pouco – Selma livrou-se do terninho do tailleur e colocou-o sobre o braço do sofá – Acho que de todas as festas que organizei, a do meu casamento é, com certeza, a mais complicada. Porém, juro que ao ver o endereço do encontro, achei que hoje relaxaria, pensei que haveria um gogo boy aqui me esperando – brincou e percebeu a troca de olhares entre as amigas – Falei algo errado? Saibam que, independente de não terem contratado um rapaz gostoso e seminu,  não abro mão de que sejam minhas madrinhas. Logo, se me chamaram aqui para dizerem que querem  desistir,  não permitirei. Se o problema for o por causa dos presentes, saibam que desisto do presente.

Hotel dos Corações PartidosWhere stories live. Discover now