Arrasado

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O som das risadas dos rapazes faz com que eu me lembre de onde estou. Olho para o lado e percebo o luxuoso quarto de hotel. Recordo-me agora que são duas suítes contíguas. Próximos ao frigobar, meus melhores amigos de uma vida toda tentam guardar uma quantidade incrível de bebidas; garrafas que logo desaparecerão, como num passe de mágica. Nem me lembro bem como cheguei aqui e isso não tem nada a ver com as bebidas que citei. Tenho estado aéreo e isso já faz meses. Só agora percebo que devia ter recusado o convite e ficado em casa.

Na realidade, não foi um convite, a operação se assemelhou mais a um sequestro. Afinal, é impossível dizer não para esses caras, ainda mais quando delegam ao Montanha a missão de me levar a todo custo. Meu amigo não tem esse apelido à toa, além de ser um amontoado de músculos, conseguidos à base de muitas horas na academia, é incapaz de ouvir negativas. Falei mil vezes que não estava afim, que não tinha clima, que não estava com saco para festa... Mesmo assim, eis-me aqui.

- Despedida de solteiro do Alex, cara. Sem você não vai ter sentido. Nós três éramos os mais próximos...

Deixei-me vencer pelo argumento, porém falava sério ao dizer que não estava com clima para festa. Meu corpo pode estar aqui, mas minha mente está longe.

Aproveito que não estão me olhando e apanho meu celular. Caminho em direção à sacada e ligo para casa. O telefone toca várias vezes e finalmente cai na secretária eletrônica.

- Este é o lar de Marcos e Laís. Não estamos em casa agora ou estamos muuuito ocupados – sorrio ao ouvir o som de sua risada – Se for muito importante, volte a ligar, ou deixe seu número... – e a mensagem termina assim. Um ouvido mais atento é capaz de ouvi-la pedindo que eu pare de lhe fazer cócegas. Novamente estou sorrindo diante da lembrança.

Já perdi a conta de quantas vezes ouvi esta mensagem. Sim, já deveria ter apagado, agora que não estamos mais juntos e sei o quão ridícula é a situação. Porém, gosto de ouvi-la falar sobre o nosso lar e ainda amo o som de sua risada... O lar que não há mais, foi muito feliz um dia, no entanto, ao contrário dos contos de fadas, a felicidade não durou para sempre.

Novamente a tristeza chega sem avisar e inspiro  e expiro lentamente. Estou cansado de estar triste... Farto de me sentir tão mal, sei que sou mais forte do que esta sensação e que preciso deixá-la ir, só não aprendi o modo correto de fazê-lo. 

- Que diabos é isso? – Davi, me assusta ao retirar o celular da minha mão. Nem sei de onde surgiu – Está nisso de novo, Marcos?

- Ah corta essa! Devolve meu celular – protesto e é o suficiente para chamar a atenção dos outros. Em questão de segundos, Alex, Montanha, Beto e o Japa estão ao nosso redor, falando ao mesmo tempo, querendo saber o que houve.

- Recaída das bravas – Davi joga meu celular e Alex o apanha no ar, poupando-me uma dor de cabeça. Na verdade não estou ligando para o aparelho ser de última geração, mas para meus preciosos arquivos que estão nele. Sabe o melhor da era digital? É impossível rasgar as fotos armazenadas na memória do aparelho. Elas só desaparecem de lá se você apagá-las e isso não é possível fazer num rompante de raiva, não sem perder alguns minutos para limpar a memória do celular. Fraco ou egoísta, a única coisa que tenho certeza e a de que não consigo me livrar daqueles congelados instantes de felicidade – Ligando de novo pra casa - Davi conclui e Alex balança a cabeça negativamente.

 Não queria envolver meus amigos naquela minha bad, porém, é impossível, já estão metidos nisso até o pescoço. Quando a Laís saiu de casa, foi com o Japa que enchi a cara, o Beto que me levou para casa e no ombro do Alex que chorei. Permiti que meu amigo de infância visse a minha fraqueza, mesmo sabendo que aquela atitude passava bem longe daquelas dos heróis que cultuávamos, quando adolescentes. Todos os demais têm me suportado desde então.

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⏰ Last updated: Jul 31, 2022 ⏰

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