O Caso do Ano

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O Assassino da Baixada Santista foi pego em operação conjunta das delegacias de homicídios e entorpecentes na noite de sábado. Essa foi a manchete que me saltou aos olhos naquela manhã. O cara era procurado há anos e estava envolvido no desaparecimento e morte de uma série de mulheres grávidas no litoral paulista. O caso ganhara notoriedade pela crueldade do assassino e pelo modus operandi singular, que remetia ao famoso Estripador londrino, Jack The Ripper. Nenhum advogado de defesa assumira o caso. Certamente ficaria a cargo da Defensoria Pública e acabaria num massacre pelo júri popular. Era a chance que eu estava esperando....desde sempre. A defesa de Roberto Meireles, o suposto Assassino de Mulheres da Baixada Santista, ficaria marcada para a posteridade e eu seria a responsável por isso. Coloco um vestido de tecido azul marinho, meias-calças pretas e scarpin preto e sigo para a 43 DP, onde o sujeito estava preso. Me apresentaria como advogada de defesa.

Assim que adentrei no distrito as atenções se voltaram para mim, afinal que mulher poderia, em sã consciência, defender um assassino de mulheres e bebes. Posso e faço. Aguardo na sala de depoimentos enquanto o responsável traz o sujeito.

*Fui acusado por assassinato. Todos que me conhecem sabe q tive uma história sofrida; perdi minha esposa quando ela estava  grávida em um acidente de carro. Eu estava embriagado. Perdi minha esposa, meu filho e castigado pelo destino, fiquei estéril. Será que tudo isso era justo?
Desde então, fundei uma Organização Não Governamental para auxiliar homens e mulheres que não poderiam ter filhos. Me via em cada um deles.

Fui levado preso. Os policiais que me prenderam numa ação selvagem diziam que eu era o principal suspeito de ser o "bicho papão" nome dado ao assassino de 13 mulheres grávidas e seus bebês, ainda dentro de seus ventres. Os crimes eram cruéis e tomaram imensa proporção na mídia. Liguei para meu advogado e ele se negou a me atender. Procurei por outros e nada. Já estava disposto a me entregar a um defensor público quando fui surpreendido por aquela jovem advogada.  Ela me procurou e perguntou se eu aceitaria que ela me defendesse, falou que acreditava em minha inocência e não cobraria honorários. Eu estava sem ninguém, minhas esperanças eram mais imperceptíveis que um fio nanométrico. Sem pensar 2 vezes aceitei que ela me defendesse. Desespero ou hipnose? Além de educada, generosa, aparentemente competente, ela era LINDA.

- Qual o nome da Doutora? - perguntei ainda esquadrinhando a morena.

- Meu nome é Milena Gutierrez e a partir desse momento sou sua advogada, Sr. Meirelles - o sujeito estreitou os olhos e nada disse - Antes de mais nada, preciso que me conte tudo que aconteceu....e me responda: o senhor matou aquelas mulheres e aqueles bebês?

*Estou zonzo, estava preso, nenhum advogado queria me defender. Por que confiaria nela? Mas tinha outra opção?

- Boa tarde Dra Milena. Antes de mais nada, obrigado por estar aqui. Sei que a senhora que é a advogada, mas preciso saber algumas coisas, estou muito assustado e...perdido. Por que a senhora pegou minha causa sem eu nem ter chamado a senhora e sendo que nenhum outro advogado quis me defender? Por que frente ao repúdio popular que estou sofrendo a senhora está se arriscando a ser taxada como a advogada do "MONSTRO". Alguém falou pra senhora vir até aqui? Não acha que é uma causa muito forte para uma jovem mulher? A senhora já me conhecia ou alguém da minha família? Quem realmente é a senhora?

O sujeito era um poço de perguntas e eu não tinha tempo nem paciência para respondê-las. Estava ali para defendê-lo e não para trocar qualquer tipo de confidencia.

- Simplificando as coisas, acredito na inocência de qualquer sujeito até que se prove o contrário. Entrei com o pedido de uma liminar de soltura e vou despachar com o juiz daqui a duas horas. As provas que tem contra você são meramente circunstanciais. Ou seja: sem evidências não há homicídio. E até encontrarem tais provas...SE encontrarem...vc fica em liberdade.
Preciso somente que o senhor assine essa procuração - estendo papel e caneta até ele - me colocando como sua representante perante o judiciário. Acredito que do lado de fora desses muros poderemos conversar melhor - sou totalmente enfática.

*Pego a caneta firme, começo a ler o que estava assinando. Paro quando percebo que não tenho escolha. Minha vida estava acabada e aquela mulher poderia me ajudar, aliás, no momento, só ela poderia me ajudar. Não tiro os olhos dela, eu a encaro, mas ela se mantém impecavelmente elegante. Assino o papel e entrego. Quando ela pega a procuração sussurro:

- Obrigado por não me julgar como um monstro.

- Pode me agradecer quando estiver completamente livre - respondo pegando papel, caneta e levantando - Volto em poucas horas para tirar você daqui.

Advogado do DiaboWhere stories live. Discover now