Circunstancial

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- Então acredita em minha inocência? Quarta para mim está ótimo! Acabei de sair da cadeia, não tenho emprego e nenhum compromisso, só quero minha honra e minha vida de volta. Desculpe minha rispidez em alguns momentos, mas essa situação está muito desconfortável para mim. E obrigado por de alguma forma se interessar por mim.

*Sorrio e lhe estendo a mão para q se levante:

- Para onde a senhorita está indo? Se importa em me deixar em algum lugar que fique mais fácil ir pra casa? E mais uma vez obrigado.

- Posso levar você até sua casa.

Aquele homem era rústico, mas ao mesmo tempo extremamente interessante. Meu cérebro fervilhava tentando montar aquele quebra cabeça. Tinha certeza que após a leitura da peça processual, eu veria e apontaria a luz no final daquele túnel ao meu cliente.

- Vamos lá? - ele caminhou ligeiramente curvado a minha frente. Parecia cansado. Também....quem não estaria depois de um inferno daqueles. Ele me informa o endereço, coloco no GPS e dou a partida.

Durante os 25 minutos que percorremos, ele falou sobre uma série de assuntos, menos sobre o caso. Roberto era divertido, inteligente e tinha um senso de humor sofisticado que me chamou atenção.

*Ela me levou até em casa. Era uma mulher misteriosa e isso a tornava extremamente sexy. Notei que usava uma aliança na mão direita*

- Obrigado Dra. Milena....observei que a senhora é noiva, então creio que não aceitará entrar, mas fica o convite desde que não repare a bagunça...estou há 2 meses fora de casa. Falo olhando diretamente em seus olhos.

- Agradeço o convite, mas já eh tarde....- desconverso embora estivesse totalmente curiosa. Como seria a casa daquele homem? Se tivesse mentindo haveria muita informação naquele lugar. Resolvi que pensaria a respeito - Mantemos nosso agendamento na quarta-feira as sete da noite no meu escritório.

Ele não tirava os olhos de mim e eu estava morta de curiosidade. Sorri gentilmente pela primeira vez desde que o conheci, entrei no carro sob seus olhos atentos e sai do bairro rumo a meu apartamento.

*Fui dormir pensando naquela mulher. Escolheu me defender, não ia cobrar e ainda era maravilhosa, educada e gentil. Fui dormir esperando nosso encontro de quarta. Fiquei pensando em como surpreende-la. Ela era noiva, mas mesmo assim eu a desejava. Que Deus me perdoasse*

A terça passou rápido. O processo era longo, mas analisei cada linha, cada relatório e possíveis evidências. Se é que podia chamar aquilo de prova. Circunstancial. TUDO. Não seria uma defesa complicada....depois de ler a peça eu tinha algumas perguntas para o Sr. Meireles, mas tinha certeza que ele teria uma explicação para todo aquele mal entendido. Acreditei na inocência do homem, afinal até os assassinos em série confessam seus crimes a seus advogados. Era a ordem lógica das coisas. Roberto Meireles era inocente e eu provaria isso. As sete da noite, duas batidas secas na porta. Em ponto. Atendo.

- Sr. Meireles, boa noite, por favor.....entre.

Dou espaço para que ele passe. Estava vestido como um homem comum, mas dessa vez barbeado, perfumado e com os cabelos cortados. Gostei do novo visual, digo mentalmente quando fecho a porta do escritório.

*Entro no escritório da Dra Milena. Tinha me produzido todo para tentar chamar atenção dela. Como sempre ela muito doce me recebe no escritório, me convida para sentar. Entro com uma caixa e timidamente lhe entrego:

- Espero que goste d chocolates - sento e pergunto - Alguma novidade  no processo? - Não mudo meu semblante e aguardo sua resposta e o novo interrogatório que sei que irá fazer.

- Obrigada pela gentileza - aceito a caixa de bombons finos - Se alguma mulher não gostar de chocolates pode acreditar que tem algum problema no DNA....- digo como algo óbvio e natural.
- Sim....sente-se, por favor - ele se senta e foca toda a atenção em mim - Li o seu processo ontem, Sr. Meireles e tenho algumas ponderações a fazer - Ele se coloca à disposição;
- A Polícia informa que o senhor fugiu quando lhe deram voz de prisão próximo a ONG. Pq fez isso? - eu poderia dar uma série de justificativas, mas precisava ouvir dele.

- Eu não fugi. Vi uma confusão de policiais na porta da ONG, não sabia o que estava acontecendo, preferi não entrar. Quando chegaram perto de mim já chegaram me agredindo, me algemaram e me levaram para aquele lugar. Não tive tempo para nada.

- O relato diz que você correu e foi pego duas quadras depois - lanço a informação e espero.

- Eu apenas não entrei na ONG, Doutora. Fui para um café a 2 quadras, pode conferir! Como disse, não sabia o que estava acontecendo. Por falar em café, eles me levaram sem eu nem pagar a conta.

- Certo....- quem, no meio de toda aquela confusão, pensaria em pagar a conta da cafeteria? - Devo advertir que se houver câmera de trânsito ou em qualquer lugar próximo a essas duas quadras a promotoria pode usar como prova.....

- Não tenho medo, doutora. Sei o que fiz, agora tenho a Senhora para me ajudar....me pegaram e me levaram sem eu sequer poder me defender.

- Está certo, então....onde você estava na noite de 19 de outubro, quando te pegaram? Antes de voltar para a organização? - ele não tinha alibi quando foi preso. Essa era a informação contida nos autos - Quando leram seus direitos e ofereceram um advogado, por que não pediu por alguém da defensoria pública já que não podia pagar?

Nesse dia eu estava fora da cidade, fui levar um amigo no aeroporto, pois as férias tinham acabado e ele ia voltar para a Alemanha. Apenas o levei e voltei logo cedo, passei em casa para tomar um banho e fui pra ONG, pois havia muito o q fazer lá. Quando me pegaram liguei para um advogado conhecido e ele não quis me representar. Em momento nenhum me ofereceram advogado. Eu podia pagar por um sim, com muito esforço fiz um patrimônio razoável. Apenas não tive chance. A senhora é a primeira que me pergunta o que houve e que se interessou por mim - pego levemente sua mão.

Sinto um arrepio percorrer minha espinha quando ele me toca. Não consigo explicar aquilo. Faço a pergunta derradeira:

- Você confessou os crimes.....tenho uma confissão assinada - mostro a cópia do papel para q ele a reconheça - O que me diz disso?

- Fui ameaçado durante todo o tempo na sala do delegado, ele disse que se eu não confessasse eu ia apodrecer na cadeia, caso confessasse teria um julgamento. Eu não tinha advogado, estava desesperado.  Mas depois li que o depoimento pode ser mudado. A senhora vaie ajudar né? - Aperto sua mão e trago para perto do meu peito - Gostaria d jantar? Estou com fome - Havia feito reserva no melhor restaurante da cidade. Queria aquela mulher para mim.

- Se você depôs sem a presença de um advogado e sob coação posso sim entrar com pedido para anular a confissão. Só uma coisa....pare de me chamar de senhora, por favor! - encosto uma mão na outra como se em prece e sorrio brevemente.
Estou morrendo de fome, podemos continuar a discutir em algum lugar que tenha comida e....- olho ao redor e estreito os lábios - bom....aqui não é o melhor lugar. A única coisa que há além de água e café são os chocolates que trouxe.

- Desculpe, como gostaria de ser chamada? - Levanto e estendo a mão para ela - Ainda estou sem carro, mas tem um restaurante ótimo aqui perto. Dá para ir a pé se quiser!

- Pode me chamar como preferir, MENOS de senhora - dou ênfase à palavra - Vamos aqui perto mesmo.....me deixe pegar a bolsa.

Organizo os papéis em cima da mesa dentro da pasta e fecho o escritório. Ele me surpreende entrando num pequeno e sofisticado restaurante da redondeza.

Advogado do DiaboOnde histórias criam vida. Descubra agora