Capítulo 2

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   Nova Iorque, a cidade que nunca dorme. Tal como eu gosto. Há uma semana que cheguei a esta cidade e posso já sentir as pessoas a mudarem. Basta estarem perto de mim para se sentirem afetadas pelo meu poder. E é assim que eu quero que seja. Normalmente fico hospedada em motéis pois fico pouco tempo em cada sítio. Mas desta vez é diferente. Esta cidade é muito grande. Muito para ver e muito para fazer. Por isso comprei um velho prédio de 3 andares. Sim comprei o prédio inteiro. Não morava lá ninguém há mais de 4 anos e cada andar é um loft. Um loft não é a ideia de apartamento ideal para ninguém, mas para mim é. Espaçoso, grande, com privacidade e seguro. Só há uma maneira de entrar e duas maneiras de sair, pela porta ou morto. 

   Se me sinto sozinha por não ter amigos? Óbvio que não. Pessoas com amigos são pessoas com sentimentos e o meu pai não me mandou para a terra para me ver criar sentimentos e ficar fraca como todos os outros humanos. É que nem pensem nisso. É assim que sempre foi e é assim que vai continuar a ser. Mas não pensem que eu sou um bicho de 7 cabeças, porque acreditem, eu já vi um e eles não são nada como eu. A minha aparência humana é normal. Eu não consigo mudar de aparência como o meu pai. Este é o meu corpo verdadeiro. Sim nós temos aparências normais. Oque? Pensavam que no inferno eram só demónios sem corpo e apenas névoas negras? Também, também. Mas não sempre. Eu tento não chamar muito à atenção. Tento passar despercebida enquanto caminho pelas ruas da cidade. O meu vestuário é normal, simples e confortável. Não uso só preto como devem pensar, isso chama demasiado a atenção. Mas também não ando aí a parecer um arco íris. Fico-me apenas por jeans pretas ou azuis, blusas simples de cores escuras, um casaco ou de cabedal preto ou um simples com capuz e botas. É o meu estilo de dia a dia. Tenho que me integrar não é? 

   Normalmente as outras raparigas de 23 anos estão ocupadas a trabalhar ou a estudar. Mas eu nunca tive tempo para isso. O meu pai mandou me aqui para cima à 2 anos. Eu já estava farta de conviver com aquelas almas. Sempre a mesma coisa de "eu merecia ir para o céu", já me irritava. E eu tenho pouca paciência. Nem sabem da sorte que têm por poderem estar no inferno. Ir para o Paraíso é que é um pesadelo mas eles lá sabem. Ou mesmo os filhos dos outros demónios, eram estúpidos, não me perguntem como mas eram. 

   Quando reparei já tinha chegado ao Central Park. Algumas pessoas corriam, outras estavam sentadas na relva a ter conversas profundas e outras simplesmente estavam na sua. Rapidamente já havia pessoas a fazerem rasteiras umas as outras, outras mentiam, e uma criança até roubou um vendedor de cachorros quentes. Só eu é que reparei no que se passava. Para todos era apenas situações distintas , para mim era tudo claro. Eles estavam a ser maus. Mesmo como eu gosto. Estava quase a ir embora quando reparei no que ia acontecer. Não consegui conter o sorriso. Um rapaz acabou de se ajoelhar e pedir a namorada de 3 anos para se casar com ele. Se apenas ele tivesse escolhido outra altura ou outro lugar ela teria dito sim sem pensar duas vezes. Mas isto não funciona assim. Eu estou aqui e era de muito mau gosto se eu deixasse isto passar. Com um estalar de dedos a situação passou de feliz para hilariante. Ela agarrou nas flores e bateu-lhe com elas. Deixando-o de rastos. Não pude deixar de rir perante a situação.

   Já era de noite quando decidi voltar ao apartamento. Ser má cansa. Faltavam apenas alguns quarteirões quando ouvi um grito feminino. E soube logo o que se estava a passar. Podia continuar o meu caminho ou ir divertir-me um pouco. Mais um pouco não deve fazer mal a ninguém, não é? Segui o grito e quando estava quase no beco de onde ele veio uma rapariga sai de lá a correr e quase vai contra mim. Pensei que já tivesse acabado quando ainda ouvi vozes vindas do beco. Dois homens estavam agora a bater num rapaz.

-Pensas que és um herói é?! - gritou um deles enquanto soquiava o rapaz no estômago. O outro agarrava nele para ele não se defender. - Salvaste a rapariga por agora mas deixa estar que amanha nós logo tratamos dela! Pena que já não estarás lá para ver!- deu-lhe outro soco fazendo o rapaz gemer de dor. 

- Bem, bem, bem. O que temos aqui? - olharam todos para mim enquanto eu me aproximava lentamente mais. 

- Quem és tu?!- gritou o homem. 

-Quem eu sou não importa Larry. O que importa é o que a tua mulher Cecília iria achar se descobrisse que o marido estava a tentar violar uma rapariga com idade para ser sua filha? 

- Como sabes isso?! - tirou a atenção do rapaz que estava aliviado de não estar a levar mais socos e veio até mim. Agarrou-me e encostou-me à parede de tijolos com força a mais. Senti um metal frio e afiado pressionado contra a minha garganta. - Quem és tu e o que queres?!

-Sabes, não é assim que um cavalheiro tenta conhecer uma mulher pois não? Não é muito educado da tua parte e peço-te que tires as tuas mãos horrorosas de cima de mim. - Pedi com toda a calma que tinha. Ele, como resposta ao que eu tinha dito, usou a sua outra mão e passou-a pelo meu peito seguindo para a barriga. 

-Parece que sempre vou ter alguma diversão afinal de contas.- Ele disse com um sorriso nojento na cara enquanto sua mão continuava pelo meu corpo.

-Pára! Deixa-a em paz!- gritou o rapaz tentando libertar-se dos braços do outro homem que observava com um sorriso de satisfação no rosto. Esse acto apenas lhe garantiu outro soco. Desta vez na cara deixando-o a cuspir sangue para o chão.

-E sabes outra coisa? Não é assim que se satisfaz uma mulher. -Dei-lhe uma joelhada nas partes baixas e assim que ele se contorceu de dor dei-lhe um soco atirando-o ao chão. - Agora tu. - chamei o outro homem que largou o rapaz e veio na minha direção. Com apenas 2 socos este tambem já se encontrava no chão. Virei-me para o rapaz que estava a tentar pôr-se de pé. - Esta cidade é tudo menos aborrecida.

-Cuidado!- gritou-me ele. Assim que me virei o meu novo amigo Larry já estava quase em cima de mim. Atirou-me ao chão e tentou dar me um soco mas eu fui mais rápida a virar-me e a agarrar numa tampa de caixote do lixo. Quando ele soube já tinha levado uma pancada com aquilo e já estava a sonhar com os anjinhos ao lado do amigo. 

-Tenho que arranjar uma coisa destas para mim. - Virei me de novo para o rapaz que estava agora de pé e a olhar para mim. Senti-me fraca e uma dor forte atingiu o meu corpo todo começando pela barriga. Toquei lá e quando a minha mão veio coberta do meu sangue preto apercebi-me que o idiota deve ter-me esfaqueado. - Merda! A sério?! - foram as últimas palavras que disse antes de apagar por completo. 








































A filha do Diabo. ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora