Capítulo 3

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Tocava o sino, no alto do forte. Tocava o sino, no farol ao pé do cais. De um lado, uma fugitiva, no outro, piratas invasores. Divididos, estavam os guardas que não sabiam para onde se virarem.
O Capitão dormia antes de ser arrancado da cama. O que fazer? Alguém perguntou. A resposta...
Na varanda do palácio, Mason usava o luneta para ver o que raio estava a acontecer no cais. Piratas, odiava-os de morte. Odiava-os mais que comer sopa de cenoura e couve. Traidores, bandidos sem leis, homens que mereciam a forca, a fogueira, a decapitação... mereciam todas as espécies de condenações possíveis. Como conseguiam viver sem leis?
- Se eu vos apanho, vão ser presos! Ouviram? Presos! - Resmunga sozinho.
"Se" porque os guardas mal conseguiam decidir o que fazer. Falta de treino? Não seria a desculpa adequada. No fundo, apenas acreditavam que ninguém seria burro o suficiente para atacar Caius.
A estranha ajeita o lenço na cabeça. Andar vestida de negro pelo castelo era suspeito. Então, aproveitou uma amigável empregada perdida. Pediu emprestado a saia, a túnica, o avental e o lenço. Foi tão simpática que até desejou felicidades. Mentira, se não tivesse levado com o cabo na espada na cabeça, gritaria feito uma louca.
Passa pela porta da varanda e pára. Quem é que lá estava? Volta atrás e repara no rei. Pelos deuses, Mason, o rei mais enjoado do Pacto das Sete Cidades, o único Elenthy que quando berrava, o rosto ficava vermelho. Os rumores eram claros demais, estar com ele era o mesmo que estar com um assassino sem regras. Regras...aquele rei adorava tanto essa palavra que Caius tinha mais de três mil leis, todas com pena de morte. Um passatempo aconchegante, vistos que a sua vida solitária se resumia a tal bondosa atividade.
É louco, só isso.
Volta a andar, poderia ser vista..
Qual seria o local mais indicado para guardar um simples colar? Um pescoço. Uma gaveta. Um baú. Um bolso. Um saco... eram tantos os lugares que a lista não tinha fim. Porém, quando se tratava de um colar de família...
Pescoço, o único local a qual não poderia ser roubado.
Corre para uma porta, abre-a, entra e bate a madeira. Fica atenta às vozes... fecha os olhos para as ouvir melhor...
- O príncipe não está no quarto, cavalgou para o cais.
- Não acredito. Ele jamais se importou com os assuntos do reino.
- Meu amigo, Aaron nem teve tempo de se vestir. Foi-se.
Sai a risada que vira um eco à medida que se afastam. O príncipe saiu do quarto? A estranha sorri, mal se vestiu. Se saiu a correr, de certeza que se esqueceu de colocar o que mais importava. Apostava que o colar para ele era uma estima. E se era, então não foi.
Abre a porta, espreita para os lados e volta a acelerar os passos. Quarto... quarto... tantas portas no corredor, qualquer uma podia ser o tão desejado quarto.
Pensa um pouco.
O príncipe tinha fama de mulherengo. A mulheres tinham que ser rápidas na visita. Se andassem pelo corredor, seria suspeito... olha a porta que ficava antes das escadas para o primeiro piso. Nada poderia ser mais perfeito que um quarto mesmo ao lado de uma rota de fuga. Elas tinham tempo de subir, cortejar e voltar a sair. Nem dariam nas vistas.
És mesmo um Elenthy, Aaron.
Quem mais se lembraria de ter essas ideias dignas de um pensador?
A mão bate no parapeito de pedra. Mason estava pelos cabelos, os estúpidos guardas não conseguiam chegar ao navio. Porquê que os estúpidos não remavam para alto mar? Piorou o humor quando viu a chegada do filho ao cais. Ele não sabia nem comandar os primos mais novos, quanto mais os soldados.
- Se eu vou aí, esses piratas vão engolir as flechas! Matem-nos! - Grita furioso.
Em pouco tempo desembarcariam do navio, entrariam por terra, atacariam as casas e depois? Adeus Caius, a ilha mais poderosa de Deland. Incompetentes, só trabalhava com incompetentes.
A porta nem chia ao ser aberta. Fica admirada, todas as pessoas queriam ter uma porta que chiasse, assim saberiam atacar caso fossem apanhados de surpresa. Mas o príncipe, preservando o segredo carnal, tirou a voz às dobradiças. Azeite a ferver dava-lhe o que desejava por duas semanas. Só precisava de repetir no final do prazo.
Olha em volta, cama desfeita, vela acesa. A janela aberta trazia o ar morno das chaminés do reino. Lareira quase apagada, as brasas corroíam o que sobrou. E o colar? Fecha a porta, adorava desafios.
Enquanto os sinos tocarem, posso demorar o tempo que for preciso.
Fugir também não seria um problema.
A última vez que os piratas estiveram com tanto público foi no aniversário do ancião mestre de Pig White. Raptaram setenta soldados, colocaram-nos na praia e divertiram-se a lançar ouriços marinhos sobre eles. Aquele que sobreviesse, era levado de volta a casa. O problema... nenhum sobrevivia.
Ali, não estavam na praia, mas se estivessem, a noite seria perfeita.
Bardares cospe o palito da boca e olha para o lado.
- Kleino, como estamos de ouriços?
- Os baldes estão cheios. Acha que conseguimos atacar daqui?
- Prepara as "Bestas".
O pirata roda o dedo no ar e os restantes abrem as grades para o porão. Aquele desporto nunca estaria fora de moda.
O colar... o maldito colar... deita um armário ao chão e tateia a parede, talvez tivesse sido escondido em uma pedra. Corre para o parapeito da lareira, passa os dedos por detrás do granito e tenta sentir algo. Nada, o quarto estava virado de um avesso e nem sinal do colar. Coloca as mãos nas ancas. Aaron levou-o. Para onde? Para o cais, onde os piratas atacavam.
Estúpida!
Arranca o lenço da cabeça, devia ter calculado que o príncipe não o pousava nem para dormir. Abre a porta e dá de caras com o rei. Há certos momentos da vida que, cara a cara não resolve questão alguma, apenas piora. Naquele caso... a estranha fecha porta atrás de si e baixa o rosto.
- O que aconteceu ao quarto do meu filho? - Aponta o dedo.
- O príncipe deixou-o desarrumado.
Mason puxa-a para o lado e abre a porta. A boca descai ao ver o estado da mobília, a desarrumação que não poderia ser justificada. Então vira o rosto para o lado.
- Aaron fez isto?
- Vossa Majestade ainda não viu nada. - Empurra-o para dentro e tranca a porta.
- Mas que raio! - Gira a maçaneta.
Fechado... no quarto do filho? Desata a bater na madeira, berra bem alto que queria sair dali antes que perdesse a cabeça. A estranha recua com receio e deita a chave escada abaixo.
- É para o seu bem. - Argumenta ao desatar a correr.
- Abra, sua... - Começamos pontapés - Abra agora!
Prender o rei não estava nos planos. Aconteceu! Abre uma janela, arranca a saia e despe a túnica. Próximo passo, encontrar o príncipe e roubar o colar, nem que para isso o matasse. Olha para baixo, não calculava os metros.
- Rápido, o rei está preso! - Alguém grita no corredor.
Vira o rosto para os guardas. Pressa. Nega ao saltar e abrir os braços. Os homens aproximam-se da janela e procuram-na na escuridão do jardim. Alguém aponta e denuncia-a. Corria para os portões, será que os conseguia passar a tempo?
O violino começou a ser tocado no navio. Porquê? Os piratas atiravam os ouriços para o cais e depois espreitavam pelas lunetas. E o que viam valia o esforço, os soldados saltavam, corriam, gritavam... andavam às voltas no lugar, sem saber como se defender do eminente ataque marinho. A música até se adequava, estavam a conseguir.
Bardares apoia o braço em Kleino e abana a mão contra o rosto, nunca riu tanto em toda a sua vida.
- Espero que a Cassmesse consiga. - Comenta quase sem voz.
Enquanto houvesse ouriços no balde, iam continuar a infernizar a vida dos soldados. Quando acabassem, voltariam às flechas.
A estranha salta para outro telhado, estava a ser seguida por guardas. Não, eles não se atreveriam a subir ao telhado para a perseguiam, apenas os mais ousados o fariam. Os outros apenas corriam pelas ruas, gritavam a sua localização, pediam para que parasse... E não parava, estava perto do cais para ceder a qualquer exigência.
Ganha balanço e salta para um tejadilho. Péssima ideia, por pouco, não caiu na rua. As mãos tentam prender os braços a uma telha, porém, não consegue. Olha para baixo, vê os guardas aproximarem-se. Atrás, outros dois tentavam equilibrar-se, lentamente ganhavam terreno. As mãos agarram o parapeito do telhado e o corpo deixa de ser puxado pela terra. Pendurada. Suspira de alívio, nem queria imaginar se tivesse caído.
- Desce daí! - Um guarda grita.
Não. Ganha balanço para o lado direito, estica a perna ao máximo e vira o corpo para cima das telhas. Estava velha demais para aquilo.
- Quero descanço.
Ainda teria que correr muito se queria descansar depois. Outro grito e levanta, abre os braços e volta a correr pelo tejadilho. Um dos soldados, saltitava desajeitadamente sobre as telhas, mas longe estava de conseguir concretizar aquele salto. Alguma coisa pareceu partir quando escorregou e caiu. O outro olha o colega no chão, ganhando balanço salta. Tendo sucesso agarra a espada e parte para cima da intrusa. Que apenas se desvia ao primeiro golpe. Baixa a cabeça evitando o segundo. Uma cotovelada seca faz o homem recuar, mas, nada seria comparado ao pontapé no abdómen. Cai de braços abertos, perto do outro. Mais soldados chegavam, alguns tentavam subir. A estranha olha para a frente, estava perto demais do cais para desistir.
Nunca da vida conseguiria mover um grupo de soldados para o interior da ilha. Não poderia, não lhe estava no sangue ser líder de algo. Nasceu por nascer, era fraco por natureza e gostava de o ser. Mas, um príncipe, futuro herdeiro de um trono, filho único, deveria ser sempre o orgulho do reino e do pai. Nunca o foi, Mason criticava tudo o que fazia, desde os casos amorosos sem futuro, até à comida que mandava servir no jantar. Aaron era o único Elenthy que nasceu no trono errado, aquele que os primos já sabiam que não podiam contar para nada.
E lá estava ele, no cais, a tentar ordenar um ataque capaz de fazer frente aos piratas. Para quê? Os soldados não usavam os arcos, não queriam pegar nas catapultas e lançar barris com Sílis ao navio. Nada, estavam a ser atacados, sem se defenderem. Perdido, o príncipe tentava acalmar alguns homens que corriam, e nem para isso servia.
Coloca as mãos atrás da cabeça e suspira, devia de ter ficado na cama.
Baixa-se ao lado de uma chaminé e mira o príncipe. Parecia... sozinho no meio do caos.
- Vossa alteza, tem que regressar ao castelo. - Um soldado alerta.
A estranha estica o pescoço para ver o que estava a acontecer na rua.
- Agora não, estamos a ser atacados! - Aaron aponta para a frente.
- Já aí vem os reforços. Seu pai foi trancado no seu quarto, que foi assaltado por uma mulher.
- Assaltado? Quem o assaltaria?
- Suspeita-se que se trata de uma amante sua.
- Nenhuma amante minha iria trancar o meu pai no quarto.
- Tem que regressar agora para dar explicações. - O soldado solicita.
O príncipe olha para trás, ir e deixar ali os homens que pediu para o seguirem?
- Vá indo, já irei lá ter.
- Vossa alteza...
- Obedeça sem fazer perguntas ou dar ordens. Serei teu rei e quando um rei pede, ninguém questiona! - Berra.
O homem assente ao recuar, não queria de maneira alguma desafiar o herdeiro ao trono.
Perdeu a cabeça, estava completamente perdido nas ideias. O pai ordenou que voltasse, e não voltava por uma questão de honra. Ou de vergonha, vistos que ouvir novamente a palavra "fracasso" tinha impacto no coração. Levaria a cabeça dos piratas a ele, daria um motivo de orgulho mesmo que fosse uma única vez da vida.
- Soldados! - Grita ao caminhar - Usem os escudos! Façam uma linha perto do estrado de madeira e aguardem os reforços. Temos que vencer! E para isso, temos que resistir. Entendido?!
A desordem parecia ter rumo, a lente da luneta revela o que não queriam ver, as cordas do violino partem e Bardares atira ao chão o chapéu. Então já não andavam às voltas? Não tinham mais medo dos ouriços venenosos?
Os soldados alinham-se à frente do príncipe, uns em baixo com os escudos, outros de pé com os arcos apontados.
- Preparem os barris, os nossos amigos estão a esticar muito a corda. - Bardares ordena ao subir as escadas.
Os tripulantes agitam-se, desatam a correr para colocar em prática o plano. Desafiar um Capitão daqueles era uma péssima ideia, principalmente quando se tratava de um pirata vindo de Pig White. Queriam brincar, então brincavam.
Uma guerra e ela no meio, sem roubar o colar que lhe dava uma passagem gratuita para Dember. Espreita pela chaminé, Aaron recuava, soldados concentravam-se atrás dos outros e posicionavam-se para atacar. No porto de Garthe atacavam de outra maneira, mandavam os mais fracos à frente, em pequenos botes. Chamavam-se de Iscos. Os mais fortes atacam depois, nadavam até ao navio e entravam sem serem vistos. Joan raramente perdia uma guerra daquelas.
Anda para trás, dá um saltinho, desata a correr e...
Aaron pousa o calcanhar do pé direito no chão e sente alguém sobre as costas.
- Larga-me! - Mexe-se.
A estranha agarra no ouro com um selo, puxa-o para o lado e a corrente do colar rebenta.
- Guardas! - Aaron grita.
Sai de cima dele e corre para uma rua.
- Rápido! - Aponta o dedo ao caminhar - Prendam-no!
Soldados invadem a rua, correm o mais rápido possível para chegar a ela. A estranha entra por uma porta, os homens gritam a sua localização, invadem o lugar e... travam o andar. Nada, ninguém estava no interior da casa. Silêncio e paredes de pedra sem porta. Um telhado sólido e chão de madeira. Para onde foi o suspeito? Levantam as candeias e espreitam pelos cantos sombrios. Nada.
- Para o cais, talvez volte a atacar o príncipe. - o General ordena - Bricks! Dá mais uma olhada .
Os soldados saem e a porta fecha-se. Onde estava a estranha?
O soldado ergue mais uma vez a candeia e no silêncio procura, o que não esperava encontrar. Mas apenas encontrou uma pancada sobre a cabeça, caindo como pedra no chão de madeira.
A respiração acelerada é revelada pelo quarto crescente da lua. Noite fria, mais fria que a do costume. Inverno em Deland oriental, ainda faltava dois meses em Avantya para isso acontecer. Levanta a mão e mira o simples colar com um brasão. Tudo por causa daquilo. Pelo menos ia para Gardennia. Vira o rosto para o navio, como ia embarcar se eles ainda estavam em alto mar?

~

Aproxima a vela para iluminar o brasão e depois, levanta a vista para a curiosa que também espreitava. Riu tanto, mas tanto da aventura pelo quarto do príncipe que, teve que engolir uma colher de óleo de baleia para parar. Os rumores não enganavam, Aaron era o maior mulherengo do mundo.
- Gina! - Grita.
A estranha sente-se estranha, ainda mais. Gina? Disseram que era a única mulher no navio. A menos que algum homem tivesse esse nome.
- É um pirata?- Comenta ao enrolar o dedo na corrente de ouro.
- Não, a minha filha. Luttos teve uma filha comigo, o meu maior tesouro escondido aqui no navio.
Escondida? A vista tenta não arregalar, então um dos motivos para o pirata nunca ter vingado a morte da mulher era esse, o facto da filha existir e da luta ser desnecessária. Vira o rosto ao sentir a porta abrir. Gina. Uma rapariga de treze anos, cabelos ruivos e pele morena, com um olhar azul como o mar. E o vestido castanho que ficava pelos tornozelos? Sorri ao ver a flor em cima da cabeça, ela de facto, já em nova, revelava a futura Marilosa que seria. Cabelo ruivo... transformada ficaria com um espantoso tom rosa pincelado de azul. Um belo degradê entre escuro e claro. Disso tinha a certeza, porque já presenciou a transformação de uma mulher parecida.
- Gina, a Cassmesse que te tenho falado.
Faz um comprimento com a cabeça, era um prazer conhecê-la.
- Como eu nunca a vi? - Pergunta.
- Cassmesse, Gina tem um quarto bem lá no fundo do porão. É uma crueldade, mas assim a protejo de Joan. Luttos era uma princesa e Gina tem um pequeno lugar no reino das Marilosas. - Mima a mão da filha - Mesmo que nunca seja algo, eu quero-a proteger de tudo e de todos, é meu dever como pai.
Tudo e todos... tristeza invade o coração da estranha. Já ouviu essas palavras na sua perfeita infância. Há coisas que o tempo não cura, não pára e não deixa ir. É preciso esquecer para suportar, mesmo que isso seja um sacrifício.
- Mar, Gina é mar na língua antiga.
- Exato. És um mistério, Cassmesse.
Sorri, segredos é o que mais adorava colecionar.
- Gina, leva para baixo. - Pousa o colar na mão dela - Guarda-o com a tua vida.
- Sim, meu pai.
- Depois passo lá para te dar um beijo de boa noite.
A rapariga beija o rosto dele e caminha sorridente para a porta.
Bardares encosta-se às costas da cadeira e mira a estranha ainda sentada. Não sabia o nome, de onde vinha, de quem era filha... apenas sabia para onde ia e o terrível fascínio pelo colar, além de ter boas ideias. Ainda se perguntava, se lhe devia a vida e faria qualquer coisa para pagar, porquê ateimar em um colar que, no fundo, não pagaria a viagem?
- Se te perguntar o nome, não mo vais dar. Se te perguntar de onde vens, vais mentir. Então, só quero entender... o colar era assim tão importante? Eu nem to pedi mais!
Existia muita coisa que o pirata jamais entenderia dela. Uma é que se fazia, é porque já sabia que futuramente iria precisar. Outra é que nem sempre as pessoas que guardam são as melhores. Aaron, por exemplo, deu provas de que o colar para ele era uma forma de se livrar do sermão. No fundo, o peso do brasão não valia nada. Mas para o pirata, o colar se assemelhava a um tesouro que ficaria fechado, lá no fundo do porão, guardado para um dia, quando desistisse do mar, usar. Confiava mais em Bardares que em Aaron.
- Paguei a minha passagem para Gardennia, como o combinado.
- Ainda não sei como irei contornar o Lorde, ele é pior que Mason. - Abre uma garrafa - Ao carapau, ainda dou a volta. Ao tubarão não dá.
- Ele é assim tão difícil?
Assente ao saborear o licor.
- Arthur é um dos maiores defensores de Gardennia, está lá há mais de sessenta e dois anos. Serviu o antigo rei, o atual e servirá o futuro.
Estala os dedos na mesa, então estava a falar de um velho, que possivelmente mal se arrastava, súbdito, rato e sapato do rei e difícil de contornar? Ri.
- Deixa-me lá que trato do resto.
- Desço um bote e remas para terra, não irei aproximar muito. O que vais fazer da vida, Cassmesse? Tens lugar no meu navio caso não tenhas planos.
Uma sugestão tentadora, navegar sem limites, ir para lá do imaginário e encontrar o tal portão para o reino dos mortos. Mas ir, era esquecer-se e isso era como se nunca tivesse existido.
- Acho que quero ir mais longe na minha viagem. O mar não é para mim.
- Infelizmente, só se nasce pirata uma vez na vida... - Levanta - Espero que Gardennia te ajude como te ajudei. - Estende a mão.
Ergue-se e aperta com todo o gosto a pele calejada e enrugada.
- Acredite em mim, aquele reino nunca foi um porto seguro.
Começava a acreditar que, em certos lugares no mundo, não valia apena aportar e explorar. Nem sempre se podia encontrar pessoas capazes de ajudarem e, se dependessem deles, também não iam longe. Mal por mal, Bardares queria que ela saísse para terra e fosse atrás desse... grande amor. Os estranhos iam e vinham, como a chuva. Deixavam uma marca, por mais insignificante que fosse.

Música de capítulo: Cant go to hell - epic rock

Lâmina Negra (Volume 1) - Começo Das TrevasWhere stories live. Discover now