Capítulo 4

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Sol, amanheceu o dia mais amado pelo povo de Gardennia. A chuva partiu para outro lugar durante a noite, as nuvens desvaneceram e os meigos raios de sol apareceram antes da madrugada. O General nem conseguiu explicar o majestoso milagre, adormeceu sobre um balde com doces e acordou debaixo de um calor matinal inexplicável. O rei nunca se enganava, pois não?
Sempre que aquele dia se aproximava, as pessoas não dormiam. Acordavam muito cedo para acabar o que estava em falta, os bolinhos da época, as tortas de lamber os dedos, os chocolates de mel, as flores de papel que seriam espalhadas pelas ruas… era tão longa a lista de tarefas que, só quem lá vivia  conseguia organizar tudo sem se perder.
Escadotes nas ruas, homens no alto e os gritos de… “Mais para cima.”, “Para o lado!”, “Para o outro.” … “Pára!” … Depois formavam um círculo com os dedos e viam se ficava perfeito. Ainda não, lá voltavam a gritar.
As meninas sentavam-se na cadeira da dona Lilian. Em fila, cada uma levava na cestinha as flores que queria ter nas trancinhas e aguardavam com paciência a vez. Os rapazes vestiam as jardineiras e trocavam os brinquedos de madeira que os pais faziam. Quem não tinha nada, trocava algo mais.
Janelas abertas deixavam escapar para a rua movimentada o aroma da culinária de excelência. Alguns homens paravam debaixo do parapeito e deliciavam as narinas. Os solteiros cochichavam que era naquele dia que iriam desposar. Os casados lamentavam ou gabavam a sorte do matrimónio.
Na praça principal, em frente à enorme estátua do lendário dragão, também ilustrado na bandeira, os aldeões atiravam pétalas de papel para o chão, penduravam nas paredes as cartas que seriam queimadas à noite, na típica fogueira de renovação de vida. Lá, pediam o que mais desejavam. Cabia aos deuses ajudar ou ignorar. Os postes de iluminação, as velas sempre renovadas, estavam enfeitados por longas faixas de flores  que cresciam nos arredores da Floresta Negra. E no pequeno estrado, o trono do rei e da sua filha estava a ser embelezado.
Não era só na rua que estava a agitação, o castelo também estava um caos graças ao General. Dava ordens, como se os empregados fossem soldados. O principal  era a Sala do Trono, os quadros dos reis fundadores eram colocados acima do trono e flores deixadas aos pés deles. Mais tarde orariam  no estrado da lareira negra, debaixo do metal  ilustrado da lendária  espada de Alexander. E o resto do dia seria passado na praça, ouvir-se-ia o coro dos sacerdotes, o desfile dos cavalos, a história da fundação do reino e a típica competição de doces. Nada iria faltar, nada.
Setrevent prova o novo pudim da cozinheira. Faz uma careta, tinha pouco açúcar.
– Cuidado! – Alerta ao dar alguns passos – Esses quadros são sagrados!
O mordomo pousa com delicadeza a moldura sobre os tronos.
– Agora, recua sem respirar.
O homem dá passos… lentos… Com as mãos soltas e o ar sustido nos pulmões.
– Isso mesmo.
– Primo, sabes onde está a taça que Rolandwen ganhou aos vinte anos? – Morgan pergunta ao entrar na sala do trono.
– No quarto dele.
– Não, andei lá às voltas e nada.
– Estranho. – Olha para o corredor – Art… – Chama.
O Lorde vira o corpo para a porta e repara na agitação que estava aquele cantinho do castelo. Gostava mais daquela sala quando era calma, solitária e silenciosa. Ter Setrevent no comando era sempre um problema.
– Sim?
– Viste a taça do príncipe Rolandwen?
– Não, deve estar no quarto dele. – Olha para os tronos – Colocaram o quadro  ali? – Aponta.
– Foi o segundo rei após Alexander morrer, tem direito a lá estar.
– Deveria ser o quadro da filha dele. – lamenta.
– Enquanto aquela porta estiver fechada, Ierynne não tem lugar no altar. Como todos os anos, ela não é referida. – Dá uma pancadinha no ombro dele – Anda Morgan, temos que encontrar a taça.
Como sempre… ela não seria lembrada. Não mais que uma lembrança inexistente. Ierynne Aleyos Elenthy, segunda filha do casal, aquela à qual ninguém sabe o que aconteceu, mas que estava morta e enterrada ao pé dos pobres. Não tinha retrato, nunca encontraram um quadro pintado sobre ela.
A porta fechada.
Dos quatrocentos quartos existentes, apenas um estava trancado há cento e oitenta e um anos. Tentaram de tudo, desde arrombamento a encantamento. De nada valia, a princesa descendia da rainha dos feiticeiros, teve a magia mais antiga de todos os tempos. Selou a porta do quarto e as janelas, ninguém entraria lá para descobrir a verdade, isso se existisse realmente uma.
Arthur suspira, apostava que ser uma sombra do passado devia  doer. A princesa estava morta, mas mesmo assim, dava  enorme tristeza  não ter direito à imortalidade da memória. Fez parte do reino, no mínimo, merecia uma pequena homenagem. Caminha para a saída, talvez o rei o ajudasse a pensar.
Ajeita o manto sobre os ombros e pega no pente. Solenemente penteia o cabelo para trás. Dia de Gardennia, Gaius andava o ano todo a sonhar com aquele amanhecer. Gostava mais daquela data do que do próprio aniversário. Porquê? Desde de pequeno que se inspirou muito pelo reinado de Alexander. Não existiu rei mais justo, leal, bondoso e protetor que ele. Nem rainha que se igualasse a Marion. Homenageá-los era pouco, não seria a primeira vez que pensava erguer duas estátuas em sua honra.
Move o rosto ao sentir o bater na porta.
– Entre. – Pede ao pousar o pente.
– Meu rei, como está hoje? – O Lorde pergunta.
Fecha a gaveta. O lenço, manchado de sangue, repousava na velha madeira. Gaius estava velho, dando lugar à doença que vigorava em seus pulmões. A cura, ficava no  outro lado de Deland. Queria viver o máximo que conseguisse, mas não eternamente.
– Bem… – Vira-se – Como estão os preparativos?
– Setrevent mal acordou e já está a colocar o castelo virado do avesso. Acho que se enganou na patente, enquadra-se melhor como decorador!
O rei ri, até podia ser verdade, mas o General era um grande soldado e provou isso várias vezes.
– A minha filha? – Pega nos anéis.
– Ainda não saiu do quarto.
– Espero que hoje não discutam.
Arthur coloca as mãos nos bolsos, pedia quase o impossível. Ambos cresceram lado a lado, apesar de existir uma enorme diferença de idade. Melody era filha única, a princesa mimada que desde de pequena  roubava a atenção para si. Antes não discutiam, assim que ela fez catorze anos e levou a primeira estalada do Capitão da Guarda, a relação entre ambos tornou-se ignorantemente fria, cruel e odiosa. Discutiam quase por tudo, queriam ambos agradar o rei, a corte e o povo. Claro que só um deles é que podia herdar o trono e isso estava mais que decidido.
– Prometo…
– Ainda bem. – Olha pela janela – Adoro este dia, ver Gardennia unida para celebrar a sua existência. Nunca te esqueças que este reino é especial porque o povo está unido, está sempre a remar para o mesmo lado. Ser rei aqui é um orgulho e eu morrerei feliz.
O Lorde coloca-se ao lado dele e admira a agitação nas ruas. Lembrava-se da primeira vez que pisou Gardennia. Tinha vinte anos, o irmão assustado nos braços perguntava se faltava muito para chegarem a casa. Faltava. Era para norte que deveriam ir, não para o sul. Nessa época, Gardennia resumia-se a pequenas casas que se acumulavam em torno dos muros do castelo. Na rua, homens colocavam a famosa pedra branca que um dia, todos teriam a honra de andar. A muralha ainda não estava construída, não passava de um esboço de papel que Alexander ordenou fazer.
Agora, Gardennia estava enorme, existiam trinta mil  pessoas a viver ali. A muralha foi construída tão afastada dos muros do castelo que, havia espaço para mais de dez mil casas. Quem diria que aquele reino iria ser tão prospero , populoso e amado.
– Posso fazer-lhe uma pergunta?
– Claro.
– Porque a princesa Ierynne nunca é lembrada neste dia? Há anos que fazemos a festa e ela… não passa de uma sombra. O que aconteceu para ser odiada?
Gaius suspira e vira-se, dando passos lentos em direção à cama.
– Ierynne fugiu ao dever. Não sei o que realmente aconteceu, o livro sobre Gardennia foi roubado, Ren não fala muito sobre o passado… – Olha-o – Só sei que o navio em que embarcou, naufragou. O corpo dela deu à costa na praia de Dember. Nesse dia o povo chorou a sua morte. Rolandwen enterrou-a ao pé deles, pensou que seria o certo.
– Não acha injusto não ser falada por nós? Gaius, iludimos o povo, Ierynne era a única filha de Alexander e Marion…
– Não se sabe isso, Arthur. São rumores. Rolandwen nasceu primeiro que ela, está nos registos mais antigos do castelo. Marion deu há luz um menino. Depois nasceu a menina. A princesa sempre foi rebelde, sempre. É por isso que não se fala dela.
– Que jovem em tenra idade não foge às regras? Acho que desrespeitamos a sua memória, vistos…
– Arthur, ela trancou o quarto para nós, os descendentes do seu legado, nunca sabermos o que fez. Privou-nos do direito, privou-nos da verdade. Não continues esta conversa, Gardennia não merece uma apunhalada destas nas costas.
Assente, apesar de ter uma opinião diferente. Por mais rebelde que tivesse sido, tinha direito a um lugar ao lado dos pais, vistos que foi a única princesa que ali nasceu.
Alguém bate à porta.
– Pode entrar. – Gaius volta à janela.
– Bom dia, pai.
O Lorde vira a cabeça para a princesa. Melody. Revira os olhos, como sempre, vestiu o vestido mais aplumado que tinha no armário. Naquele caso, escolheu um volumoso vestido de penas pintadas de azul, colocou sobre os cabelos louro a tiara da realeza, realçou o cinzento nos olhos azuis e carregou no vermelho nos lábios. Ao pescoço, pérolas verdes vindas de Belo Horizonte, nas mãos, anéis. Melody era considerada a princesa mais bela de Deland oriental, a única Elenthy elegante, bonita e com um sedutor olhar.
Arthur concordava, ela mal comia só para manter a linha. O cabelo sempre cuidado chegava ao fundo das costas, alta e com vontade de o ser mais. E o olhar azul sempre a destacou pela exuberância.
– Trouxe-lhe vinho, sei que não pode beber, mas Morgan deixou passar.
– Que maravilha. – Gaius pega no copo.
– Não, nem deve . – Arthur agarra no vidro.
A princesa suspira ao revirar mais uma vez os olhos, sempre o mesmo irritante que estava no local errado, à hora errada.
– Estou admirada, não devia de estar a vigiar os seus amigos na sala do trono? Eles costumam fazer muito barulho.
– Coitada, fala a menina mimada que têm a vela acesa a noite toda. Ainda queria saber o que faz a noite inteira.
– Leio.
– Duvido…
– Por amor aos deuses, não discutam hoje. – O rei pede.
Fintam-se, tinham tanto ainda para discutir que, seriam preciso os dezanove meses. Arthur passa as narinas pelo copo e bebe o vinho, estava puro.
– Está bom, Lorde? – Melody cruza os braços.
Assente, ela de certeza  não era a espiã da corte.
– Pode beber, vossa Majestade. – Devolve o copo.
– Não acredito que pensastes que ia envenenar o meu pai.
– Todo o cuidado é pouco. – Sorri, maliciosamente.
– Arthur, nem te reconheço. – Gaius fica ofendido.
– Por precaução.
– Confio na minha filha de olhos fechados. É do meu sangue, jamais me faria mal. Como prova disso, bebo até à última gota.
O Lorde suspira levemente, não queria transmitir isso, apenas fez o que sempre fazia. A todos os almoços e jantares, provava a comida, a bebida, o pão… era seu dever proteger o rei a todo o custo, prometeu isso. Repara no sorriso no rosto de Melody, orgulhosa pelo pai ficar aborrecido pela companhia dele.
– Vamos meu bem, quero que vejas as ruas. – Gaius devolve o copo – Na próxima vez, teremos uma conversa mais profunda sobre isto. – Murmura a Arthur.
– Sim, meu rei.
Dá o braço à princesa e caminha lentamente para a saída. Quando a porta fecha, bate o copo no chão, sentia que algo estava errado, algo  lhe estava a escapar. O quê que seria?
Estava tudo a ir lindamente, quando a atenção do General foi roubada por uma linda mulher de cabelos negros e olhos azuis. Suspira, pousa a cabeça sobre a mão e fica ali, em cima do alpendre florido, com a varanda decorada, a olhar para Sinya. O problema dela é que era uma prostituta. O problema dele é que o coração moribundofora roubado. Ambos estavam apaixonados, queriam construir uma família e casarem. A sociedade não permitia, e o que iriam permitir?
Não desvia o olhar com a chegada do Lorde.
– Vim ver como vão por aqui as coisas. – Arthur pousa os braços nas grades.
– No céu.
Segue o olhar dele e ri levemente. Sinya. O Lorde nunca esteve com ela no bordel. Raramente ia lá, sentia um enorme arrependimento sempre que lembrava do motivo da sua solidão. Nas vezes que foi, requisitava sempre uma mulher também sozinha. Infelizmente ela partiu e aos anos que o Lorde não voltara lá.
– Lisa não ta vai vender.
– Pago o que tenho e não tenho para a ter.
– Sinya deve muito a ela, não deve?
Assente triste, jamais aquela prostituta poderia ir embora sem pagar a Lisa o que devia. E a dona não ia abrir mão da mais bela mulher do bordel.
– Já sou o único homem da cama dela.
– Não por muito tempo. Elas não podem ter exclusivos.
– Foste exclusivo de Tyve por um mês. – Olha-o.
– Tyve era uma mulher que me entendia.
– Mas não é a feérica os teus sonhos. – Dá-lhe uma cotovelada.
Sorri, a mulher perfeita estava longe de ser encontrada.
– Conta, estás aborrecido?
– Culpei indiretamente Melody de conspirar a morte do pai. Só por provar o vinho.
– Art, à frente dele não, o rei não gosta.
– Está bem, mas tive que fazer. Imagina que tinha veneno…
– Essa não tem cabeça para planear a morte do pai. Ambos sabemos que Gaius ama-a.
Maior problema dele, estava cego demais para ver as verdades. Mas também, Melody era burra demais para planear algo contra o pai. Ela nem conseguia distinguir comida estragada da acabada de fazer.
O coração do General dispara assim que Sinya acena. O longo suspiro sai e a cabeça volta a encontrar a mão.
– Acho que Aria acertou-me no coração.
– A deusa do amor devia colocar-te juízo. – Começa a descer as escadas.
– Deixa-me sonhar Art.
Ri, nem queria vê-lo acordado, apostava que o pesadelo seria uma dura queda sobre a pedra.
Gardennia… os olhos percorriam as ruas floridas, o corpo mal conseguia mover-se por entre a multidão de pessoas que saía à rua. O reino mais forte de Deland oriental, só porque Alexander imortalizou-se como lenda. Será que aquelas pessoas conheciam Ashantya? Alguma delas esteve naquele majestoso reino feérico governado por Dinity? Desvia-se dos braços levantados com pratos na mão. Resposta? Não, nem deviam saber onde isso ficava.
Estou perdida.
Deland não era como Avantya, e todos os reinos tinham algo que os distinguia. Os dali, estavam sempre mais unidos por algo. Os do outro lado do mar, cada um por si. Como Garthe, festas lá só aconteciam quando os assassinos mais violentos estivessem em missões longas ao norte. Ou quando a sombra estivesse na lua. Por outras palavras, quando Lâmina Negra estava nos continentes do sul. Morta, e o rei Joan festejaria de manhã à noite. E esquecia-se que o assassino mais aclamado da Guilda da Morte não tirava férias.
Aperta bem a capa contra o corpo. O que raio estava a acontecer ali?
– Hei… – Agarra o braço de um homem – Quem morreu?
– Mulher, é dia de Gardennia, dia em que foi fundada. De onde é que tu vens?
Um som sai. Puxa o homem para o lado e segue caminho com os olhos arregalados. Gardennia fazia anos… no seu tempo, esse dia nem existia, o rei parecia não querer celebrar em memória ao dia mais sangrento da história do reino. Agora, todos festejavam uma lembrança que não tinham. Isso explicava as flores penduradas, as pessoas bem vestidas que andavam pelas ruas, o fedorento aroma a bolos acabados de sair do forno.
Péssimo dia para pisar Gardennia.
Se o Lorde não interveio na sua entrada, a festa fazia favor disso.
É empurrada para o lado, tropeça numa cesta e cai aos pés da enorme estátua no cimo da pedra branca.
Ergue o rosto para cima e suspira. Um dragão, quem é que contemplava uma enorme besta como aquela? Quer dizer, aquelas pessoas por acaso conheciam a história dele? Abana a cabeça e levanta do chão. Não. Nenhuma delas viveu a difícil época de Alexander.
– Nem eu vivi. – Sacode a roupa.
Também não podia julgar muito, nasceu em Garthe e só não morria lá porque decidiu percorrer o mundo.
– Precisa de ajuda?
Vira o rosto para o homem com túnica branca e casaco azul.
– Podia prender metade destas pessoas, elas parecem os entojados dos nobres de Garthe! – Resmunga.
– Garthe… vem de longe. – O Lorde olha em volta.
– É o reino mais nojento, podre, porco, com um rei de dar voltas ao estômago… mas é onde  nasci. E se um dia aquilo mudar, terei de me mudar para o inferno.
Arthur ri levemente, nunca conheceu alguém que odiasse assim tanto um reino comum aos outros. Sacode a capa dela e repara nas feições jovens do rosto. Teria pouco mais que dezassete anos, longos cabelos castanhos que desciam os ombros e formavam caracóis sedosos. Os olhos… um castanho esverdeado, pintados de negro para possivelmente realçar as pestanas??. Lábios carnudos que rasgariam um sorriso, se o fizesse… Estatura baixa, não teria mais que um metro e sessenta e oito. Pele branca, parecia feita de porcelana, como nasceu ela em Garthe?
– Nunca viajei por Avantya, dizem que a Lâmina Negra anda por lá. – Tose para a mão.
– É mesmo? Nunca a vi, dizem que está morta e enterrada há mais de três anos. – Cruza os braços.
– O corpo desapareceu da cova.
– Como desapareceu se ainda hoje cospem para lá? Se for ver, está lá o esqueleto da maldita assassina.
– Tem a certeza, é que… – Aproxima a cabeça – Há rumores que ela anda por aqui…
A estranha encara aquele rosto muito perto do seu. Alto, de olhos verdes e sem barba no rosto jovem. Cabelo castanho desgrenhado, parece que acordou e usou os dedos para o puxar para o lado. Musculado, devia treinar muito para manter aqueles peitorais salientes na roupa. Sedutor, apostava que tinha todas as mulheres a seus pés.
Então aproxima as narinas ao pescoço e sente o aroma. Semifeérico. Por mais sabão que usasse, não escondia o odor que, para um qualquer, era normal. Se fosse um feérico por completo, esse mesmo odor seria mais forte.
Arthur sente o aroma dela. Rosas, enaltecidas durante vários dias ao sabor da brisa salgada do mar. Estranho, até agora só uma mulher tinha aquele perfume.
– Tu… tu acreditas que ela anda por aqui? – Sussurra ao ouvido.
– Duvido que ande. – A estranha disfarça respondendo de igual.
Ambos recuam as cabeças dos pescoços e olham em volta. Que  inabitual, não era normal dois estranhos terem esse comportamento tão… atípico. Quer dizer, para os feéricos isso acontecia com frequência, assim sabiam de quem descendiam e identificavam-se. Ela era mortal, ele um comum homem, nem estavam num reino feérico. Não fazia sentido.
– Bem, como não és de cá… – Faz sinal para o acompanhar.
– E se negar?
– É só uma ligeira visita pela praça. – Mete a mão no bolso.
Dá de ombros, Gardennia mudou muito.
– Como ia dizer, hoje faz duzentos e dezasseis anos que este reino foi fundado por Alexander Elenthy. Então, todos os anos festejamos. Esta é a praça Egnedriasal, que significa…
– “Amanhecer” na antiga língua de cá. Mais tarde passou a Tarmeenys, porque Egnedriasal em Dementhy significa “abismo”.
Para e vira o rosto para o lado. Rara era a pessoa que sabia a língua antiga. Parecia que não, mas há duzentos e dezasseis anos atrás, para ser rei era preciso saber pelos menos,   os dois idiomas mais conhecidos. Ainda bem que a comum chegou e deu a volta ao mundo, ou seria impossível comunicar.
– O que foi?
– Nada. Apenas não é comum saberem o idioma antigo.. – O Lorde estranha.
– E este dragão? Tinha nome? – Aponta com o dedo.
– Meygadhor.
– Está vivo?
–  Dizem que desapareceu.
– Como?
– Ninguém sabe. Aliás, não nasci por estes lados.
– Nasceste em… Macendher. – Supõe.
Esbugalha os olhos. Deuses, saberia mesmo, ou não passaria de um palpite?
– Familiarizada com o povo do ocidente?
– Olha, neste mundo, só se pode nascer feérico em Macendher, Welling e Ashantya. Podem  descender de  fora, mas não convêm. Então, qual deles és descendente? De Macendher, és mestiço, um de cada.
Fica baralhado com o raciocínio. Muitos da sua raça nasciam em outros reinos que não os originais.
– És uma pessoa  incomum.
– Não, sou de Garthe. As pessoas de lá são todas assim… – Dá largos passos – Esse rei teve filhos?
– Alexander? Sim, dois. Dizem que primeiro nasceu Rolandwen, depois Ierynne…
A estranha pega num bolinho. O prato repousava sobre a bancada colorida. Rapidamente pousa a moeda de ouro.
– Mas não é o que eu acredito.
– Em que acredita? – Olha-o e trinca o bolinho.
– Que Ierynne era a única filha dele. Mas morreu e trancou a porta do quarto. Não há quadros sobre ela, nem registos escritos dos feitos, é como se fosse… – Faz uma pausa.
Sacode as mãos após comer e assente.
– Um fantasma. Como uma enorme sombra que nasceu no terceiro luar da primavera, há meia noite em ponto.
– Exato. Acho que ela devia ter lugar neste dia.
– E não tem?
– Não, as pessoas nunca falam dela. Dizem que fugiu ao dever… mas qual seria esse dever?
Dá de ombros ao pagar outro bolinho.
– Talvez o filho do rei não fosse de sangue e a verdadeira princesa ficasse revoltada com o eleger da corte. Então fugiu, fez com que fosse esquecida por todos e morreu a tentar.  Talvez até tenha lutado por algum tempo, e perdido perdeu a longa batalha… melhor assim, os cobardes não têm lugar. – Murmura.
– O quê? Do que estás a falar?
– O que eu faria se fosse ela… – Vira-se – Eu fugia e tentava desaparecer por completo.
Como os ratos fazem quando ouvem o mínimo barulho ao fundo do armário. O Lorde não conseguia entender esse receio de surgir à luz do dia e enfrentar o problema. Fugiu? Devia ter permanecido ali, ao lado do povo e do dever. E porque não o fez? Cobardia ou não, o passado continuava enterrado e pronto para assombrar.
Olha em volta antes de meter as mãos aos bolsos..
– Se eu fosse ela, se tivesse sobrevivido, voltava para relembrar as pessoas que Gardennia nunca foi abandonada. Ierynne merece este dia, como qualquer rei. – Limpa o recheio às calças.
– E se ela sentisse vergonha do que fez e não necessitasse voltar porque se sente bem na nova vida?
– Provavelmente está morta, que diferença faz?
– As almas também ouvem, sabes?
Assente sorridente.
– És estranha, sinto isso.
– Vaidoso, é o que vejo.
As trompetas soam na rua, as pessoas viram todas o rosto para a rua principal que levava aos portões do castelo. Batem palmas, levantam os braços bem alto e gritam o nome do rei. Lá, de braço dado à filha que amava, andava Gaius, feliz por ver que finalmente o reino estava todo empenhado no dia do seu nascimento. Acena, mostra o enorme sorriso e agradece o carinho do povo. Melody faz o mesmo ao baixar a cabeça levemente.
Logo atrás, Morgan e Setrevent encaminhavam o anual desfile de soldados. Eles representavam o poder e a ordem, protegiam o reino de qualquer coisa, principalmente das eventuais guerras. A população adorava assistir a todo aquele cortejo. Sentiam-se mais seguras.
As meninas com trancinhas invadem o caminho do rei e espalham as flores de papel. O maestro faz gestos para os músicos tocarem, começam a atirar ao ar papeizinhos aromatizados e cantam o hino de Gardennia.
O Lorde fura a multidão para se aproximar do estrado.
– Aquele é o rei? – A estranha pergunta ao segui-lo.
– É. Gaius Fhennys Elenthy. E aquela é a sua filha.
Estica os pés para ver por cima de um homem. Loira e com um vestido de penas. Dá de ombros, já viu princesas mais bonitas.
Assim que o rei chega ao trono, levanta a mão e o povo curva-se. O povo… a estranha fica de pé e repara que todos em volta se ajoelhavam no chão. Mais ninguém ficava de pé? Nem uma única alma? Olha para o cimo do estrado e encontra o olhar do monarca. Ele assente, como se pedisse para se curvar.
– Baixa. – Arthur puxa a mão dela.
Os joelhos colidem na pedra branca.
– Não é o meu rei. – Murmura para o Lorde – Não me curvo sem ser o meu rei.
– Lamento, mas aqui não tens escolha.
– Gardennia… – Gaius começa – Meu amado povo. Todos os anos festejamos o nosso nascer. Alexander Elenthy, meu antepassado… – Levanta a mão ao céu – Acabou com uma guerra e criou este reino. Temos tudo, nada nos falta.
O povo ouvia com a cabeça baixa, era verdade, sempre foram felizes ali.
– Este dia é mais para vós do que para mim. Espero no futuro que a minha amada filha… – Pousa a mão na da princesa – Melody siga as minhas pisadas. É o povo quem mais ordena, nós ouvimos e obedecemos.
– Mentira! – Uma voz grita.
As cabeças viram-se, os olhares procuram a contestação. O General aponta para o cimo de um telhado, os soldados agitam-se, tal como o povo que levanta do chão e começa a murmurar o que estava a acontecer. Gaius agarra no braço de Melody, quem era a mulher de capuz?
O Lorde levanta a vista e move-se um pouco. Não acreditava no que estava a acontecer. Com tantos dias, com tantas horas, ela tinha que aparecer no momento mais delicado do reino. As perguntas acumulavam-se, seria teatro? Seria encenação para tornar mais real?
Setrevent caminha ao encontro do amigo.
– Diz-me que tens tudo sobre controlo. – Sussurra ao ouvido de Arthur.
A resposta não sai, as mãos fechadas tentavam acalmar a raiva que surgia.
– Quem sois? – Gaius pergunta.
– Para lá da remota floresta, por entre as árvores mais densas da paisagem… é onde eu vivo. Não tenho nome, não tenho passado. Apenas sabem quem sou quando empunha-lo a minha lâmina… nos moribundos corpos que andam pelo meu caminho. Sou negra como a noite, fria como o gelo. Grita o meu nome quando morreres e espera o inferno.
Entre olham-se, do que a mulher estava a falar? Dão de ombros, espalhavam a pergunta como se fosse dada naquele preciso momento. Quem era? O que queria?
A estranha desata a rir, no meio de tantos confusos, ela ri e abana a mão contra o rosto. O Lorde vira o rosto para o lado e tenta entender o que lhe estava a dar.
– É a Lâmina Negra! – Arthur grita.
O que antes era confusão, dá lugar a um enorme receio que percorre os rostos das pessoas.
– Não é não. – A estranha comenta.
Olham para ela sossegada demais para a ocasião.
– É, claro que é. – Setrevent insiste.
– Garanto que não é.
Era ou não? Gaius senta no trono e suspira, o que raio estava a acontecer ali?
– Ela é tua ajudante? – O General  pergunta ao Lorde – É que se é para tranquilizar o povo, está a deixá-lo confuso.
O problema é que Arthur não a conhecia de lado algum, nem sabia que brincadeira era aquela.
– Sois ou não Lâmina Negra? – Melody eleva o tom.
Voltam o rosto para o cimo da casa. A mulher de capuz mira cada um, mais em concreto o Lorde que parecia a querer desafiar novamente. Perdeu no túnel, agora queria uma desforra.
– Sou.
A multidão não sabia o que fazer, correr ou ficar ali a ver? Lâmina Negra sempre foi uma lenda em Deland, poucos eram aqueles que acreditavam na sua existência. O facto de estar ali,  afirmar que era real, só alimentava e reforçava o que todos receavam, cair na desgraça, como Garthe caiu.
– É mesmo, Lâmina Negra? – A estranha recua até ao espaço vazio, perto do estrado – Estranho, ela jamais faria isso.
– Duvidas que seja a assassina mais violenta de Avantya?
– Por completo, até porque a verdadeira não estraga dessa maneira uma festa. Não sabem os rumores? – Abre os braços – Ela ataca sempre quando o rei regressa ao castelo. O que faz? Parte uma roda da carruagem e depois coloca-se no caminho. Onde é que tiraste tanta imaginação? É que lá em Garthe não enganavas nem os pedintes.
Em quem acreditar? Gardennia não sabia ao certo, mal conhecia aquela assassina que veio de Avantya. Ouviam rumores que, podiam ser verdadeiros ou falsos. A mulher de capuz dizia que sim, a outra dizia que não e nem sabiam para onde se virar. O Capitão faz sinal para o primo, e agora? Dá de ombros, nem ele sabia o que fazer.
– Quem és tu? – Melody pergunta à estranha.
– Rheynne Ellen.
– Ellen… – Arthur murmura.
– E conheceis a assassina de Garthe?
A estranha vira o rosto para a princesa. Se conhecia?
– Vejamos os factos… – Sobe as escadas.
Tanto o General como o Lorde avançam para o estrado, ela não podia lá estar.
– Lâmina Negra não é loira. Ela não espalha essa treta de frase inventada por um qualquer. Quer dizer, Dagneyta Anera também tem uma? Não, é absurdo. Se és a verdadeira, quem é o melhor da tua Guilda?
Aguardam a resposta.
– Pergunta difícil, vou para a mais fácil. Onde está a tua espada negra?
O Lorde concorda, no dia anterior não a viu usar a espada que lhe dava o nome. Aliás, ela nem mostrou a tatuagem de membro dada Guilda da Morte.
Sem reposta  Rheynne sorri, jamais poderia ser a verdadeira.
– Volta para casa que já vais tarde…
A voz cessa assim que a assassina puxa a espada e a levanta à luz do sol. Negra como as penas dos corvos, grande como o dia em que foi forjada, antiga como o nome que a assombrava. O suspense acaba, tal como as dúvidas em torno daquelas acusações. A verdadeira, a autêntica e não existia mais argumentos contra.
Como podia ter a espada se os rumores diziam que ficou perdida no vasto oceano quando a princesa morreu?.
– Então e agora, Rheynne Ellen?
O rei levanta, caminha para as grades do estrado e faz um gesto para a mulher se afastar. Lâmina Negra, bem que suspeitou a sua presença nas ruas de Gardennia. Já lhe tinham alertado, mas jamais suspeitou que ali estivesse por pensar que era só um fútil rumor. E nunca comentou com os amigos que o protegiam, não os queria alarmar.
Uma dor invade o peito, a mão sobe para o coração. As pernas fraquejam e Gaius agarra-se à filha.
– Majestade. – Arthur sobe as escadas.
Porém, tropeça e cai sobre os degraus. Setrevent segura no peito dele e o tenta puxar para cima, mas as veias do pescoço do Lorde começavam a ficar negras.
– Arthur! – Vira-o e deita no chão.
Morgan faz sinal para o povo recuar, os soldados invadem a praça e criam uma barreira para conter os curiosos. A princesa senta o pai no trono e pede para respirar lentamente, começava a ficar vermelho em todo o rosto.
E a estranha, mirava a impostora no cimo do telhado. A verdadeira? Nunca da vida, nem naquela, nem na outra.
– Foram envenenados! – o General grita.
– A culpa é dele. O Lorde devia ter proibido o meu pai de beber! – Melody comenta desesperada.
Culpado? Arthur podia não se conseguir mexer, mas conseguia ouvir. Ela até se sentiu ofendida quando provou o vinho. Mas não estava envenenado, teria sentido no paladar se estivesse.
– Chamem o curandeiro! – Setrevent grita a um soldado.
Tanto o rei como o Lorde estavam incapacitados, não conseguiam falar e a respiração tornava-se pesada. No pescoço, as veias negras subiam pelo  queixo. Pouco tempo de vida, o coração não ia aguentar.
Rheynne conhecia o veneno, Garthe adorava matar sem que alguém desse conta. Começa a descer as escadas, todos em pânico, momento perfeito para desaparecer antes que fizessem perguntas absurdas. Então os passos param.
Não podes ir, não podes. Salva pelo menos o rei.
Nega, nem ele, nem o Lorde. Gardennia deixou de ser o seu reino.
Quanto mais teimosa fores, pior. Ou salvas, ou os vês morrer.
Vira o rosto para o homem deitado no chão. O coitado gostava de Gardennia, percebeu isso no modo em como mencionou a festa  assim como referiu a falecida princesa. O rei não tinha salvação, mas ele sim, os feéricos eram mais resistentes aos venenos.
Eu odeio-me por completo.
Caminha, arranca a adaga da algibeira e afasta o General.
– Não! – Agarra-o pelo tronco.
– Vou salvá-lo! – Berra-lhe.
– Não tocas no meu amigo.
– Preferes que morra ou viva?
Setrevent pensa um pouco. Não podia confiar a vida do Lorde a uma estranha. Mas estava sem alternativas. Larga-a e assente.
– Salva o meu pai, por amor aos deuses. – Melody pede ao se ajoelhar no cimo das escadas.
– Ele não, os mortais não resistem a este veneno. – Rheynne baixa-se ao lado do pescoço do Lorde.
– É o rei, ordeno-te que o salves.
– Salva-o. – Arthur murmura .
Nega. Desesperada, a princesa desce as escadas a chorar e o General agarra-a. E grita, pedia para ajudar o pai, pelo menos ele.
Rheynne aproxima o tronco ao do semifeérico, segue a veia que começava a escurecer. A melhor forma de conter o veneno, era fazê-lo sair. Afasta a túnica , passa os dedos pela pele que dava lugar a fios negros. Antes de chegar ao pulso, aproxima a lâmina  e perfura lentamente, até o sangue começar a jorrar.
O curandeiro chega. A caixa de madeira na mão.
– O meu pai, rápido! – Melody pede ao sair dos braços do General.
O homem velho sobe as escadas quase a correr e pousa os utensílios. Depois, abre mais os olhos de Gaius e aproxima o ouvido ao peito dele para escutar o coração. Abana a cabeça, infelizmente não sabia como ajudar.
– Tu vais salvá-lo… – Agarra nos colarinhos do curandeiro – Vais salvar o meu pai, é o teu rei! – Grita.
– Lamento alteza, não há nada que possa fazer.
Continua a gritar, pedia para fazer algo. Não podia perder o pai, precisava dele. Morgan agarra-a nos braços e recua antes que matasse o curandeiro. Desata a chorar novamente. Nem conseguia olhar no rosto do rei, não conseguia vê-lo morrer assim, sentado no trono, a olhar para o povo aflito.
O sangue que escorria pelo braço do Lorde começava a limpar o veneno. As veias negras recuavam, procuravam a saída para dispersar. Arthur enche os pulmões com ar e a visão turva encontra a estranha.
– Ele vai ficar bem? – Setrevent abaixa-se.
– Vai. São venenos difíceis se não os conheceres. Os feéricos resistem sempre, os mortais não. – Rheynne limpa a lâmina da adaga à roupa.
O General vira o rosto para o rei e, assim que o curandeiro retira da cabeça o chapéu, as lágrimas invadem os olhos. Morto. Levanta do chão e sobe as escadas. Morto. É como se um enorme tambor fosse tocado com força. Mal conseguis subir, mal consegue endireitar o corpo que tremia. Morto. Cai de joelhos em frente a ele e chora.
O povo dá conta que algo aconteceu ao rei. Desatam a gritar, pediam para não ser verdade. Uns começam a chorar, outros tentam passar pelos soldados buscavam a verdade que odiariam. Um reino sem rei, isso não podia acontecer.
A estranha dá conta do motim que aparecia no meio da praça. Porquê? Desgovernados, ninguém merecia ficar sem rei no dia em que aquele reino nasceu. Onde já viu isso acontecer? No passado…
Baixa o rosto. O passado.
– Gaius. – Arthur tenta falar.
– Morreu. Lamento. – Cobre o corto assim que o sangue começa a sair.
– Mor… Mor… – As lágrimas invadem os olhos – Não… – Tenta erguer o tronco.
Mas Rheynne coloca a mão na cabeça dele e força-o para baixo.
– Ainda não podes levantar, o veneno tem que sair por completo.
– Mor…
– Gaius não tinha salvação. Só podia salvar um dos dois, escolhi o mais forte.
Desiste de levantar, a visão turva vira para o cimo do telhado. Desapareceu. A Lâmina Negra não estava mais lá. Então baixa o olhar para o braço junto ao rosto. Braçadeiras de ouro… não deu conta delas quando a ajudou a levantar do chão. Ellen… vira o rosto, a visão começa a escurecer, o rosto da estranha desaparece.
– Ellen. – Murmura antes de desmaiar.
Assente ao recuar o braço. A própria.

Música de capítulo: fallout - unsecret

Lâmina Negra (Volume 1) - Começo Das TrevasOn viuen les histories. Descobreix ara