The Harbor

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Luke esgueira-se para a parte de trás da caravana, saltando desajeitadamente por cima dos bancos, e abre o tejadilho, à pressa, metendo a cabeça de fora.

Já posso sentir o vento marítimo, que provém do mar de Santa Bárbara. Chegamos ao nosso primeiro destino e eu não consigo sequer explicar a minha felicidade ao sentir que consegui chegar à cidade costeira sem a ajuda de ninguém. Apenas eu e a minha caravana. E agora Luke Hemmings, o sem abrigo que eu apanhei no meio da estrada.

"Para!" o rapaz fala, ainda com a cabeça de fora, e eu mal percebo.

Riu alto, ainda conduzindo e prestando atenção à estrada. Digo, com um sorriso desenhado no rosto:

"Não posso parar agora. Estou no meio da estrada!"

Luke volta a entrar na minha carrinha pão-de-forma, mas não fecha o tejadilho e eu agradeço-lhe mentalmente por isso. Provavelmente os quilómetros que conduzi serão o maior trilho que irei ter que fazer durante a minha viajem. Se eu fiz isto, tudo o resto será possível.
Tudo o que me separa da praia, neste momento, é apenas uma faixa da estrada e cinco metros de areal cheio de gente, mesmo sendo quase meio dia.

"Estou cheio de fome" ouço Luke falar e olho-o através do retrovisor. Tem o queixo apoiado nos bancos da frente e parece estar agachado para não bater com a cabeça no teto.

"Tenho que arranjar um lugar para estacionar." falo, olhando sempre de um lado para o outro e quase rezando mentalmente para que houvesse algum lugar disponível nesta cidade.

"Tens a noção que te enganaste no caminho meia dúzia de vezes, não tens?" pergunta-me, como quem não quer saber.

"Foram só cinco!" retruco e riu-me quando o vejo a revirar os olhos. Permanece calado.

Demoro um pouco a encontrar estacionamento. É um pequeno espaço em terra batida, agora quase coberta com areia, certamente por causa dos banhistas que sacodem o seu calçado e toalhas antes de entrar nos carros. Não sei se foi destino mas, ao olhar para a foto da minha mãe que estava afixada na carrinha pão-de-forma, reparo que foi neste mesmo lugar que a minha mãe parou quando fez aquela mesma viagem, há vinte anos atrás.

"Está tudo bem?" Luke pergunta, voltando-se para mim e ignorando a paisagem que apreciava à segundos atrás. Sem dúvida que é una das mais belas que eu já vi.

"Sim. Vamos comer!" digo, fazendo um sorriso forçado e, quando ele me deixa de olhar, passo as costas das mãos disfarçadamente nas minhas bochechas para limpar quaisquer vestígios de lágrimas que possa haver.

As ruas estavam praticamente vazias. Nenhum dos banhistas se incomodava em sair da praia para ir almoçar, o que era melhor para nós.

"Vamos onde?" Luke pergunta, quando me vê a caminhar em direção a uma loja de roupa em segunda mão. A sua montra tem manequins despidos e a iluminação no interior é pouca.

O sino toca quando eu abro a porta e uma senhora de idade aparece atrás do balcão. Parece feliz por nos ver. Não deve haver muito movimento neste tipo de locais.

"Eu não entro aí!" ouço a voz do rapaz um pouco baixa e distante e, ao voltar-me, encontro-o com os braços cruzados enquanto bate com o pé direito intensivamente no chão, criando um barulho irritante, quando aumenta a velocidade cada vez mais.

"Não vens aqui, não compras roupa, não entras em nenhum restaurante e não comes!" digo, com um tom já um pouco elevado e resmungão. Ele às vezes parece mesmo uma criança.

"Mas eu gosto das minhas roupas..." ele insiste, como uma criança que faz birra. Reviro os olhos e ignoro-o, entrando na loja e deixando-o sozinho.

Homeless Boy In My Van |LH ✔Where stories live. Discover now