"Quem diabos é você? E quem foi que te mandou aqui?" O homem de seus quarenta e poucos anos, magro e alto estava inquieto no canto da sala. As roupas escuras ainda saiam fumaça.
"Humm... Colocaram fogo em você. Mas você não morreu não é?" Magh estava de pé no meio do cômodo, deixando claro para Vichenzo que ele não tinha para onde ir.
"Vai me matar? Faça isso logo..." o Homem não demonstrava medo.
"Estou aqui para ajudá-lo a morrer. Mas não mata-lo. Alguém já tentou fazer isso, mas não deu certo." Magh falava enquanto tinha alguns tiques nervosos na cabeça, como pequenos espasmos.
Vichenzo olhava pelo cantos, procurando algo que pudesse usar para se defender ou uma rota de fuga. Até que notou o pântano escuro lá fora. "Então é assim? Eles te enviam, você me apaga e joga meu corpo naquele pântano?"
"Eu não apago ninguém. Você já está quase morto. Na verdade acho que eles até já te enterraram... Muito mal pelo visto... Você sabia que está fedendo? Tem fumaça saindo da sua roupa..." Magh ficava cada vez mais irritado.
"Então você não está aqui para me matar... E pode me ajudar a voltar?" Vichenzo demonstrou um leve sorriso.
"Não! Eu estou aqui para convence-lo a morrer. Você já cumpriu sua missão, foi um homem bom, agora está na hora da próxima etapa." Magh abriu os braços inconformado, os tiques aumentavam.
"Eu bom? Você sabe quem eu sou? O que eu fazia?"
"Hummmm... você andava com pessoas ruins. E daí? Todo mundo tem essas fases. O que importa é que você está liberado para continuar. Não precisa mais ficar fugindo..."
"Hahahaha...Eu quero voltar, e vou acabar com a raça de cada um daqueles filhos da puta que me colocaram aqui!" O homem esbravejava. "Eu sou um assassino contratado. Acha que quero encarar o dia do meu julgamento? Quero mandar todos pro inferno antes de ter a minha vez!"
"Tá ficando difícil... Não tem nenhum julgamento. E se eu fosse você eu não ficaria pronunciando a palavra inferno na sua situação." Magh se sentou na poltrona. E soltou o ar dando a entender irritação e talvez desistência. Até que foi surpreendido pela Dona Boufal na porta. Ela estava estranha, cabelos cobrindo o rosto e tinha uma faca nas mãos:
"Deixe ele pra mim então. Vamos guarda-lo aqui. Já que ele não quer ir embora..." A voz dela era sinistra e maliciosa.
"Quem é a velhinha?" Perguntou Vichenzo, mas desta vez estava sério, petrificado.
Magh tinha tentando assusta-lo e convence-lo, mas não acreditou quando sentiu medo no olhar do assassino: "HUmm... É assim que funciona. Ou você aceita sua morte, sem inferno, nem julgamento, é só seguir para a próxima etapa, numa boa. Ou fica preso aqui, ou vagando naquele pântano lá fora pela eternidade. você escolhe... E não, não tem como voltar e realizar uma super vingança generalizada."
O homem estava com dúvidas, e mantinha os olhos contraídos, tentando entender se aquilo era só um blefe. Neste momento se ouviu uma barulho horrível. "AAAAHHHHHRRRRR" Os gritos vinham com eco, gritos de dor do careca Glushakov seguido das risadas insanas da senhora Boufal.
"Você diz que não serei julgado. É só continuar?" O homem estava com a voz fraca.
"Sim... Apenas aceite a morte, abandone o sentimento de vingança que está te segurando. Se solte..." Magh recitou, guiando o homem que foi se aliviando e desaparecendo.
Após alguns minutos Dona Boufal apareceu de novo. "Bela atuação..." Disse Magh animado.
"De nada!" Devolveu a senhora ajeitando os cabelos ao seu penteado normal. "Mas foi ideia dele."
Magh a encarou menos animado: "Eu devia imaginar... Vocês andam conversando né? Mas eu ainda não estou afim de solta-lo."
Magh saiu andando mancando das duas pernas.
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Os Contos de Morrer Magh
Short Story"Chegou o seu momento... Você já não precisa mais trilhar o antigo caminho. Venha... Você precisa morrer."