Grupo de estudos

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Na quarta-feira estou decidida a conversar com a minha mãe sobre o acampamento de férias e a festa na casa do Caio. Eu sei que será difícil, mas tentar nunca matou ninguém.

Depois de muito matutar, decidi começar pelo assunto mais fácil. A festa do Caio. Então, acordei mais cedo que o habitual, arrumei a minha cama e segui para a cozinha para preparar o café da manhã antes que ela acordasse.

Minha mãe e eu moramos sozinhas desde que o meu pai se encantou com outra mulher e nos deixou. Atualmente ele mora em São Paulo com uma tal de Viviane e só lembramos dele e ele se lembra de nós no final do mês quando chega a minha pensão.

Antes de virmos para o Rio, morávamos em Niterói perto dos meus avós maternos. Quando soubemos da mudança, eu e minha avó sabíamos que isso faria um bem danado para a mamãe. Ás vezes eu acho que ela sente muita falta do meu pai, mas não diz nada. Com a mudança ela se tornou uma outra mulher e eu acho que ela já tem até um paquera, mas ainda não me contou nada. Torço para que seja verdade.

Atualmente nossa casa, ou melhor, apartamento, é em um condomínio em Copacabana. O escritório da mamãe cobriu todas as nossas despesas com a mudança e só por isso conseguimos morar na Zona Sul. No início minha mãe economizou em tudo para que pudéssemos á longo prazo ter uma vida confortável aqui. Nosso apartamento é razoavelmente grande com dois quartos e a suíte da mamãe. A vista é linda demais e eu adoro ver o sol se pôr da janela do meu quarto.

Sigo para a cozinha ainda de pijama para preparar o café da manhã. Depois de alguns minutos vejo minha mãe na soleira da porta me observando. Meu coração dá uma cambalhota e fico imediatamente nervosa com a conversa que vamos ter.

– Ai, mãe! Você me assustou. – Digo, colocando a mão sobre o peito em uma reação exagerada.

– Desculpe, querida. Estava admirando a sua obra. – Ela aponta a mesa posta enquanto se aproxima de mim e me dá um beijinho no alto da cabeça

– Já de pé á essa hora? Qual é o milagre? – Ela parece surpresa com a minha súbita disposição pela manhã. Eu costumo enrolar bastante antes de levantar da cama.

– Perdi o sono. – Minto na cara dura fazendo cara de paisagem. Sou uma péssima mentirosa e sei que ela percebe que algo está errado.

– Já mediu a glicose? Tomou insulina? – Todos os dias pela manhã, antes e depois do café, eu meço a glicemia com meu aparelho de glicosímetro. É um aparelhinho tipo um celular pequeno. Nele eu enfio uma pequena tira de teste, furo meu dedo com a caneta e aplico o sangue na tira. Em cinco segundo aparece no visor o nível da glicose. Depois disso eu aplico a insulina. A insulina eu aplico com uma caneta que tem uma agulhinha na ponta. Eu posso aplicar na barriga, nas coxas, na área exterior dos braços e no bumbum. Não é muito dolorida, mas também não posso dizer que não doí. Faço isso antes e depois do café, almoço e jantar. É uma vida difícil, mas totalmente suportável.

– Sim para a primeira pergunta e não para a segunda! – Digo sorrindo para ela.

– Engraçadinha! Vai tomar agora. – Ela diz enquanto se serve de café. Eu vou até perto da geladeira e pego meu estojo com a caneta de insulina. Coloco quanto devo aplicar e injeto na barriga fazendo uma pequena prega. É como uma picada de um inseto. Segundos depois já apliquei e vou em direção a mesa tomar meu café da manhã desenvolvido pela minha nutricionista. Enquanto preparo meu pão de forma integral, puxo assunto com a minha mãe que está lendo o jornal na mesa.

– Mãe, na sexta depois do jogo do time, os garotos vão dar uma festinha para comemorar. Eu posso ir? – Peço com toda a meiguice do mundo.

– Aonde vai ser? – Ela me pergunta tirando os olhos do jornal. Minha mãe conhece todos os meus amigos. Somos muito amigas e eu conto tudo para ela. Por isso ela sabe da fama do Caio. Ela já defendeu os pais dele em caso no ano passado. Minhas esperanças indo por água abaixo em 3, 2, 1...

Depois Daquele VerãoOnde histórias criam vida. Descubra agora