Destruição iminente

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Com o coração na boca e a cabeça girando, passo por corpos suados e gritos histéricos sem nada ver.

É como se o céu estivesse desabando sobre minha cabeça e a terra se partindo ao meio. Será que ninguém percebe a destruição iminente? Ninguém é capaz de ouvir os gritos e a confusão em minha mente? Sinto que vou sufocar á qualquer momento!

Sigo andando sem ver o caminho e de repente não sei mais para onde ir. Para onde foram todas as pessoas? Havia uma multidão agora mesmo aqui, para onde foram? Posso ouvir vozes ao longe, mas quase já não vejo ninguém.

Sinto um entorpecimento por todo o corpo e minhas mãos começam a tremer. Minha glicose está baixando e eu não faço a mínima ideia onde estou. Minha mochila com meu celular e alguns doces ficaram na arquibancada com Bia e Mathias e agora também não tenho ideia onde eles estão.

Minha visão começa a ficar turva e um suor gelado corre pela minha pele. Preciso comer alguma coisa agora, antes acabe desmaiada sobre esse gramado com uma crise seria de hipoglicemia.

Com o peito arfando e sem quase enxergar nada, trombo com uma pessoa e só não acabo no chão, pois braços fortes me seguram de pé e junto de seu corpo.

– Ei, linda. Cuidado aí. – A voz de Guilherme soa próxima demais. Suas mãos em contato com a minha pele me dão asco.

– Ah, não. Dois no mesmo dia é demais pra mim. – Tento me desvencilhar de seus braços e no esforço acabo ficando mais tonta e preciso me segurar nele para não acabar no chão. A percepção de que tenho dificuldade de levar ar para os pulmões me dizem que minha glicose deve estar mais baixa do que eu pensava.

– Lil, tá tudo bem? – Ele diz com preocupação aparente em sua voz. Passo a mão pelos olhos para tentar tirar a nevoa deles e quase posso ver seu rosto agora. 

Os olhos castanhos de Guilherme me encaram de cima. Seus cabelos cachados cobrem-lhe os olhos e lhe dão um ar de menino. Ele veste jeans e uma camiseta preta e não exibe sorriso nenhum. Sinto um salto no estomago e preciso acalmar meu coração.

– Eu estou bem. Me solte! – Balanço meus braços em uma tentativa de tirar suas mãos de mim.

– Bem? Você parece não se aguentar de pé.

– Eu já disse que estou bem. Me deixa! – Dou passos incertos e sigo para frente deixando-o para trás. Mas é claro que não tenho tanta sorte assim, pois ele vem atrás de mim. Que saco!

– Lil, espera. Vamos conversar. – Ele tenta capturar o meu braço, mas sigo em frente obstinada. Ou nem tanto assim com meu corpo quase desfalecendo.

– Guilherme, eu não tô com paciência pra você hoje. Por favor, vai embora!

– Peraí, pra onde você vai? Não tem nada lá pra frente. – Ele aponta para o que eu achava ser a saída. Olho de novo com cuidado e vejo que ele está certo. Esse clube fica em uma área de mata e onde eu estou vejo cada vez menos pessoas e mais árvores e plantas. Que droga!

Dou a volta rápido demais e acabo trombando outra vez nele.

– Dá pra sair da minha frente?! – Pergunto irritada.

– Espera, você tá muito branca. E irritada. Cacete, você tá muito gelada. Você tá sentindo aquilo, não é? – Uma ruguinha se forma em sua testa, prova de que ele está preocupado. Odeio que ele me conheça bem.

Minha mãe já ensinou mais de uma vez ao Guilherme os sintomas de uma hipoglicemia e como cuidar de mim se isso acontecer. E mais de uma vez ele já me salvou de uma crise.

– Sim, Guilherme, eu estou me sentindo mal, então será que dá pra você sair da minha frente e me deixar cuidar disso? – A pressão do dia começa a chegar e aliada a hipo fico cada vez mais irritada a ponto de querer esganar um. Se esse um for o Guilherme, melhor ainda.

– Não, nada disso. Eu não tenho açúcar aqui, então você vem comigo. – Sem que eu esperasse, Guilherme se abaixa e coloca uma mão atrás da minha cintura e outra atrás dos meus joelhos. Fico tão surpresa com sua atitude que nem falo nada quando ele me pega no colo e sai andando.

– Guilherme, o que você tá fazendo? Me põe no chão, agora! – Me debato em seus braços, mas ele não se abala. Que abusado!

– Fica quietinha aí. Eu vou cuidar de você. Eu te amo, Lil. Não se esquece disso. – Colando meu corpo mais junto do seu, ele fala bem próximo da minha orelha. Estou me sentindo tão fraca que seu aperto é um conforto. Me deixo se carregada com a promessa de que quando estiver melhor, vou matá-lo com as minha próprias mãos. 

Depois Daquele VerãoWhere stories live. Discover now