Lorena

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Entro em casa e me reparo com um bilhete de mamãe em cima da mesa.

"Lorena,
Fui passar a semana na casa do meu novo namorado. Tem comida congelada na geladeira, basta esquentar. Deixei dinheiro em cima da sua cabeceira, caso a comida acabe. Beijos.
Mamãe."

De imetiado, fiquei chocada com a noticia de que mamãe tinha um namorada, coisa que eu nem sabia. Mamãe não tinha atrativos, como conseguiu arranjar o tal "namorado"? Talvez isso fosse apenas uma desculpa para ficar longe de mim. Ou talvez ela tenha mesmo arrumado um namorado e nunca me falou. Eram inúmeras possibiludades, já que eu quase não trocava meia palavra com mamãe.
Sento-me no sofá e ligo a televisão, onde me deparou com mulheres semi-nuas e programas policiais apelativos. Logo, desligou a TV e percebo que o melhor é mantê-la desligada, já que a mesma só exibe porcarias.
Sento-me do lado do telefone e fico esperando ansiosamente uma ligação de Bruno. Anseio por sua voz grave e excitante.
Enfim, o telefone toca, e é Bruno, mas sua voz não estava como de costume, estava triste. Posso dizer que foi a primeira vez que vi, ou melhor, ouvi Bruno triste. Parecia estar chorando.
- L- Lorena? - pergunta, com a voz de Choro.
- oi? Você tá bem? - pergunto, embora já soubesse a resposta.
- não, não e não! - disse ele, com uma voz que misturava tristeza e raiva ao mesmo tempo. Ouvi o barulho de soco na parede três vezes.
- Bruno, o que aconteceu? - pergunto, já preocupada.
- a Iris...- ele não terminou a frase.
- o que tem ela?
- E-ela...ela se matou!
Naquele momento, fiquei paralizada. Era um misto de sentimentos. Fiquei distante.
-Lorena?- chama Bruno, com a voz desesperada.
Por um momento, foi como se eu estivesse com os pensamentos longe.
- oi - finalmente respondo, mas á essa altura ele já havia desligado.
Por mais triste que estivesse, não derramei uma só lágrima. Parece que eu desaprendi a chorar. Nem lembro qual foi a ultima vez na vida que eu chorei.
No facebook, milhares de pessoas lamentaram a morte de Iris. Entretando, pela tarde, na hora do velório, nenhum dos cinco mil amigos que Iris tinha no facebook apareceu no velório. Alguns mandaram flores. Iris era extremamente popular, então imaginei que apareceria mais gente, o que não aconteceu.
Não tive coragem de chegar perto do caixão, fiquei apenas observando de longe a dor de Bruno que, pela primeira vez na vida, eu vi chorando. Não falei com Bruno no velorio. Na verdade, eu só apareci no velório para não dizerem que eu não era uma boa amiga. Na manhã seguinte, me vi obrigada a aparecer no enterro. Sempre odiei cemitérios, pois é um clima muito pesado. Forcei ao máximo o choro e, quando finalmente as lágrimas escorreram, me aproximei de Bruno e toquei no seu ombro. Ele estava desolado.
- Bruno?- disse, com a mão em seu ombro.
Bruno se vira para minha frente e me abraça fortemente. Sinto suas lágrimas nos meus ombros. Sinto que ele precisav do meu abraço.
- como ela se matou Bruno? - pergunto.
- ela cortou os pulsos- responde, com os olhos vermelhos.
- por que ela fez isso?
- ela e eu brigamos horas antes.
Ele me abraça novamente. Eu o Afasto de mim.
- Bruno, você não tem condições de ficar sozinho. Se você quiser eu posso ficar na sua casa com você essa semana.
Bruno balança a cabeça e concorda. Ótimo! A morte de Iris serviu como pretexto para eu dormir na mesma casa casa que Bruno.

LorenaWhere stories live. Discover now