Lovely Daisy - Inesperado.

Capítulo 5 - Indignação

“O homem pode suportar as desgraças, elas são acidentais e vêm de fora: o que realmente dói, na vida, é sofrer pelas próprias culpas.” (Oscar Wilde)

— Daisy! – a garota ouviu Mason berrar enquanto ainda encarava o corpo de Ian jogado ao seu lado, totalmente desacordado. Não teve forças para levantar o olhar até ele, que chegara junto de Celine para socorrer a loira e o garoto de olhos azuis que se sentava na mesma posição e insistia em olhar para Daisy com o seu rosto assustado e completamente congelado.

  Ao ficarem de frente com a amiga, Mason e Celine se ajoelharam aos pés da garota. Mason inclinou-se até ela, tocando o rosto da loira com seus dedos trêmulos e que demonstravam o quanto ele se espantara com a atitude dela. Ele notara que Daisy tinha seus olhos fixos no chão e que seu corpo tremia involuntariamente, mostrando o quanto havia ficado assustada.

— O que aconteceu? – Celine vociferou com sua voz adenoide e trêmula – Você enlouqueceu de vez?!

  Daisy não sabia mais como trocar olhares com os amigos, muito menos palavras. Tudo o que ela conseguia fazer era encarar o corpo do homem jogado no chão e o rapaz ao seu lado, que antes viera gritando seu desespero e que agora tinha um telefone entre os dedos e gritava palavras de socorro para alguém.

— Daisy, fale comigo – Mason apertou o rosto duro da loira em suas mãos macias. Por um momento ela encarou os olhos negros do amigo, mostrando para ele o que ela mostrara apenas uma vez quando eram mais novos: horror. A tormenta dançou nas íris verdes e encharcadas da loira quando ela desviou o olhar para baixo, tentando afastar as mãos de Mason do seu rosto. O garoto arquejou e olhou para Celine com a expressão de total preocupação. – Ligue para o senhor Clark, Cece. Rápido.

  Ele desceu os olhos para a figura desanimada do garotinho sentado perto da loira, e então os subiu novamente para a professora que parava ao lado dele com os braços cruzados.

— Como ele foi parar no meio de um cruzamento? – ele exclamou imediatamente – Onde vocês estavam pra evitar isso?

  A professora de cabelos curtos e braços grossos encarou Mason com a expressão de completa frigidez, erguendo as sobrancelhas em resposta. Ela voltou seus olhos para o menino sentado na calçada com seu queixo apoiado entre os joelhos, e que encarava o corpo do rapaz que havia salvado ele e Daisy de algo pior do que alguns arranhões. Algo muito pior.

— Charlie sempre nos deu problema, não é a primeira vez que isso acontece.

  Ao ouvir o que a mulher disse, Celine levantou seus olhos para o rosto dela, abismada com o que havia ouvido.

— Como pode dizer isso? É apenas uma criança! – e provavelmente uma criança com problemas, pensou a sulista ao dizer tais palavras. Ainda não conseguira processar a informação de que Daisy havia se colocado entre o caminho de pelo menos três carros para salvar aquele menino atordoado. A amiga de Daisy tentava voltar à cena anterior ao acidente, quando ela e Mason fumavam seus cigarros amarelos e se distraíam com a fumaça formada pelas bocas de ambos enquanto Daisy se encostava à parede branca da Elly’s em silêncio, entretida com os próprios pés.

  Celine virava sua memória de cabeça pra baixo para poder resgatar alguma lembrança de tê-la visto saindo de seu posto para poder empurrar o menino para longe da quantidade significativa de carros que o atingiria em qualquer segundo, mas não havia nada. Só se lembrava do momento em que direcionou suas íris negras para onde vinha o barulho ensurdecedor das buzinas desesperadas e dos pneus derrapando pela pista. Não sabia como Daisy havia sido tão rápida e também não sabia como ela havia visto o menino se deslocar até o cruzamento.

  Mas então se lembrou de que aquela era Daisy, e de que nada e nem ninguém escapava dos olhos tão inquietantes e verdes da amiga.

— Uma criança que não sabe viver sem atormentar os outros – a professora cuspiu entredentes, mal ligando para a probabilidade do menino estar machucado.