Capítulo Terceiro

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Você pode se chatear, eu sei que uso muito a palavra medo, mas EU ESTOU COM MEDO! Mesmo assim continuo correndo, aproximando-me cada vez mais do polvo-prateado-gigante.

Diminuo a velocidade para não assustar o velho Ciro, olho para o céu e vejo bem de perto as luzes acertarem as aeronaves e fazerem-nas desaparecerem de vista instantaneamente. Noto que a luz formava uma espécie de vórtice que engolia a aeronave. Arrepio-me todo e não tenho um bom pressentimento.

Volto meus olhos para o velho Ciro. Este continua dando as costas para mim, mirando o polvo-gigante, decidindo-se entre jogar-se ou não.

– Ciro! Não! O que o senhor vai fazer?!

O velhinho de 95 anos se vira tão rápido como se tivesse 20. Os ralos pelos de sua careca enrugada parecem revoltados com as baforadas de ar gélido. Semicerra os olhos, tentando me reconhecer.

– AHH! MEU VÉIO NÉFII! Veio pa vê eu in ação!

Não faço ideia do que ele quer dizer, até que vejo o que segura na mão direita...

– O que é aquilo que ele está segurando? – Tenho um susto. Viro-me e Estêvão está a meu ombro. – Parece uma granada.

Procuro avidamente por meus pais lá trás. Vejo meu pai dando instruções a minha mãe e minha irmã, preparando-se para vir até nós também.

Faço minha atenção voltar ao velho Ciro, ele me dá uma piscadela e gira nos calcanhares. Engulo em seco quando percebo que o que ele havia acabado de deixar cair é o pino de segurança da granada, e assisto enquanto ele agita o braço direito como se estivesse jogando beisebol, afrontando o inimigo gigantesco de outro planeta.

Acontece em câmera lenta. Ciro tem força, não somente ossos com artrite. Joga a bomba com o máximo de si e a vejo ir em cheio ao polvo-gigante... fazendo um arco no céu...

A explosão me deixa surdo momentaneamente e me faz cambalear.

Rajadas de luz explodem no alto para todos os lados. Meus ouvidos zumbem enquanto tento me levantar. Estêvão me auxilia puxando-me pelo braço.

– O que foi que aconteceu?! – exclamo.

– Não sei, parece que...

ACEITEI BEM NU TEINTÁCULO! IRRÁ! – O velho Ciro vem comemorando, afoito, como um velhinho pulando carnaval animado.

– Olha!

Acompanho o dedo de Estêvão. De fato um dos tentáculos entra e sai de visão, remexendo-se para todos os lados. Lembro-me de certa vez em que meu pai e eu matamos uma cobrinha: cortamos uma parte do corpo dela, e elas começaram a se remexer loucamente. Da extremidade do tentáculo, da ventosa aberta como flor em quatro pétalas de metal, balas de luz são regurgitadas sem controle, indo para todas as direções. Algumas para cima, descendo depois como uma gota de chuva e fazendo sumir o que quer que encontre.

– Corre! – Estêvão berra.

Corro em direção à minha família, quando vejo que meu pai também vem a nosso auxílio. E é quando minha espinha vira gelo ao vê-lo ser banhado por um dos globos de luz expelidos pelo polvo-gigante. A coisa se transforma num vórtice que engole meu pai e boa parte do piso da cobertura.

Não... Meu pai some.

Vejo minha mãe correndo desesperada, chorando, em direção da cratera recém-formada onde meu pai esteve segundos antes. Eu havia estancado com o fato de meu pai ter sido acertado, mas junto com Estêvão começo a contornar o buraco a fim de chegar onde minha mãe está. Quando outro globo de luz a acerta e a faz desaparecer num vórtice...

Néfi LIVRO UM IrmÃWhere stories live. Discover now