Capítulo 03 - Um Pouco de Mim

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Suponho que depois daquela visita noturna, me tornei um ser mais seguro, mais crente de que tudo aquilo passaria. Eu sabia muito bem que Felipe havia entendido, muito mais as palavras do meu pai do que eu, isso o deixou irritado, eu não podia perceber o que aquilo dizia mesmo, mas não era bom, definitivamente não era.

Decidi ficar mais ameno, para que minha mãe sofresse menos com tudo aquilo, eu sabia que ela sofria o suficiente. No dia do meu aniversario de 12 anos, presenciei uma discussão enlouquecida.

Fazia dois anos que eu e Felipe estávamos nos vendo raramente no horário do almoço, a ditadura imposta pelo papai estava durando muito, eu ainda sentia falta das brincadeiras dele, do sorriso dele, do amparo dele, mas não desisti de esperar, pois ele gostava muito de mim.

Depois de cortar o bolo e entregar o primeiro pedaço a ele, senti um pouco de ira no olhar do meu pai e um desesperado contido em minha mãe, os convidados foram embora e então a confusão começou:

- Eles não deixaram de ser as mesmas pessoas. Foram dois anos inúteis – dizia meu pai a minha mãe na sala.

- Você transformou nossas vidas em um inferno verdadeiro, eles se adoram, são irmãos. Você está enlouquecendo – minha mãe disse chorando.

- Eu não vou permitir que eles se transformem nesses monstros que vemos por aí – meu pai disse raivoso.

- Amar agora é monstruosidade? – mamãe perguntou aflita.

- É uma mutação ver dois homens beijando na boca – disse ele.

- Não seja idiota não pense assim.

- Eu vou matar o Eduardo por causa daquele bolo, matá-lo.

Meu pai tirou o cinto, eu havia ouvido tudo, mas antes que ele pudesse dar um passo. Foi surpreendido por Felipe, que avançou contra ele, sem força para contê-lo, mas empurrou-o:

- Você não vai fazer nada com ele.

Meu pai ficou irado e começou a surrar o Felipe, mamãe gritava, eu desci do quarto aos prantos:

- Solta ele papai, solta ele.

A cinta veio de encontro ao meu rosto:

- Eu não vou aceitar esse amor masculino, no meu teto não.

Fomos surpreendidas por uma mulher irada, que jogou meu pai no sofá e nos separou dele, uma mulher que era uma leoa defendendo suas crias:

- Sua casa? Essa casa eu herdei do meu pai, era o nosso lar, mas você destruiu. Que tipo de louco você é? Você está acabando com a vida de duas crianças, dois garotos, sem maldade alguma – disse minha mãe gritando.

- Eu nunca fui tão próximo de um amigo.

- Eles não devem ter te suportado.

- Eu e meu irmão, seu pai – ele apontou pro Felipe – nunca nos comportamos assim.

- Eu quero só proteger o Dú, só isso – disse o Felipe correndo para abraçar-me.

Meu pai desistiu de gritar ou discutir, minha mãe mandou irmos para o quarto, eu estava aliviado ou desesperado, eu não sabia ao certo o que sentir, Felipe me amparou na escadaria, havia uma irmandade ali que jamais seria quebrada, nem pelos atos sinistros do meu pai.

Entrei no meu quarto, ele foi ao dele, ainda respeitávamos as regras. Ouvi minha mãe soluçando aflita.

Depois daquela cena, dos meus 13 anos, eu amadureci o suficiente para entender o drama que estávamos vivendo, talvez eu e meu primo-irmão estivéssemos realmente apaixonados, e fossemos nos amar em algum momento de nossas vidas, mas aquilo nunca havia acontecido, só percebi através do meu pai que seria um pecado mortal se algo acontecesse, mas não podia permitir aquele tipo de sentimento, eu havia conhecido nos 13 anos de minha vida uma leoa, um ser capaz de matar para defender os seus, ela era a minha mãe, ela sabia ser muito maior do que a força masculina do meu pai, muito mais gigante que todo aquele preconceito exorbitante, havia aprendido com ela que a vida oferece caminhos e que devemos lutar com todas as forças por aquilo que desejamos, minha mãe era iluminada e eu aprendi com isso que nada no mundo me faria desistir de um amor verdadeiro, podia nem ser esse amor carnal, eu nem havia experimentado isso ainda... Mas ele era de verdade!

Corpos Colados (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora