convivência.|30

437 29 0
                                    

Já faz uma hora que meu tio me contou toda a história e ainda não acredito. Minha vida inteira foi uma mentira, e agora tudo foi apagado. Aquela mulher... Glória realmente é minha mãe, e tanto sua história como a do meu tio batem nesse momento. Não consegui derramar uma lágrima sequer, não consegui esboçar uma reação. Harry me olha do outro lado do sofá de cabeça baixa e meu tio está ao meu lado e parece apreensivo.

"Como você sabia que tinha ido procurar ela?" Pergunto ao meu tio com a voz rouca.

"Charlie me contou" ele parece triste.

"Charlie?" O questiono erguendo as sobrancelhas.

"Seu pai biológico" ele põe a mão nas minhas pernas e levanto.

"Meu pai é Jorge Tones e ninguém mais" falo com a voz firme.

"me desculpe querida, deveria ter te falado antes" ele levanta e me abraça.

"Preciso sair" pego as chaves.

"Pra onde vai?" A voz do Harry  sobressalta nos meus ouvidos mas não o olho.

"Preciso sair" repito atrevida.

"Não a essa hora, e não só" ele fala e percebo o anoitecer.

"Vou sair e não quero nenhum dos dois atrás de mim" saio do apartamento batendo os pés.

Espero o elevador no corredor impaciente. Finalmente o elevador chega e agradeço aos céus pelo Harry e nem meu tio terem vindo atrás de mim. O elevador da sinal que chegou até o estacionamento, caminho até meu carro tão pouco usado ultimamente. Ligo o aquecimento e bato os dedos contra o volante, sei muito bem aonde quero ir, só que me falta coragem. Finalmente piso contra o acelerador do carro, usando um pouco a mais da velocidade que normalmente uso. Depois de um tempo chego no bairro de mais cedo, esse lugar a noite se torna ainda mais assustador. Sigo o endereço de mais cedo e paro na frente da velha casa, sua aparência continua estranha, o que teria mudado em menos de 3 horas? Meus olhos dançam olhando para os lados a todo momento. O balanço na árvore faz minhas memórias voltarem, eu estive ali e estava feliz. Observo um movimento na casa, um homem chega perto da entrada e olha para os lados como se soubesse da minha presente. O observo atentamente, o conheço de algum lugar, sim, era ele!

Flashback:

"MENINA ME dá a mão, seus pai querem que você viva, o carro vai explodir, vem por favor!" O bombeiro fala pela janela do carro.

"NÃO!!! ME DEIXA EU QUERO MORRER AQUI" o chuto.

"Viva pelo seus pais menina!" ele puxa minhas pernas.

"Eu vou morrer aqui, minha vida acaba aqui" dou um beijo no rosto da minha mãe.

"Lauren! É esse seu nome não é mesmo?" ele estica o braço e olho pra ele.

"Como você sabe?" vejo uma chama surgi atrás do carro e o sangue cair cada vez mais pelo meu rosto.

"conheço seu pai eramos amigos" ele me estende a mão.

"Ele não merece morrer!" O olho assustada.

"e você também não!" Ele puxa minhas pernas.

Era ele, eu tenho certeza. O que ele está fazendo ali? Tento por diversas vezes sair do carro mas não consigo. Parece que algo me prende aqui, me sinto a pessoa mais covarde do mundo. O menino de olhos azuis aparece na porta ele parece me vê e corre até meu quarto. Tento dar partida no carro mas esse simplesmente morre, muito obrigado Deus! Ouço três batidas sem força na janela do carro, quase não consigo o vê daqui. Abaixo a janela do carona e o menino fica nas pontas dos pés e me da um sorriso amoroso, seus olhos parecem tanto com os meus.

"oi" ele mostra o sorriso de dentes faltando.

"Oi" minha voz falha. O homem se aproxima do carro.

"Lauren?" Ele parece surpreso.

"Eu..." olho pra baixo.

"O que faz aqui?" Ele parece confuso.

"Você sabia que hoje é o meu aniversário? " o menino me interrompe.

"Não sabia, meus parabéns" abro um sorriso largo.

"Minha mãe fez bolo, você vai entrar né?" Ele fala animado.

"Acho que hoje não dá" falo incomodada.

"Daniel deixe ela" Charlie fala nervoso.

"Tudo bem" o menino abaixa o olhar.

"Acho que posso ficar um tempo" retiro o cinto de segurança.

Assim que desço do carro Daniel fica ao meu lado estendo suas pequenas mãos. Charlie nos acompanha com um ar confuso, assim que chego a entrada me arrependo de ter aceitado isso, Daniel me encoraja e me puxa porta a dentro. A sala está decorada com uma simples decoração do toy store. Glória entra na sala com um bolo azul e uma vela com o número 5 em cima, então meu menininho irá fazer 5 anos! Ela se assusta um pouco mas logo abre um sorriso, assim como eu, ela vem falar comigo mas a campainha toca. Daniel solta minhas mãos e abre a porta, em pouco tempo crianças ocupam o lugar dando vida ao local. Me esquivei todas as vezes que Glória tentou falar comigo, e Charlie nunca mais vi. Daniel me guia pela sala e me apresenta pra todos os seus amigos como "a irmã grande dele" eu abro um sorriso. Chegou a hora do parabéns as crianças se aglomeraram frente ao bolo. A tradicional musiqunha de parabéns começou, observo Glória, Charlie e Daniel atrás da mesa, ele sorriem, estou totalmente deslocada.

"Pra quem vai ser o primeiro pedaço Daniel?" Glória pergunta em um tom mais alto.

"Lauren" ele pega o pratinho de bolo e da a volta na mesa parando ao meu lado.

"Muito obrigado" me agacho e o abraço.

As lágrimas escorrem pelo meu rosto, Daniel já era muito importante pra mim. Acho que dessa história toda ele foi meu único presente. Caminho até uma parte afastada e olho pro pedaço de bolo em minhas mãos, saboreio o doce e as lágrimas rolam ainda pelo meu rosto. Meu celular toca no bolso da jaqueta e me atrapalho em pegar.

"AONDE VOCÊ ESTÁ?" Harry grita do outro lado da linha.

"No aniversário do meu... do meu irmão" enfim falo.

"Que irmão? Lauren, me explique isso" ela parece confuso.

"Daniel, o menino que vimos mais cedo, sabe? Na casa da minha... na casa de Glória" me enrolo mais uma vez.

"O que você foi fazer aí?" Ele fala mais calmo.

"Nem eu sei, quando vi já estava aqui" eu como mais um pedaço de bolo.

"venha para casa, está tarde" ele diz paciente.

"Sim, estou indo" desligo o celular.

Levanto do sofá e como o resto do bolo, procuro Daniel no meio de todas as crianças e o acho. Abro os braços e ele corre até mim. O abraço como se não fosse o vê mais.

"Tenho que ir" o informo e tiro seus cabelos grudados da testa molhada de suor.

"Ah não, fica" ele me abraça mais uma vez.

"Prometo que venho vê você outro dia" falo e o vejo fazer biquinho.

Me despeço de Daniel e vou quase correndo até o carro. Saio daquele lugar que me causa arrepios, quando caio por si já estou no estacionamento do prédio. Estaciono o carro e desço fechando a porta mas uma mão no meu ombro me faz assustar.

Votem e comentem por favor ❤

Cycles and destination| H.SOnde as histórias ganham vida. Descobre agora