Capítulo II

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Continuação...


– Senhorita? – Perguntou Fahir me tirando do meu torpor. Despertei um pouco constrangida e assenti enquanto pedia desculpas sentando-me novamente. De fato, fui a única brasileira maluca que tinha se apresentado para uma loucura dessas. Logo descobri que quem usava azul era francês. A grande maioria, diga-se de passagem. Engoli em seco e fitei o teto.

Precisava respirar para não explodir. Quando pequena minha mãe dizia que era fácil me reconhecer: Eu era sempre a menina fortinha e desengonçada que explodia rapidamente, bastasse que um garoto fizesse uma piadinha sem graça. Pronto. Eu ficava vermelha, roxa e começava a falar tudo que viesse na minha cabeça. Ultimamente eu venho me controlando perfeitamente. Isso já não acontece com frequência e as pessoas quase não percebem quando me tiram do sério. Aprendi a me controlar. Nem mesmo minha mãe acredita. Fecho os olhos por alguns segundos, penso no meu nome e o repito quantas vezes forem necessárias até que a calma venha. Pronto. Estou segura da explosão.

Eu precisava da calma e ela, de alguma forma, precisava chegar a mim. De qualquer forma, ainda estou tentando arrumar outros mecanismos de conseguir me controlar. Vinte e quatro anos ainda é muito pouco para conseguir me conhecer completamente.

O senhor Fahir, assim que acabou de colocar as fitas, começou a chamar os nomes que estavam em sua lista pelo sobrenome. Isso, certamente, me levaria para um dos últimos postos de chamada. Agnes Valença.

Esperei enquanto os nomes iam sendo ditos e as barbies iam se levantando e indo para dentro de um corredor estreito, no qual tinha três portas. Entravam na primeira porta, logo de frente, e, quando saíam dali se dirigiam de volta ao salão. Ninguém recebia uma resposta imediata, mas percebi que algumas saiam com sorrisinhos no rosto quando retornavam da entrevista com Seth.

Os nomes continuaram sendo chamados. Observei mais uma vez as modelos. Tinha muita vontade de perguntá-las o que elas sabiam fazer, se tinham alguma aptidão com finanças, se sabiam um pouco de árabe. Provavelmente todas iam parecer afetadas, como se eu tivesse as chamadas de loiras aguadas fingidas. O que parecia verdade. Só havia ruivas e loiras no salão. Poucas se destacavam, como eu, com os cabelos negros. E, dentre essas, talvez eu fosse a única com cabelo cacheado. A maioria tinha os cabelos escorridos e lisos, vindas do oriente.

Finalmente, depois de uma espera que pareceu interminável, ouvi o meu nome. Valença Agnes. Não sei porque trocar a ordem. Qual motivo para isso? Eu provavelmente seria uma das primeiras se fosse o contrário. Bufei. Calma Agnes. Controle-se. Agnes. Agnes. Agnes.

Atravessei o corredor comedida. Senti todos os olhos das meninas peitudas em mim. Ouvi alguns risinhos também. Claro. Ninguém acreditava que eu era realmente uma boa competidora. Parei diante da porta. O que eu faço? Bato? Espero que Seth abra? Lentamente estendi minha mão dando um toque baixo na porta.

– Entre. – Ouvi uma voz grave, grave demais, na minha opinião, murmurar.

Abri a porta com lentidão. Não sabia que o filho do Sheikh era um garoto mimado. Quantos anos ele devia ter? Vinte? Vinte e um? No máximo! Controlei-me para não arquear uma sobrancelha estranhando aquilo tudo. Fechei a porta enquanto me sentava na cadeira de frente ao garoto.

A sala era bem pequena e também claustrofóbica. Tinha apenas uma cadeira, na qual eu estava sentada, uma mesa lisa de madeira polida, uma poltrona, na qual Seth estava sentado e uma grande janela atrás do mocetão que dava para ver toda Paris dali. Arregalei os olhos. Era incrível. A Torre Eiffel estava bem distante, mas incrivelmente perceptível, com todo o seu esplendor, com todos aqueles prédios monumentais e gigantescos ao redor. Acho que agora que tinha caído a ficha: Eu estava na França. Eu estava em Paris.

O Sheikh e Eu.Onde histórias criam vida. Descubra agora