Capítulo 3

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Capítulo III


Era uma sala diferente das outras. Não havia mesa e nem cadeiras. Apenas o que parecia um chão feito de tatame. O senhor Rashid estava em cima de uma almofada e apontou para que eu escolhesse uma das três que estavam ao redor dele. Franzi o cenho. Havia uma preta, uma laranja e uma azul. Olhei para as três e depois para o Senhor Rashid. Percebi que ele se sentava numa laranja. Pensei em até sentar numa laranja também, mas e se todos tivessem pensado como eu? Não seria uma infeliz coincidência e ele ia achar que eu era igual às outras meninas? Sentei na azul. Rashid deu um leve e terno sorriso.

– Apenas você e mais uma sentaram na azul. – Quase senti vontade de bufar. Não diga. Quem seria? Desirèe?

– É uma cor que significa honestidade, tal como meu nome. – Comentou ele. Olhei o Senhor Rashid. Era um homem magro. Acreditei que por ser Sheikh ele poderia ter se dado o luxo de comer mais um pouquinho. Era mais um dos estereótipos que eu tinha na minha cabeça. De qualquer forma, o Senhor Rashid usava um dos vestidos idênticos ao de Seth, só que na cor branca e tinha uma adaga amarrada na altura da cintura. Também usava um véu na cabeça, pano, ou como se chamava aquilo. Era quadriculado em branco e vermelho. Ele tinha uma barba rala no rosto magro e os olhos brilhavam em uma coloração bem negra. Ainda assim, pareciam amistosos.

– Então porque o senhor não está sentado numa dessas almofadas? – Rashid riu. Achei engraçado vendo alguém rir, mas eu estava parecendo uma menina curiosa, então, acho que a culpa era minha.

– Para enganá-las. Das onze meninas, sete olharam para onde eu estava sentado e sentaram na mesma. Não acredito nessas coisas de cores, sabe Senhorita Agnes? Acredito em Alá, meu senhor. No entanto, uma coisa meu pai sempre me disse quando eu era pequeno: Confie no azul, no vermelho e no amarelo. É uma cor primária. As cores primárias foram as primeiras a serem criadas e escolhidas por Deus. Elas devem também sempre serem escolhidas por ti. Com isso, sempre me preocupo que quem trabalhe comigo possa ser único e escolhido como quero que sejam meus empregados. – Era uma explicação sensata para Rashid. Concordei o olhando. Ele parecia um homem diferente, um homem estudioso. Misterioso também. Me interessei pelo que Rashid poderia ensinar.

– Bem, mas há mais do que cores para que eu seja aprovada, acredito eu, Senhor Rashid. – Ele concordou.

– Muito esperta. Sim, Senhorita Agnes. Há. Algumas poucas perguntas, se a Senhorita pudesse responder. – Assenti e Rashid me olhou nos olhos antes de começar o seu interrogatório:

– Se a Senhorita fosse viajar agora, o que escolheria para levar para Omã? Quem você escolheria? Comecemos com essas perguntas. – Pensei. Olhei para o rosto de Rashid, inexpressivo.

– Levaria minha irmã, Sofia. Levaria a bomba de oxigênio extra dela. Não quero correr o risco de que ela não respire quando estiver em Omã. – O senhor Rashid me olhou pelo que pareceram longos segundos. Torci para que ele não fizesse a pergunta. Não quereria explicar a bomba de oxigênio, nem porque minha irmã era tão importante para mim. Rashid pareceu considerar por longos segundos e baixou a cabeça por mais alguns longos segundos – por algum motivo que não entendi – e então continuou com as perguntas:

– Quais seria seus dois maiores medos, Senhorita Agnes e quais os seus maiores sonhos? – Aquilo era muito pessoal. Não sabia se Rashid tinha o direito de perguntar uma coisa daquelas. Engoli em seco. Ele continuava passivo, sem expressões. Gaguejei no começo quando comecei a falar:

– Tenho medo de perder Sofia por não poder ajudá-la e tenho medo de lugares muito fechados e claustrofóbicos, senhor Rashid. Além dos sonhos de ajudar Sofia, tenho o sonho de viajar para um lugar no meio do nada, vazio, vazio, viajar por um dia inteiro e então, no silêncio de uma noite, jantar aos olhos de Deus. – Rashid concordou. Percebi que ele tinha uma prancheta nas mãos. Acho que ele anotava o que eu dizia. Senti minhas bochechas arderem até se tornarem escarlate. Não sabia que isso seria assim tão importante. Me senti uma estúpida contando as coisas para o Senhor Rashid. Assuntos pessoais.

O Sheikh e Eu.Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin