Recomeçar

Perez

Entrar naquele quarto e ver aquele homem abraçado a minha filha, necessitou de todo meu alto controle. Minha vontade ali, foi de bater nele até perder minhas forças, como ele ousa aparecer aqui, depois de anos, como se nada tivesse mudado?

Depois de mais uma olhada em direção a dona Beatrice, sem que ela demonstrasse qualquer interesse em falar sobre o assunto, desisto e resolvo sair daquele quarto e fazer algo produtivo.

Sei que ela não perdoaria o pai tão facilmente, ela estava realmente sentida pelo abandono dele, esse repentino show de amnésia, que ela está tendo só pode ser para suprimir a falta do filho e isso não vai ficar assim. Ou Alex vem visitar a mãe ainda hoje, ou não me chamo Perez Teresa de Albuquerque!

Dirijo em direção ao apartamento de Matt e quando chego lá, vejo Sara saindo com Alex. Então quer dizer que eles já estão de volta?

Desço do carro e vou em direção a eles, Sara me olha assustada, afinal, a desculpa de que haviam levado Alex para a casa dos avós tinha acabado de ir para o ralo. Meu neto vem correndo em minha direção, me dando um grande abraço.

- Vovó!! Que saudade.

- Eu também estava meu amor. Quando vocês voltaram da casa dos papais do seu pai?

- Há dois dias.

Sara responde por Alex, se metendo na conversa.

- Engraçado eu ficar sabendo disso somente agora, não é?

- Alex querido, sobe e vai encontrar o seu pai, a mamãe já te busca para irmos tomar nosso sorvete, ta bom?

O menino parece meio contrariado por ser deixado de fora do que parecia ser conversa de adultos.

Entramos no prédio e subimos em direção ao apartamento. Assim que chegamos Matthew já nos aguarda na sala e Alex parece ter sido mandado para o quarto.

Nos sentamos na sala e eu espero por algum dos dois tomar a iniciativa de falar, o que não acontece. Resolvo então eu mesma puxar o assunto.

- Bem, se vocês já voltaram, significa que já conversaram com meu neto sobre Beatrice, certo?

- Dona Perez, não é querendo ser rude, mas eu saberei quando é o momento certo de contar isso para o meu filho, e tenho certeza que ainda não é a hora.

Olho para o homem a minha frente, tão diferente do rapaz que amou minha filha. Os anos o mudaram, o transformaram em um homem frio e sem coração.

- E quando será o momento? Quando minha filha sair do hospital e do nada resolver aparecer na frente do garoto? Sim, porque te garanto que será a primeira coisa que ela fará, assim que tiver uma chance.

Ele não parece se abalar. Será que não lhe restou nada daquele amor, que ele dizia tanto sentir pela Bia? Deus, era filho dela, ela já perdeu tanto da vida do menino, não era justo o que estavam fazendo.

Olho para Sara, esperando ver pelo menos um olhar de compreensão por parte dela, mas a mesma está de cabeça baixa, apenas olhando para o chão.

Quando minhas esperanças, de quem alguém naquele sala tivesse um pingo de sanidade e compaixão, estava se acabando, Matt resolveu falar.

- Eu levarei Alex para ver a Bia ainda hoje. Iremos sair com ele para tomar sorvete e contaremos tudo. Feliz?

- Na verdade, estou aliviada. Eu sabia que no fundo, aquele homem que amou e respeitou a minha filha no passado, que ficou ao meu lado para eu não desabar, quando tudo ocorreu, ainda estava aí dentro, em algum lugar.