O filho, a secretária e o chefe

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Nada supera hoje como sendo o pior dia de minha vida, ou antiga vida. Mas se fosse para escolher qualquer um, eu escolheria o dia 10/09. Ontem foi a pior segunda-feira de toda a minha vida. Por que? A resposta é simples. Atrasei para uma das reuniões com a chefia. Digamos que eu e ela somos "amigas". Sou leal e a ajudava quando ela precisava. Não era bajular o chefe e sim aproveitar as oportunidades que surgiam. O motivo do atraso? Anthony estava se recuperando de um resfriado, então tive que deixar meu filho Cody de sete anos na escola. Isso foi antes de minha morte. Tudo ia, supostamente, bem. Levei-o para a escola o que para ele era sinônimo de felicidade.

- Então, querido, vamos descendo por que a mamãe não pode se atrasar para o trabalho. - falei destravando a porta do carro. 

- Você vem me buscar hoje, mãe? - perguntou-me todo sorridente. Fazia um bom tempo que não vi um sorriso que expressasse tanta pureza e felicidade. Na verdade, fazia muito tempo que eu não via o sorriso do meu filho.

- A mamãe vem te buscar. - falei como se aquilo fosse uma promessa. Não sou boa com promessas e Cody sabia disso. Uma vez prometi comparecer na festa de aniversário dele de sete anos e não consegui. Tive uma reunião importantíssima naquele dia.

Cody sempre entendeu que a ausência da mãe era para poder propiciar a ele tudo do bom e do melhor. O vi se afastar do carro e acenar com a mão se despedindo. Dei um leve sorriso. Girei a chave na ignição. Olhei em meu relógio. 07:03 a.m. A reunião era ás oito horas. Eu ainda tinha tempo suficiente para chegar no trabalho, subir até o centésimo andar, organizar meus projetos e ir até a máquina de café antes da reunião levando em conta que a escola dele era em Lenox Hill - quase que do outro lado da cidade.

Cheguei no World Trade Center por volta de 07:48. Parece em cima da hora, mas milagrosamente o trânsito não estava engarrafada. O problema maior foi quando subi no elevador. Começou a subir normalmente tocando All For You da Janet Jackson. Até que parou bruscamente. Esbarrei em um homem de terno cinza que não combinava com os sapatos sociais. Comecei a apertar freneticamente o botão de emergência, mas nada ocorria. Estávamos parados no 75º andar. Depois de meia hora conseguimos sair do elevador depois que os técnicos o consertaram. E foi assim que meu dia começou super bem. Atrasei-me para a reunião, não tomei meu café matinal, fiquei com dores de cabeça devido a falta da cafeína. Alguns preferem álcool, outros preferem fumar enquanto meu maior vício é o café e quando não tomo, meu corpo se rebela contra mim. Passei a manhã toda sentindo dor de cabeça o que gerou um mau humor. Por volta das 11:30 a.m., a minha dor ainda não havia passado, então recorri a minha segunda melhor amiga e secretária Felicity - ela é estagiária, mas deve fazer o que eu mando então é quase minha assistente. Cheguei próximo de onde ela estava sentada e me apoiei em sua mesa.

- Você tem aspirina? - perguntei sentindo aquelas leves pontadas em minhas têmporas.

- Acho que tenho. - falou ela enquanto se abaixava abrindo olhando a última gaveta de sua mesa. Ela procura em meio a alguns papéis e encontra um frasco de aspirina. Entregou-me o frasco no mesmo instante.

- Obrigado. - falei agradecida.

- Srta. Grissom, amanhã como a senhora vai passar a manhã em uma reunião com Owen Mellard e a tarde, de acordo com sua agenda, ficará no Departamento Financeiro resolvendo os custos da campanha Langston-Louis... - eu simplesmente ouvia enquanto ia ao bebedouro pegar um copo de água.

- Vá direto ao ponto. - já estava com a pílula em uma mão e o copo com água em outra somente esperando a conclusão da frase.

- Sei que é no início da semana, mas poderia me dispensar amanhã. Faz tempo que não saio com meu namorado, sabe? - falou ela da forma mais natural possível.

Centésimo Sétimo AndarOnde histórias criam vida. Descubra agora