Não era meu marido. A voz até parecia, mas ele se chamava Ryan Alguma Coisa. Estava a procura da namorada que trabalhava no octogésimo oitavo andar. Diziam que lá era um call center onde se vendia sexo por telefone. Mas boatos são boatos e nada mais. Agora ninguém mais saberá se é verdade ou não. Fui devolvida para o conforto de minha gaveta onde o escuro era mais aconchegante do que aquelas luzes intensas da sala do necrotério. Continuando a pior segunda-feira do meu dia. Perdi uma reunião, tive uma dor de cabeça insuportável e briguei com minha chefe. Mas se algo já está ruim, eu lhe garanto: pode piorar.
Cheguei atrasada na escola para pegar meu filho, mas ele não estava lá. Descobri por meio de sua professora que Cinthya havia ido pegá-lo. Quem é Cinthya? A nossa vizinha e melhor amiga do meu marido. Ambos correm no Central Park toda manhã juntos. Cheguei em casa, abri a porta e me deparei com ela brincando com meu filho enquanto meu marido estava na cozinha.
- Oi, Caroline. - veio em minha direção me abraçando. - Tudo bem?
- Sim... - falei tentando soar o menos falsa possível. Porém, Cinthya nunca foi de meu agrado. - O que faz aqui?
- Passei aqui mais cedo para ver como Anthony estava e a professora do Cody ligou dizendo que você estava atrasada.
- Mas eu ia buscá-lo. Demorei, mas fui. E por quê não foi, Anthony? - falei olhando pela porta da cozinha vendo Anthony no fogão olhando uma panela.
- Achei que a resposta estivesse óbvia, amor. - disse ele falando da cozinha. - Estou doente e o médico recomendou repouso total.
Eu entrei na cozinha e o vi picotando queijo parmesão. Ele usava um avental branco com listras azuis que o deixava sexy. Teríamos feito algo ali, mas tínhamos Cinthya em casa, Cody em casa e Anthony doente.
- Se era para repousar, querido... - falei enquanto me aproximava e beijava o rosto dele. - Por que não está numa cama?
- Por que alguém tinha de cozinhar. - falou ele indo em direção a fogão novamente olhar a panela do molho de tomate.
- Teremos esparguete. - falei comemorando. - Terão almôndegas?
Anthony somente confirmou com a cabeça. Eu saí da cozinha meio decepcionada. Esperava alguma palavra de amor e carinho. Era normal ele dizer algo. Sempre. Subi as escadas e fui para nosso quarto. Tirei minhas roupas e pus um roupão de banho. Fui para o banheiro e liguei as torneiras da banheira. Lentamente foi enchendo.
- Agora... - falei tirando meu roupão e entrando na banheira. A água cobria até a cima dos meus seios. - Terei um tempo só para mim. Sem trabalho. Sem marido. Sem filho. Um tempo só meu e com nenhum problema para resolver.
Eu simplesmente cochilei dentro da banheira de tão relaxada e calma que eu estava. Foi espetacular. A água, realmente, lava todos os problemas que existem no corpo e na alma.
Depois de um bom tempo, completei meu banho. Vesti uma roupa leve e desci as escadas. Cinthya já havia ido embora. Segui até a sala de jantar e vi Anthony pondo esparguete no prato de Cody.
- Já estão comendo? Por que não esperaram por mim? - disse eu com um bom humor.
- Estávamos com fome e como você não vinha, decidi me servir. Espero que não tenha problema?
- Não... Não... - falei enquanto puxava a cadeira e me sentava. - Vejo que Cinthya foi embora.
- Sim. - disse Anthony pondo esparguete em meu prato e depois no seu.
- O que ela veio fazer aqui mesmo? - perguntei curiosa com a resposta.
- Veio visitar o parceiro de corrida dela. Eu estou doente. Alguns ainda se importam se estou bem ou não. - disse ele sendo sério, mas senti um ar de ironia na frase.
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Centésimo Sétimo Andar
Roman HistoriqueTerceiro ganhador do concurso: Desafio em Letras. Já parou para pensar naquela última briga que teve com o marido? Do último beijo que deu no seu filho? No último xingamento em que pensou em dizer ao seu chefe? No último avião que viu? Na última ref...