01 - A empresa

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Setembro, Sexta-Feira

       Três dias antes:

       - Não sei como eu deveria folgar esse fim de semana.

       - Você está trabalhando demais "Rob". Tenha um tempo para você e sua família. Já faz o que? Três anos, sem tirar férias ou ao menos uma folga? Isso é demais até mesmo pra você. – Pegou uma xícara de café.

       Colocando um punhado de pasta coloridas em um dos armários da cozinha, fez um sinal para Martha pegar uma xícara para ele.

       - Tenho que redigir aqueles dois contratos, das novas licitações da empresa – suspirou - e Luíza, ainda insistiu em querer se mudar agora para o interior, nessa fase de nossas vidas. Ela não quer criar Paulo no grande centro - Como se isso fosse um problema – desdenhou, depois cheirou o vapor que exalava da xícara antes de tomar o primeiro gole.

       - E o que você quer? – Martha servia-se de uma xícara na máquina de expresso.

       - Não quero iniciar mais uma discussão sobre isso. Da última vez, brigamos feio. Resolvi passar a noite trabalhando, que por outro lado não foi tão ruim. – Batendo a mão no punhado de pasta coloridas. – Adiantei toda aquela papelada. Essas férias para o interior, pode iniciar uma outra discussão.

       Encostada próximo a máquina de expresso, franziu negativamente como se quisesse sorrir.

       - Não foi o que vocês sempre planejaram? – Sair do grande centro?

       - É diferente! Deu leves sopros na xícara de café. Eu não disse que não queria me mudar. Eu também quero, e muito. Mas, agora não é o momento. Não tenho dinheiro para começar uma vida do zero. Seja qual cidade for! Martha, tenho muitas contas pra pagar, e empréstimos não liquidados – Olhou o relógio.

       - É diferente quanto Rob? Isso faz parte da vida de qualquer um. Você já está aqui há sete anos, e só tirou uma licença de férias. E foi ainda na conferência do Canadá. Olha Rob – Uma pausa, como se escolhesse suas palavras. – Não quero me intrometer. Como sua amiga, e por experiência própria, aproveite sua família, principalmente a infância do seu filho. Porque com o tempo, eles acabam perdendo a importância pela gente, principalmente quando forem para a faculdade.

       forçou um sorriso. Entendia sua preocupação. Ela estava naquela posição a mais tempo. A experiência, tanto profissional como pessoal, Martha era um exemplo. Não conseguiria ver ela em outra coisa a não ser uma sala de escritório e uma causa jurídica para ganhar. Não a imaginava uma dona de casa, e muito menos em ver aquele rosto marcante e firme, dizer que alguma vez foi submetida ou precisou de alguém para consertar a própria vida.

       Ela não era o tipo de mulher que se lamentava se a vida deu uma rasteira ou praguejasse os resultados dos próprios erros. Riu em seus pensamentos. Lembrou de uma conversa de mesa com Carlos e outros advogados semanas atrás: "todos os homens têm medo dela. É uma mulher que não consegue ser enrolada por uma cantada barata".

       E sim, Martha era uma mulher madura, bonita e atraente. O tipo que cuida muito bem do próprio corpo. Atividade física, corrida nos fins de semana e dietas regulares. Independente disso, seu foco e paixão é o trabalho. Em qualquer lugar a qualquer hora o memorando do seu celular a lembrava de algum compromisso. Talvez, de fato isso a tenha afastado de sua filha. Que não a ligava há semanas.

       Conhecia os problemas de ausência da filha e as drogas. Mesmo que na expressão; está tudo bem. Seus olhos não mentiam. Martha sentia muita falta dela.

Caminhos De Uma SentençaWhere stories live. Discover now