10 - A Reunião

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       O envelope estava dentro da caixa de correio. As fotografias e cópias de documentos, voltaram a aparecer. Dessa vez um gravador chamou sua atenção. Era a voz Patterson que tocava o soneto como um radialista na madrugada. O timbre do investigador com que trabalhou mais de 20 anos estava rouco e desanimador. Sentou na varanda, para terminar de escutar o gravador estéreo.

       Conheceu Patterson na formação de cadetes da polícia urbana. Logo depois que foi transferido para a administração interna e Patterson foi para polícia de rua na DP 105º da patrulha metropolitana. Amizade incompatível, se isolou para os estudos de leis na profissão, já Patterson se envolvia em brigas no departamento, quase sendo expulso duas vezes se não tivesse interferido e ele não fosse um excelente policial. A praticidade com que lidava o dia-a-dia, tornava algumas leis obsoletas, o que complicava sua profissão. Patterson não acreditava em leis que dificultava o desenvolvimento da sociedade de bem. Era o que acreditava.

       Cincos anos depois, quando o chamou para jantar em sua casa, já tinha dois filhos. Um de três e uma menina de cinco meses. Riu ao lembrar, que sua mulher não gostava do amigo. Patterson estava enrugado e não tinha um bom humor viril. Solitário desde sempre, as investigações o moviam para a escuridão. Tempos em tempos, aparecia de madrugada o procurando para algum conselho, ou pelo menos falar alguma coisa como válvula de escape.

       Não tinha tudo guardado na memória, mas alguns destaques de jornais da cidade; preso maníaco do parque – 16 mulheres atacadas – duas mortas. Estuprador morto em cerco policial na região serrana. Dois traficantes presos e quadrilha desmantelada. Grupo policial fecha quatro zonas de tráfico de drogas. E outros muitos, que não teve o seu nome citado.

       A última madrugada que apareceu, ele estava transtornado. Dois assassinatos em suas mãos, não resolvidos. Naquela noite, estava pelo terceiro. O advogado. Silveira tinha recém graduado como Delegado no DP 33º na região financeira. Patterson o segurou pelo colarinho, o arremessando no chão depois de uma discussão. Seu melhor insulto era o chamar de burocrata idiota ou policial atrás de mesa. Silveira não podia fazer nada por ele.

       Dois anos depois, Patterson estava preso na corregedoria. O motivo; espancou um homem quase a morte. Como lembrou, ele não seguia leis sem fundamentos. O homem que quase morreu, foi preso quatro vezes por lesão e tentativa de homicídio contra a ex-mulher. Na quinta, uma criança teve o braço quebrado, pelo ataque do homem enfurecido. Patterson recebeu a chamada. O homem sobreviveu pelo resgate de três policiais.

       Silveira relutou contra a expulsão do amigo, pelo desacato ao seu superior quando foi preso. Pela proposta, tornaria Patterson investigador da DP 33º, quebrando esse laço com outros policiais. Patterson estava sozinho e era o que ele queria. Por opção, um jovem policial chamado Ricardo, formado na academia a pouco mais de um ano, seria seu parceiro e auxiliar do DP 33º. Silveira se tornaria responsável por ele.

       Não tinha tanta conversa. Patterson estava focado nos três assassinatos. Enquanto passava o tempo, juntando informações irrelevantes e procurando promotores para os processos, que discordavam, tornando as ligações distantes e irrefutáveis. No quarto homicídio, do agente de limpeza, quando buscou encaixar as peças, os problemas retornaram, como se para ele, todos os homicídios tivessem a mesma ligação, o que tornou um grande problema para ele.

       Naquela madrugada, Patterson apareceu em sua casa, acompanhado do parceiro policial Ricardo. Sentiu um arrependimento por não ter prestado tanta atenção. Novamente burocrata imbecil e policial atrás de mesa, ressoavam em sua garagem. O ego o constrangiu pela atitude do amigo em frente ao jovem policial. Era o delegado e precisava dar e ser exemplo. A maldita ganância pessoal, o fez expulsar de sua casa. Coisas foram ditas, ameaças feitas. Essa foi sua sentença. Depois disso, Patterson nunca mais o procurou.

Caminhos De Uma SentençaWhere stories live. Discover now