20 - A verdade até aqui

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       Phil empurrava o saco de dormir na carroceria da camioneta. Duas caixas com equipamentos de pesca, mantimentos e baterias.

       - Não levaremos barracas?

       - Então! Você se importa em dormir em sacos de dormir? – Phil amarrava uma corda no beiral de alumínio da camioneta, vendo o olhar desinteressado de Robson, que abriu a porta do lado do passageiro – São confortáveis! – concluiu, em ver que ele estava dentro da camioneta e fingia não escutar. Um aceno de mão apontou para partirem. Verificou os últimos ajustes nas amarras, bateu na lataria e entrou puxando duas vezes a alavanca da porta para abrir.

       Saindo por uma estrada que cruzava a lateral da rodovia, seguiram fora do perímetro urbano por alguns quilômetros. A visão de mato alto e barracões abandonado logo foram substituídos por arvores e mata densa. O corredor da floresta, o seguiam junto ao sol forte. Nenhum veículo passou por eles até então.

       - É longe? – Perguntou Robson, sentindo que o clima tinha ficado mais fresco, como se um rio passasse logo atrás da floresta, os acompanhando.

       - Trinta minutos para menos – Olhou para Robson que não mostrava preocupação, prosseguiu minutos depois quebrando o silêncio - Não sei como você não conhece o lago. Morou nessa cidade até os dezessete anos e nunca levou uma garota lá? – Puxou um risinho, olhando algumas vezes para ele enquanto dirigia.

       Robson não mudou sua expressão, não sorriu, mas entendia o que Phil queria dizer.

       - Eu não saía muito de casa. Passava a maior parte do pouco tempo livre na velha biblioteca.

       - Ah! Mais também não tinha muitas garotas interessantes, a não ser que você quisesse... você sabe – Robson balançou a cabeça, entendendo o que Phil queria dizer outra vez. – Tirando os bares! Acho que sua alternativa era a melhor. – Alguns minutos de estrada, prosseguiu novamente. – Essa cidade foi erguia à custa das ferragens e cresceu por esse mesmo sentido. Quem veio para cá, veio por oportunidades de trabalho e ganhar muito dinheiro. Os entretenimentos eram limitados. E hoje olha só, não sobrou nada. Uma cidade sem jovens é uma cidade condenada pelo esquecimento. A tentação das oportunidades na capital. Quem iria ficar aqui? Lastimável ver esse lugar acabar assim. Esquecido do resto do mundo.

       Robson fingiu escutar, trocando olhares nos intervalos que Phil fazia enquanto dirigia. Buscou outros pensamentos e não tinha prestado tanta atenção, em metade do que ele estava falando. Sem interesse na história da cidade. Ele mesmo foi um jovem, que se mandou anos atrás. Não sentiu ressentimentos, fez o que achou certo e ninguém mudaria sua opinião. O silêncio de poucos minutos fez Phil continuar.

       - Mas e você? Disse que tem assuntos na capital?

       Bocejou em silêncio, encostando a cabeça na poltrona. Phil Continuou:

       - Problemas? – Não percebeu o desinteresse dele.

       - Não mais – concluiu, frio e rápido, interrompendo alguma conversa que Phil prosseguiria – Me acorda quando chegarmos, tudo bem? – O tom robusto fez ele desistir do assunto.

       - Claro! – Concentrou-se silenciosamente na estrada.

       O silêncio não durou muito, até chegar a um carreador que dava para fora da estrada.

       - Chegamos! – Confirmou, fazendo Robson levantar a cabeça da poltrona.

       - Onde está o lago? – Olhando para os lados da floresta.

Caminhos De Uma SentençaWhere stories live. Discover now