Capítulo 3

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Já tinha amanhecido há muito quando voltaram a poder andar a trote. Mirian tinha desaparecido pouco depois do Gabriel. Jones ia na frente, seguido de Mike enquanto Mary ia com o Edward no mesmo cavalo. Eles iam conversando todos normalmente. Mary estava bem mais calma, até mesmo alegre. Tinham-lhe dito que ninguém do grupo corria perigo fora de Truth Valley e ela ia ver o mundo!

Mike, por outro lado, estava preocupado. Não viam Mirian há horas e não notava mais ninguém com a mesma preocupação. Era certo que estava feliz de ir ver o mundo, mas tinha um nó que não se desenrolava do seu estômago. Ele aproximou o seu cavalo do de Jones e pôs-se a seu lado.

- Achas que Mirian foi atrás do Gabriel? – Jones não tirou os olhos da estrada. Mike olhava-o impaciente. Finalmente Jones respirou fundo e respondeu:

- Eu não acho. Eu sei que foi! – Mike que inicialmente se tinha deixado relaxar com o começo da resposta remexia agora o pescoço em preocupação.

- E isso não te preocupa? Não te preocupa a Mirian? Ela disse-me que vocês se conhecem há muito tempo! – Mike quase gritava. Jones olhou-o sério. Analisou a sua expressão e largou uma gargalhada.

- É com o Gabriel que estou preocupado! Mirian não precisa dele mais, e espero que ele tenha presente na consciência que ainda tem, mesmo assim, um juramento para a vida que implica a sua própria vida! Mirian sabe tomar conta de si... – Jones voltou o olhar para a estrada. – Creio que já sabes isso.

Mike não gostara da resposta. Ele já tinha percebido que Jones não estava nada preocupado com Mirian, e que, provavelmente, tinha razão, mas continuava a não gostar da ideia de Mirian ter ido atrás do Gabriel. Ele sabia que ela se safava bem, bastante bem, contudo, Mike insistia em vê-la como uma mulher. Ele tinha de se preocupar com ela. Puxou então as rédeas, recolocando o cavalo a andar atrás de Jones.

Poucos segundos depois, ouviu-se o som de cascos. Jones fez sinal para que parassem. Um cavalo galopava algures a uns metros deles dentro do bosque à direita do caminho que seguiam. Não se conseguia ver nada na densidade da mata. O som afastou-se, e por fim extinguiu-se. Eles mantiveram-se completamente imóveis por algum tempo. Jones queria mais que todos ter a certeza de que não corriam perigo. Mike estava impaciente.

- Acho que podemos continuar... Só passou um cavalo! Mesmo que nos traga algum problema é um contra nós os três. – Mike tinha razão na sua lógica, e Jones avançou então.

Alguns minutos depois, avistaram um cavalo no meio do caminho. Sozinho. Jones desembainhou a espada e preparou-se para o combate. Edward seguiu o seu movimento. Mary observava atentamente todas as direções. Mike não se moveu. Estavam ainda a uns vinte metros do cavalo. Não havia som... até o vento se tinha calado após o timbre metálico das espadas. Mike avançou a trote. Jones tentou imediatamente travá-lo mas sem sucesso. «Ele vai se matar!», pensou.

Mike parou ao lado do cavalo e olhou em volta. Mirian estava por perto. Ele sabia-o, sentia-o. Aquele era o cavalo que ela lhe tinha levado do estábulo, disso ele tinha a certeza. No entanto não a avistava. Jones, Edward e Mary observavam-no com cautela. Mike finalmente avistou-a num ramo alto de choupo. Tentava avistar mais longe.

- Já conheces esta tática ou só o cavalo? – Mirian desceu alguns ramos, saltando depois para o dorso do cavalo.

- Ambos! – Mike respondeu sério. Mirian ouviu as espadas regressarem aos seus poisos e os cavalos a aproximarem-se a trote. Sorriu.

- Ambos, os dois?! – Com uma gargalhada fez o seu cavalo dar um encosto ao de Mike. Jones aproximou-se, fazendo Mirian desviar para si toda a sua atenção. – Então divertiram-se sem mim? – Jones sorriu, era óbvio que ela já sabia a resposta.

- Menos do que tu! – Mirian encolheu os ombros.

- Não foi preciso! – Piscando o olho, prosseguiu. – Estamos a caminho de MiddleTown. Antes de lá chegarmos temos uma paragem para fazer numa velha conhecida. – Jones abriu um longo sorriso.

- Uma jovem, portanto! – Mirian retorquiu o sorriso. Mary, que sabia de geografia, questionou:

- Mas MiddleTown é a um mês de caminho... ainda nem estamos perto! – Mirian olhava-a sorridente e com um toque de ternura. Embora Mirian e Jones fossem os mais novos, eram que eles que olhavam com condescendência os outros três. Mary não suportava isso. Ela também já tinha vivido muito! Talvez não guerras, como eles aparentavam, mas outro tipo de problemas. A sua personalidade era bem forte.

- Pois sim! Precisamente por isso há que fazer uma paragem a meio caminho. – Mary manteve a sua expressão. Mirian aproximou o seu cavalo do deles e sussurrou. – Eu sei que tens razão... não te estou a subestimar. Eu conheço o teu potencial.

Mary estranhou esta abordagem, mas antes que pudesse dizer alguma coisa, Mirian abafou qualquer som com o seu olhar desconfiado para o horizonte. Aquele olhar tão intenso e preocupado em alguém com tanta capacidade era deveras assustador. Mirian suspirou por fim:

- Vai chover nesta madrugada, se continuarmos para Norte. Vamos virar-nos para Este. – Mary mais uma vez interveio.

- Mas a Este não há nada a não ser floresta! – Mirian voltou a sorrir-lhe. Mary percebeu agora parte do seu raciocínio. – Precisamente... e a tua conhecida vive nestes bosques... A chuva até ajuda. – Mirian sorria.

- Eu sabia que ela era muito inteligente! Certo, Edward? – Mirian apercebia-se que o Edward se atrapalhara acenando levemente enquanto Mary corara abruptamente. Mike começada a desconfiar dos conhecimentos de Mirian. Jones parecia não ter reação.

- Vamos a MiddleTown mais tarde. Estes bosques em que vamos passar são consideravelmente perigosos. – Mirian olhou Jones à espera que ele a complementasse. Ele assim o fez.

- Os Wild Woods... Antigamente e bem melhor chamados de Magic Woods! – Mirian e Jones partiram então para fora do caminho, rumo a este.

Os outros entreolhavam-se. Edward sabia, apesar de tudo, parte do que se passava. Foi o primeiro a segui-los, arrastando Mary consigo, que se aninhou nos seus braços, deixando Mike a refletir. Mike deixou o seu pensamento voar ao passado: magia... onde se estaria ele a meter, pensava. Ele estava hesitante. A força e a presença de Mirian puxavam-no para este, a sua insegurança de não estar à altura das circunstâncias prendiam-no. O vento trouxe-lhe algo que Mirian havia dito na noite anterior:

«Para mudares de vida tens de largar os teus medos e acreditar no novo... tens de amar o desconhecido!» Ela tinha-lho dito seguido de algo que soara ainda mais estranho: «A altura em que realizarás a importância disso, chegará antes do que pensas... quando a entenderes, escolhe a opção certa! Os perigos são maiores dentro da nossa mente do que na realidade.». E ela tinha razão. Com um súbito toque de pernas pôs-se a trote para acompanhá-los. Mirian era o desconhecido a ganhar vida.

Eles foram cavalgando, conversando e rindo até quase ao anoitecer. Os cavalos estavam exaustos. Mirian era de facto a única que mantinha a energia. Ninguém tinha dormido e cavalgavam sem parar há horas. Jones e Mirian trocavam olhares. Mirian estancou o cavalo, desmontou-o em silêncio seguida de Jones.

- Que se passa? – Mary estava muito cansada mas estranhou a paragem.

- Vai chover! Aqui adiante há umas grutas para passarmos a noite. Convém levarmos alguma madeira ainda seca. – Mike desmontou. Mary quase adormecia sentada no dorso do cavalo. Edward preferia mantê-la acordada até que chegassem às grutas. Jones apercebeu-se do que se passava e ordenou: - Levai-a para as grutas! Esperem lá por nós!

Edward pegou nas rédeas do cavalo levando-o a rodeio consigo para levar Mary até às grutas. Jones foi deixado a tratar dos cavalos.

Vinda Dos Elementos: O RestauroWhere stories live. Discover now