Touble ↬ Sebastian Morgenstern

The One With The Deal

Acordei assustada com o que pareciam ser gritos de Isabelle. Gritos nunca eram bons não é? Não sabia mais, não conseguia mais formular um pensamento com sentido, só queria dormir, mas alguém estava fazendo muito barulho lá embaixo. Alcancei minha adaga debaixo da cama e me esforcei muito para sair do quarto, mas assim que coloquei o pé para descer as escadas uma garota ruiva e baixinha correu em minha direção.

"Ah não querida." Murmurei empurrando ela contra a parede com a faca em seu pescoço, o que a fez soluçar com o susto. Alguma coisa no rosto dela me parecia familiar, mas estava ocupada demais me segurando para não mata-la por me acordar para tentar me lembrar com quem ela se parecia. "Quem é você e porque está aqui sem ser convidada?"

"Aimee..." Isabelle me chamou com os olhos arregalados, na base da escada. "Essa é a Clary."

"Pelo anjo." Murmurei abaixando a faca. "Me desculpe, eu..."

Ela me interrompeu abruptamente ainda com a voz trêmula.

"O-onde está Jace?"

Olhei para Isabelle, ainda segurando a garota contra a parede, e ela negou com a cabeça, movendo os lábios formando a palavra 'Aline'. Arregalei os olhos levemente olhando para a ruiva novamente.

"Ele não está..." Falei baixo. Eu não era uma mentirosa muito boa e ela deve ter notado já que saiu rapidamente da pressão que meu braço fazia no peito dela e terminou de subir a escada correndo. "Aqui..."

"Ótimo." Isabelle murmurou com um suspiro e Sebastian que estava dois degraus abaixo dela, subiu até onde eu estava.

Ele passou os dedos gelados pelo meu braço descoberto, chegando até a minha mão e tirando a adaga dela. Ele tinha uma expressão um tanto quanto suave para tudo que já havia acontecido no curto período dessa manhã e mesmo com o choque e a vontade desesperada de ir atrás da garota, seu toque não só fez meu corpo todo se arrepiar como me impediu de me mexer de qualquer forma.

"Gostei dos shorts." Ele murmurou baixo para ter certeza que Isabelle não ouviria, mas ela não demorou a terminar de subir a escada me puxando pelo braço até o quarto de Jace sem me dar a oportunidade de responder o garoto de cabelos pretos ou agarra-lo.

Clary tinha a expressão de quem viu um fantasma, mas eram apenas Jace e Aline se abraçando. Poderia ser pior, pensei para mim mesma. Só que para Clary, aquilo já era, aparentemente, ruim o suficiente.Como se não bastasse a expressão de enterro em seu rosto, ela parecia estar prestes a desmaiar, então ela tentou recuar, o que só piorou tudo já que ela bateu na porta e chamou a atenção dos dois dentro do quarto. Só então notei que Aline estava com a camisa aberta, mostrando parcialmente seu sutiã. Clary agora parecia que ia vomitar.

"Quem é você?" Aline perguntou com hostilidade, abotoando a camisa depressa.

"Essa é minha irmã... Clary." Jace falou e eu pude perceber o evidente desconforto em sua voz.

"Ah." O rosto de Aline relaxou e ela sorriu levemente. "Desculpe! Que jeito horrível de te receber. Sou Aline." Aline falou estendendo a mão e Clary continuou encarando a garota juntamente com sua mão estendida, como se fosse ter um colapso a qualquer minuto, neguei com a cabeça para Aline e coloquei a mão nas costas de Clary fazendo com que ela entrasse no quarto completamente.

"Vamos, Aline. Eles precisam conversar." Falei fazendo um sinal com a cabeça para minha prima, já que mesmo que ela não fizesse ideia do que estava acontecendo ali, eu sabia bem e nenhum de nós devia se envolver no drama de duas pessoas que se amam e acabaram de descobrir que não podem ficar juntas.

Isabelle parecia tão nervosa quanto eu, e Sebastian, um pouco atrás dela, parecia bem distraído olhando para a minha adaga que ele tinha pegado mais cedo com a intenção de que eu não causasse nenhum estrago. Aline já tinha ido para o seu próprio quarto, o que nos dava um pouco mais de liberdade para falar.

"Como ela está aqui?" Sussurrei para Isabelle depois de me aproximar suficientemente.

"Alguma coisa haver com um portal clandestino. Magnus deve ter feito ele depois que saímos." Ela falou no mesmo tom em que eu perguntei, mas com um suspiro preocupado.

"Ela está aqui contra a lei?" Falei um pouco mais alto pela surpresa, recebendo um olhar de reprovação de Isabelle e uma encarada de Sebastian que depois da minha exaltação ia prestar total atenção na nossa conversa, mas graças ao anjo não ouve mais conversa, tanto pelos gritos vindos de dentro do quarto de Jace quanto por Alec estar chegando e nos olhando com ódio mortal.

"Se essa for Clary que eu estou ouvindo, teremos grandes problemas." Ele falou antes de entrar no quarto.

"Ótimo. Já que meu sono está oficialmente arruinado, eu vou voltar para o meu quarto. Me avise se tudo isso..." Falei gesticulando dramaticamente para todo o ambiente. "Acabar."

Levei um susto quando saí do banheiro, ao ver Sebastian sentado na minha cama com um livro meu nas mãos. Sua mandíbula travada fazia ele parecer ameaçador e extremamente sexy, os braços fortes flexionados e o livro que parecia tão pequeno em suas mãos grandes. Merda, eu não quero me apaixonar, pensei sacudindo a cabeça levemente como se aquilo fosse afastar aqueles pensamentos que eu não queria ter.

"Você gostou disso?" Ele perguntou com certa ironia na voz me mostrando a capa de Orgulho e Preconceito.

"É um clássico, Sebastian." Falei sorrindo de leve.

"Não é porque é um clássico que é necessariamente bom." Ele rebateu colocando o livro de volta na cama. "É muito... parado."

"É exatamente por isso que eu gosto." Murmurei caminhando até a cômoda fingindo que ia pegar algo ali, mas era apenas uma desculpa para não ter que olhar para ele. "É bom ler uma história de amor onde a protagonista não tem habilidades especiais, está fugindo da polícia... Ou se apaixonou por um milionário que esconde um segredo que acaba sendo que ele sente prazer em bater na mulher que vai pra cama com ele... " Comecei a falar e ri pensando no tempo que desperdicei lendo aquilo. Encarei a gaveta aberta, ainda de costas para a cama. "Orgulho e Preconceito é simples. Você não continua lendo porque você quer saber o que alguém fez no passado, você continua lendo porque você quer que eles tenham um futuro... Por mais chato que isso pareça..." Eu teria continuado falando se não tivesse sido brutalmente interrompida pelas mãos grandes e frias segurando minha cintura e me virando de frente para ele.

A única pessoa tão rápida assim que eu conhecia era Jace, pensei.

Novamente estávamos naquela posição onde estávamos a centímetros de nos beijarmos, suas mãos apertavam minha cintura por cima da camiseta preta que eu usava e seus olhos estavam fixos nos meus lábios. Eu? Bom, eu já tinha esquecido parcialmente como usar as palavras, minhas mãos estavam apoiadas no peito forte dele, devido ao susto da proximidade, meus olhos variavam entre sua boca tão convidativa e os olhos tão misteriosos.

"O que está fazendo?" Sussurrei sem quebrar o contato visual.

"Devolvendo sua adaga." Ele murmurou como se fosse obvio se aproximando mais e eu recuei levemente evitando o beijo, mas não saindo de seus braços.

"O que está fazendo nesse exato momento?" Perguntei olhando nos olhos dele.

"Terminando o que eu comecei ontem."

Suspirei.

"Por mais que eu queira muito isso... Eu acho que essa casa já tem drama adolescente demais." Falei, mesmo depois de lutar comigo mesma para não. Ele pareceu decepcionado quando afrouxou suas mãos na minha cintura e fechou os olhos respirando fundo. "Desculpa."

"Tudo bem. Se é isso que você quer... Só vou te beijar quando você me pedir." Ele murmurou com a voz mais rouca que o normal, me dando um beijo de leve no canto da boca e me soltando. Antes de sair do quarto ele colocou a adaga em cima da cama e pegou o livro que se encontrava ali e que tínhamos acabado de discutir, fazendo um leve aceno com a cabeça. "Vou ler com a mente aberta."

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