Something That We're Not

Chapter Twenty

           

Eu sempre tinha sido o tipo de cara saudável. Quer dizer, nem tanto. Mas eu fazia o possível. Eu fazia exames regularmente, mas esse tinha me deixado extremamente desconfortável. A agulha parecia maior, a picada parecia mais dolorosa, a espera parecia durar para sempre. Tudo tinha um efeito pior e eu não parava de estalar os dedos. Eu tinha quase certeza que meus ossos iam virar farelo a qualquer momento.

Eu não tinha como agradecer Louis. Ele tinha conseguido ficar forte quando eu estava literalmente desabando. Ele que me trouxe aqui, que me encorajou a fazer tudo isso. Eu só conseguia pensar em como ele devia estar lá fora, tão ansioso quanto eu.

Sinto meu coração falhar uma batida assim que a enfermeira traz um envelope com o resultado. Meu futuro inteiro estava ali escrito, positivo ou negativo, isso comandava minha vida agora. E eu não tinha coragem para abrir sozinho.

- Obrigado – Pego o envelope com as mãos tremendo e me levanto da maca, indo para o lado de fora.

Louis estava lendo uma revista de moda e eu deixo um riso escapar. Parecia criança.

- Vamos? – Ele me olha e fica de pé rapidamente.

- Já sabe o resultado?

- Eu não consegui abrir – Sorrio de lado – Eu não tenho essa coragem.

Claro que eu queria acabar com todo aquele suspense, nada é mais doloroso do que ficar se torturando com as inúmeras possibilidades do que poderia acontecer. Mas eu não queria acreditar que meu futuro inteiro pertencia a um papel qualquer.

Louis tira o envelope das minhas mãos e guarda dentro do casaco.

- Não vai abrir?

- Nós precisamos ir a um lugar primeiro, antes de você saber a resposta – Ele me dá um sorriso de quem está aprontando alguma coisa e eu não faço ideia do que está passando por aquela cabeça maligna.

...

- É um casamento, Harold. Não uma exposição de jardinagem – Bufo e começo a tirar o terno.

Louis tinha surgido com a ideia mais louca do mundo: nós iriamos ao casamento da minha ex-namorada. Isso mesmo. Segundo ele, eu precisava "deixa-la ir" ou algo do tipo. Mas eu acho que só ele vai pela comida mesmo. E eu estava sem forças pra discordar, até porque, o que eu tenho a perder?

- Quem produz um terno com estampa de flor? – Ele tira um terno do cabide da loja e mostra.

- Eu gostei desse.

- E é por isso que eu vim até aqui te ajudar – Ele coloca de volta – Algum te interessou? Sem ser esses que sua vó usaria?

- Eu vou continuar procurando – Ando pela loja, passando por vários ternos diferentes.

Eu nunca diria isso em voz alta, mas eu acho que Louis tinha razão. Por muito tempo eu tinha guardado essa mágoa da minha namorada com meu melhor amigo. E eu achei que tinha superado, mas eu só tinha escondido ela. E quando Janine apareceu na porta de Gemma outro dia, eu percebi que eu ainda podia sentir a cicatriz e ainda doía como na primeira vez. Eu preciso deixar isso ir, eu não quero mais carregar esse fardo comigo.

- Solta esse troço, tá me dando tontura de longe – Louis tira o terno que eu tinha escolhido das minhas mãos – Isso é tão abstrato que até Picasso ficaria em dúvida.

- Não é tão ruim, eu gostei dele.

- Se você gostou, é porque é ruim. Sem falar que eu achei um terno lindo – Ele me puxa pelo braço, me levando até o provador – Veste isso.