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De festas a planos

Primeira parte

Fizera duas semanas desde que Oliver me contara que Ace iria mudar-se para o Texas, visto que a sua mãe não poderia recusar a oferta de trabalho que poderia tornar-lhe numa milionária.

Recordo-me como eu mal reagira àquela notícia, rasgando os meus cadernos e batendo com a cabeça na minha secretária. Estivera no  estado mais crítico de todos. Vi-me perdido num mar de negação e pesadelos, algo deveras surreal, pois sentia que tivera perdido a virgindade com uma rapariga sênior, e isso era um não-não!

Thomas fizera o possível para me animar, com serenatas horríveis sobre a amizade e pudins de flan feitos pela sua tia-avó Belinda. Já Oliver, este encontrava-se num estado lastimável. De nós os três, ele era o único que conhecia Ace desde criança, visto que ambos viviam no mesmo quarteirão, e também o único que conhecia-o com a palma da sua mão.

O inevitável acontecera.

Ace Walter, o Clyde da minha Bonnie, iria abandonar-me neste velha e aborrecida Morgantown.

Os dias foram passado com uma certa lentidão, graças aos deuses, e eu tive a chance de criar mais algumas memórias desastrosas com os meus melhores amigos.

Hoje era o último dia de Ace em Morgantown, e para aproveitar o sabor das restantes horas aqui na cidade, ele tivera a melhor ideia da sua vida, que era: festejar.

E aqui estávamos nós, imóveis, em frente da mansão de Dylan Burke, o capitão da atual equipa de futebol da Morgantown High School, preparando-nos para o máximo dos estragos que iríamos causar na sua festa.

- Eu acho que preciso de mijar. - confessou Thomas, olhando para alguns juniores desmaiados na relva artificial do jardim frontal.

Ace, envergando o seu casaco de cabedal do costume, riu-se deste, e por fim, caminhou até à porta de entrada, cumprimentando Dylan com um curto abraço.

Nós seguimos-lhe apressados, a medo que pudéssemos perdê-lo naquele local e nunca mais voltar a vê-lo, o que era provavelmente possível de acontecer pois aquele era o Ace, - vocês sabem, Ace, o causador de problemas.

Ao chegarmos à entrada, Dylan, o anfitrião, saudou-nos com uma palmada nas costas de cada um, quase deslocando a minha frágil coluna vertebral, na minha vez.

- Rapazes, até que enfim vocês chegaram! - gritou o tipo de dois metros, na tentativa de fazer-se ouvir através da música alta. 

- Chegamos para dar à tua festa um pouco mais de picante! - Ace berrou, estalando os seus dedos com enorme entusiasmo.

Oliver batera na sua testa com a mão esquerda, não escondendo o quão envergonhado estava com o comportamento do rapaz mais velho. Ao contrário deste, Oliver era o mais responsável de todos nós, a nossa figura paternal. Sem ele, nós não teríamos criado um laço tão forte e inquebrável, algo que todos invejavam só de nós verem juntos. E se não fosse ele, Ace estaria a apodrecer na prisão há cinco anos, mas isso é uma outra longa história...

Thomas, agarrando a manga do meu casaco bomber, balbuciava um tanto de incoerências, algo que fazia quando estressado. Dos três, Thomas era quem me era mais parecido. Ambos nos perdíamos nos nossos mundos inexistentes, adorávamos falar sobre tudo e sonhávamos tanto. Oh, como nós sonhávamos! Para mim, era ele o tipo mais precioso do planeta, quem eu daria os meus dois rins se ele precisasse.

- Entrem, por favor! - solicitou o capitão, mostrando o interior do seu lar, rico lar.

Sem mais nem menos, fizemos a sua vontade. Numa fila indiana, com Ace a guiar-nos a passagem, penetramos-nos na casa de dois assoalhos, minada por alunos e desconhecidos de Morgantown, e fizemos o que toda a gente fazia.

Festejar, óbvio.

Após cinco minutos na festa,  Thomas encontrava-se nos sete céus aos beijos com uma miúda qualquer, Dylan tornara- se no novo rei do beer pong, Theresa Meyer confessou ter três mamilos, uma morena vendera o seu sutiã rosa a Joe, o geek do liceu, e Oliver perdera Ace de vista. Nada de especial.

Ao som de If Ya Gettin' Down, eu corri até à pista de dança que se encontrava no enorme salão. Os meus pés quase que se pisavam mutuamente, pois a excitação de cantar com euforia a música era mais forte que o meu estado lúcido. Eu encenava a coreografia que Ace me ensinara há dois anos atrás, fazendo todos os passos com desleixo e quase perdendo a cabeça com tanta alegria. Eu, Lemon Boy, estava oficialmente podre de bêbado, e desejava beber mais daquele poncho de frutas.

Raios partam a existência de 5ive, amigos.

À medida que dançava, parecendo uma caneta BIC humana no meio daquela multidão de gigantes, gritos no lado oposto do salão podiam ser ouvidos com nitidez, dando-me a impressão que a voz que gritava estava cada vez mais próxima de mim. A mesma que transbordava ódio e muita raiva pertencia ao meu querido e adorável amigo Ace Walter. Ele gritava com Dolly Hudson, uma outra amiga um tanto especial.

Ace e Dolly. Ace, Dolly e o meu cérebro que gritava « perigo ».

ROUGE : À Procura De Spencer (HIATUS)Where stories live. Discover now