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— Eu tenho certeza de que aquela garota no túmulo parecia a Emily. — Começou Alice, andando de um lado para o outro na sala de Cláudia.

— O vestido era o mesmo daquele dia, vocês notaram? Rubro, com os ombros à mostra — Continuou Luíza.

— Olha, eu tenho certeza do que vi, assim como tenho certeza de que não poderia ser a Emily, porque ela morreu há 10 anos. A semelhança é absurda, não posso negar, mas é apenas isso, uma semelhança. — Refutou Cláudia. Ela estava sentada à mesa, tamborilando os dedos na madeira. Mariana estava sentada ao seu lado, em completo silêncio. Os homens tinham ido buscar bebidas e algo para almoçarem.

— E se for o espírito dela, querendo vingança pelo que fizemos? E se ela matou a Isabelle? — Balbuciou Mariana, assustada.

— Foi uma brincadeira, Ok? Nós não sabíamos... não tínhamos como prever... tentamos ajudar. Porque ela se vingaria de algo que não fizemos? — Respondeu Cláudia, séria. Toda aquela conversa a estava deixando nervosa.

Ouviu-se um barulho de carro estacionando lá fora, e segundos depois os meninos entraram na casa, com sacolas repletas de bebidas e três pizzas grandes.

— Almoço na área, pessoal — Gritou Rômulo, alegre. Guilherme e Vitor deixaram as bebidas na mesa e começaram a colocar os pratos, talheres e copos. Minutos depois, todo o grupo estava comendo e bebendo alegremente, esquecendo completamente o que viram no cemitério.

— E então, tudo certo para esse sábado? — Disse Vitor, mastigando um enorme pedaço de pizza.

— Por mim está tudo ok, e espero que para todos também, porque cancelei eventos muito importantes para ir na nossa festinha de reencontro — Respondeu Rômulo.

— Tipo ir atrás de garotas que já disseram que não querem ficar com você? — Riu Luíza. Na faculdade, ela era apaixonada pelo Rômulo, e eles chegaram a ficar juntos por alguns meses, até ela perceber que ele não passava de um galinha.

— É aí que você se engana, meu amor. As mulheres é que vêm atrás de mim.

— Sei...

O grupo de amigos terminou de comer e conversaram animosamente por minutos a fio. Todos compartilhavam da mesma excitação pelo final de semana ainda por chegar - e não era por menos - pois faziam meses que planejavam essa festa de reencontro e ela finalmente estava para acontecer. Conforme combinado, eles sairiam de Campinas na sexta à tarde, mais tardar no sábado de manhã bem cedo, e ficariam na casa dos pais do Rômulo – que viajariam para a Europa no mesmo dia - por uma semana. Lá, eles poderiam beber e farrear à vontade, pois a casa ficava no extremo da cidade, e mesmo a vizinhança mais próxima estava muito distante para ouvir a bagunça.

— Pessoal, vocês estão ouvindo esse barulho? — Perguntou Mariana, assustada. Seus olhos estavam voltados para o fim do corredor, de onde vinha um som de água escorrendo.

— Droga, eu devo ter esquecido a torneira ligada. — Resmungou Cláudia, seguindo em direção ao banheiro, com Alice em seu encalço. Ela constatou que estava certa logo depois, ao abrir a porta do banheiro e vislumbrar que a água começava a verter da pia e formar uma poça logo abaixo. Ela buscou um pano grosso no armário e se colocou a secar o chão rapidamente.

— Isso me faz lembrar — Começou Alice, parada no batente da porta — posso tomar um banho aqui? Toda essa questão de cemitério e aquela garota me deixaram nervosa, e nada como um bom banho para acalmar.

— Claro — Respondeu Cláudia, que terminava de secar o chão e jogava o pano molhado no cesto das roupas sujas — as toalhas estão todas aqui, você pode pegar uma roupa minha ali no quarto, deve servir, e pode me devolver depois.

— Obrigada!

— Não tem de quê — Cláudia girou nos calcanhares e saiu do banheiro, fechando a porta atrás de si.

Alice se despiu rapidamente e entrou no chuveiro. O vidro do box era fosco, então todo o banheiro de Cláudia se tornou um borrão diante dela. Conforme a água quente caía pelo seu rosto e escorria por todo seu corpo, ela se enchia de perguntas que não conseguia responder. O fato daquela garota no cemitério ser idêntica à Emily lhe dava calafrios, e embora Cláudia insistisse em dizer que aquilo não passava de mera coincidência, ela não conseguia deixar de se questionar se esse era realmente o caso. Até onde sabia, Isabelle não era lá de dormir dirigindo, a garota simplesmente se recusava a dar-se por vencida pelo cansaço - ou por qualquer coisa na verdade - mas se ele realmente fosse forte, ela descansaria e voltaria para casa no dia seguinte. Era isso o que Isa faria, mas por algum motivo não foi o que ela fizera naquele dia, e tal fato não poderia simplesmente ser atribuído ao acaso, pelo menos era o que ela pensava.

Cansada, ela esfregou as duas mãos molhadas com água quente no rosto, varrendo todos os pensamentos ruins que assolavam sua mente. Gotas de água escorriam pelo box e todo o banheiro era inundado por vapor quente. De repente, quando ela estava prestes a tirar o sabão do corpo, o chuveiro desligou sozinho e, pelo vidro do box, ela vislumbrou uma sombra vermelho rubro atravessar o banheiro correndo. Ela suprimiu um grito, o coração quase saindo pela boca, mas quando abriu a porta do box não havia mais ninguém ali dentro. 

Reencontro Macabro [Hiatus]Where stories live. Discover now