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Mariana

Um maravilhoso cheiro de café invadiu suas narinas quando desceu as escadas na manhã de sábado. Rômulo estava parado na cozinha, de costas para ela.

— Caiu da cama, Rômulo? — Disse. Ele se virou e olhou para ela, parecia levemente desajeitado.

— Oh, desculpe, achei que ainda estava todo mundo dormindo. Desci bem devagar para não acordar ninguém, e pensei em deixar o café preparado, sabe, para todo mundo. — Disse ele.

— Que gentil — Ela se serviu de uma boa xícara de café.

Mariana tinha percebido quando acordara que Alice dormia sozinha na cama de casal, mas não tinha visto a amiga em lugar nenhum do primeiro andar, apenas Rômulo.

— Viu a Luíza? — Perguntou para ele.

— Não, acho que ela foi caminhar por aí. Está um dia tão bonito lá fora.

Ela se virou e pôde ver pela janela da cozinha que o sol já brilhava a pino lá fora.

— Está mesmo. Acho, inclusive, que seria bom a gente abrir a porta, sabe, para o sol entrar — E saiu em direção à porta da casa, virando a chave para abrí-la.

Parada em frente a porta, Mariana inspirou o ar da manhã e deixou o sol banhar seu rosto. E então, segundos depois, foi como se o dia se tornasse um daqueles filmes mudos antigos. Ela se virou para onde ficava a piscina, e tão logo vislumbrou que ali, flutuando na água, havia um corpo. Era o corpo de Luíza. Seus membros já sem vida estavam estirados sobre a água, o rosto jazia virado para baixo e seus cachos castanhos tremulavam na água.

Em choque, ela escancarou a boca em um grito que não conseguiu ouvir. Seu corpo ficara mole, a alça da xícara escorregou de seus dedos e espatifou-se no chão. Segundos depois, sentiu as mãos de Rômulo tocarem seu ombro, e tudo que ela conseguiu fazer foi erguer um dos braços e apontar para a piscina, onde o corpo da amiga boiava. E torceu, torceu para que ele não visse nada, apenas uma piscina cheia de água. Torceu para que Luíza adentrasse o portão logo em seguida, sorrindo, dizendo que tinha ido caminhar um pouco. Torceu para que estivesse vendo coisas, talvez porque ainda não estivesse totalmente acordada. Mas a piscina não estava vazia, e Luíza não poderia entrar no terreno porque ela já estava ali dentro. E mais, Mariana não estava sonolenta. Não podia estar, porque ele também viu. E ele entendeu. E ele a puxou para dentro, mesmo a contragosto, mesmo com ela se debatendo e gritando que queria tirar a amiga de lá.

Os demais, que dormiam antes de toda a gritaria começar, acordaram assustados com o barulho e desceram as escadas correndo – ainda um pouco sonolentos – e encontraram Rômulo e Mariana sentados na cozinha, uma expressão abalada no rosto.

— Que gritaria é essa? — Perguntou Cláudia. Ela bocejou e esfregou os olhos, parecendo ainda muito cansada. Alice, Guilherme e Vitor estavam atrás dela, também bocejando e esfregando o rosto.

Mariana a olhou demoradamente, desolada, mas aquilo que queria dizer, aquela frase, estava entalada dentro dela, e não conseguia empurrá-la para fora.

Cláudia então abriu a boca para perguntar de novo, já irritada com o silêncio, mas Rômulo acenou para que ela não prosseguisse com a investigação.

— Gente, cadê a Luíza? — Falou Guilherme.

Foi a gota d'água. Mariana se colocou a chorar, soluçando desesperadamente, com Rômulo tentando acalmá-la e chorando também, e todos os outros se aproximando dos dois com uma expressão perdida no rosto, sem saber o que diabos estava acontecendo.

— Será que dá para explicar o que está rolando? — Vitor olhou diretamente para Rômulo, que respirou e tentou formular as palavras mentalmente.

— Olha, eu preciso que fiquem calmos? Ok? — Rômulo deu um beijinho no rosto de Mariana, que ainda chorava, secou as lágrimas do rosto e inspirou, esperando que juntamente com o ar ele respirasse coragem. — Aconteceu algo horrível, realmente horrível... a Luíza — Sua voz falhou, e ele se engasgou com as palavras — está morta — Disse, por fim.

Um burburinho de choque se alastrou pela cozinha. Ninguém parecia entender o significado daquelas palavras mesmo que elas não dessem espaço para duplo sentido. Luíza não poderia estar morta. De jeito nenhum. Ela estava ali, em algum lugar, viva e bem. Era tudo um mal-entendido, eles pensavam. Alguma brincadeira sem graça do Rômulo. Só isso.

— Olha Rômulo, eu não sei que porcaria de brincadeira é essa, mas não tem graça, ok? — Cláudia estava com raiva e apontava acusadoramente para os dois. — E eu esperava mais de você, Mariana, onde já se viu ajudar ele numa coisa dessas.

Mariana se levantou, meio desajeitada, as lágrimas ainda correndo pelo seu rosto, tomou Cláudia pelos braços e a carregou até a porta. Depois, apontou para a piscina, onde o corpo de Luíza ainda boiava. Cláudia engoliu em seco, era a primeira vez na vida que ficava sem palavras. E então, praticamente muda, ela desatou a chorar, apoiando a cabeça de Mariana em seu ombro.

Vitor, Guilherme e Alice foram atrás das duas, com Rômulo em seu encalço, e se acotovelaram na porta para ver do que se tratava. Os três sufocaram um grito quando viram, e então todos choraram juntos.

— Precisamos chamar a polícia. — Disse Alice, entre soluços — Agora!

Reencontro Macabro [Hiatus]Where stories live. Discover now