Capítulo Nove

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Fui arrastada para dentro da Nave. Sem a minha permissão. Eu queria ter ficado com Harry. Eu queria ter ficado aqui. Com ele.

Daríamos um jeito de sair. Sempre damos um jeito.

O avião começa a subir para o buraco na cúpula. Ele se inclina muito. Todos precisam se segurar. A Nave está lotada. Por mais que seja gigante, ao juntarem os sobreviventes do condomínio e do parque, a Nave ficou cheia.

Meus pensamentos continuam em Harry. Meus amigos me consolam. Mas eu não entendo o motivo. Aos poucos, eu vou fechando os olhos e caindo dentro de uma escuridão que cresce dentro de mim.

Não pode ser real. Isso não pode ser real.

Harry está vivo. Eu tenho certeza disso. Ele vai sobreviver. Ele não morreu. Nós viveremos para sempre.

Todos podem pensar que ele está morto. Que ele não conseguiu. Mas eu o sinto. O meu coração sente. No meio de tanta dor, ainda há esperança. Esperanças.

Eu vou voltar por ele. Pois ele voltaria por mim. Eu não vou deixá-lo aqui.

Somos construídos para sermos fortes e aturarmos até o final. Nunca desistirei. Harry nunca desistirá. Somos indestrutíveis.

No meio da escuridão, eu sinto frio e desespero. Sinto-me sozinha. Mas consigo senti-lo. Eu consigo ouvi-lo. Ele está aqui. Ele está pedindo ajuda.

Eu voltarei. Harry, não te abandonarei.

A última imagem que vejo é seu rosto. Depois, tudo fica preto.

***
***
Harry.
***
***

Acordo. Estou deitada em uma cama. Sinto o chão tremer e ouço o som alto de motor. Estou na Nave. Demoro um pouco para lembrar de tudo que aconteceu. As dores em meu corpo estão fortes. Meu nariz já não dói mais como antes, mas meu ombro continua doendo. Lembro de Harry do outro lado da grade do estacionamento e meu coração congela.

Olho para o lado, com esperança de ver Harry sentado em uma cadeira, esperando eu acordar. Esperando que tudo aquilo tenha sido apenas um sonho muito ruim.

Há uma cadeira. Há uma pessoa nela. Mas não é Harry.

Demi está na cadeira, olhando para o chão enquanto segura um lenço de papel e limpa suas lágrimas. Ela olha para mim e se surpreende ao ver meus olhos abertos. Seu rosto está coberto de sujeira e sangue. Seus olhos estão inchados, de quem esteve chorando muito. Não duvido que minha aparência esteja igual.

Nós estamos em um pequeno quarto sozinhas. Ela aperta minha mão.

Eu nem preciso perguntar o que aconteceu ou onde Harry está. Tudo aconteceu. Deixamos Harry para trás. Para morrer.

O abandonamos quando ele mais precisava de nós.

Começo a chorar.

— Eu sinto muito, Claire — ela fala. — Harry está...

— Ele não morreu — eu a interrompo. — Eu sei disso.

Ela me encara, sem dizer nada. Eu consigo perceber que ela não acredita em mim.

— Não lamente, Demi — falo, sentando-me. — Nós vamos encontrá-lo.

Libertada || Último Livro da Trilogia SinistraWhere stories live. Discover now