20. O ÚLTIMO SUSPIRO (I)

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Aquilo não poderia ser real. Seria eu mesmo a 6° alma? Era esse o meu destino? Eu li e reli o papel, agora amassado, mais vezes do que eu poderia contar e mesmo assim a ficha não fazia o favor de cair. O nervosismo se alastrou pelo meu corpo, provocando uma leve onda de choque.

- Enoch? O que aconteceu? - Horace pergunta, coçando a cabeça como quem tivesse acabado de acordar de um sono profundo.

- Vo... Você não lembra do que aconteceu? - Minhas mãos trêmulas mal puderam segurar o caderno direito, por isso, o deixei repousando no sofá. Aproximei-me de Horace e segurei seus ombros, transtornado e afogado pelo medo.

- Calma! Não posso dizer nada se você não me ajudar.

Tomei distância dele novamente, respirando fundo e com mais paciência. Roubei de uma das almofadas a caderneta, abrindo na página dos nomes. Praticamente a enfiei em sua cara, apontando para o meu nome completo.

- Isso aconteceu! - As palavras tropeçavam da minha boca, era como se eu não tivesse controle. Horace arregalou os olhos - Estas são as 6 almas. E este é meu nome. Você o escreveu!

- Tenho certeza que não fui eu. Isso não se parece com nada que teria feito. - O garoto ajustou o monóculo em seu olho direito e suspirou - E se por acaso foi, temo que minha peculiaridade teve algum defeito.

- Não importa. Tenho que salvá-los... - Falei tão baixo que nem sei como minha própria consciência pôde ouvir - É isso. Tenho que salvá-los!

- Enoch, você não pode mudar o que já é determinado pelo futuro.

- Que se dane o futuro! - Gritei, erguendo-me do sofá. Não poderia ficar parado - Se eu puder salvar ao menos uma pessoa...

- Enoch...

- Cale a porcaria da sua boca. Eu estou farto disso tudo! - Gritei, estressado ao extremo. Deixei o garoto falando sozinho e corri ao portão do orfanato, o coração já estava perfurando meu peito.

Ao chegar no gramado, quase engasguei ao não encontrá-los. Saí da mansão com cautela, esperando que Alma não me notasse. Só parei de andar apenas quando ouvi um barulho pelos arbustos, mas depois prossegui.

Tinha acabado de chegar na divisa que me levaria para o mundo dos normais, provavelmente para outro século. Não sabia ao certo quanto tempo eu teria, se ficasse por lá. Talvez minutos ou horas. Na pior das hipóteses, com poucos segundos eu me transformaria num velhote de barba branca. Após um suspiro irregular, tomei um passo a frente e encarei meu destino. Uma onda de energia lançou-se grosseiramente contra meu corpo. Estava claro que eu tinha deixado minha fenda. Felizmente, não foi tão difícil encontrar os 5.

- Richard, você trouxe nossas coisas? - Ouvi Jasmine falando. Eu me escondia atrás de umas pedras para não chamar atenção.

- Sim. Nossos documentos e roupas estão aqui. - Na mesma hora o garoto respondeu, dando uma breve olhada em sua mochila.

Por um passe infalso, eu deixei meu caderno cair para longe de mim. Não sei se o pior de tudo foi o ruído que isso provocou ou por ter parado nos pés de Marie. A menina entortou as sobrancelhas e pegou o objeto com estranheza, passando as mãos no papel.

- Enoch. - Expeliu venenosamente - Ande, apareça!

Não disse nada, até segurei a respiração, mesmo sentindo que isso não iria funcionar.

- E não funcionou, O'Connor. - Marie replicou, lendo meus pensamentos. Praguejei pela minha falha e saí detrás das rochas. Todos estavam surpresos com minha vinda, mas sequer dei atenção.

- Incrível o quão rápido eu fui rebaixado a simplesmente "O'Connor". - Balbuciei, revirando os olhos. Victor empurrou Richard para longe e veio com fúria.

RISE ;; enoch o. ( ✓ )Where stories live. Discover now