B Ô N U S 2

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A GAROTA LONDRINA

Será que esse era mesmo o lugar certo?

Essa era a pergunta que se propagava em minha cabeça há certo tempo, já até perdi a conta de quantas vezes eu teria evitado tal questionamento. Há alguns minutos, o céu estava ensolarado, mas agora, uma chuva majestosa se formou para molhar meus cabelos. No exato momento eu fitava a porta de meu destino. Ela era de madeira e possuia um velho olho mágico e uma campainha. Pressionei, hesitante, o botão e esperei que alguma alma peculiar bondosa me acolhesse nesse frio. Finalmente, uma mulher esbelta e de semblante sério a abriu. Ela fumava um cachimbo e portava o relógio de bolso mais elegante que já vi. Era mais que notável que ela era a dona desse orfanato.

- Pois não, minha querida? - A moça prendeu a madeira do cachimbo entre os dentes, abrindo um meio sorriso. Percebi seu olhar me percorrer de cima para baixo, como se eu fosse uma máquina e ela procurasse por algum defeito.

- Srta. Peregrine? - Pedi, fazendo-a acenar a cabeça vagarosamente - Oh, que bom! Viajei de tão longe para cá só pra encontrá-la.

- Você é da fenda da srta. Raven? - Perguntou, sorrindo ainda mais.

- Sim. Lilian deve ter falado sobre minha vinda, não é? - Deduzi. A última vez que eu falei com a srta. Raven foi quando me despedi dela. Nosso orfanato estava um caos e Lilian enviou algumas de suas crianças para fendas aleatórias. Eu dei sorte (talvez) com essa.

- Claro. Estava lhe esperando. Entre, deve estar tremendo de frio.

Agradeci e me acomodei no novo ambiente que se mostrava para mim. A sala era aconchegante, o local era tão quente que eu me sentia embrulhada por um cobertor. Srta. Peregrine e eu sentamos no sofá, ela deveria estar ansiosa para saber sobre mim. Tinha certeza que ela sabia que eu era uma peculiar, já que consegui entrar em sua fenda, mas nada além disso.

- Então, qual é sua peculiaridade, srta. Franklin? - Na mesma hora eu me engasguei.

- Jones, por favor. - Sussurrei, a voz embargada - Prefiro que me chame assim.

Sim. "Jones". Carregar o sobrenome "Franklin" de papai era agradável, até minha mãe falecer. Ele teria me culpado por tudo, depois do trágico acontecimento. Desde então, tenho sofrido em suas mãos.

- Oh, claro. Desculpe o atrevimento. - Falei que não teria problemas, ela não teria culpa. Mostrei um sorriso confiante, mas devastado. Ainda estava mal por ter perdido minha fenda.

- Posso me curar. - Respondi - Minha pele é capaz de se regenerar de qualquer corte ou perfuramento. Não sou imortal, mas praticamente indestrutível.

- Quando isso se manifestou? - Percebi que ela teria escolhido fazer uma espécie de entrevista. Deixei o medo de lado e continuei a falar.

- Quando eu tinha 14 ou 15 anos. Aconteceu há um bom tempo, mas eu não gosto de falar sobre isso...

- Entendo, querida. - A ave olhou para baixo, como se tivesse se arrependido de dizer algo - Aceita um chá? Costumo fazer alguns dos melhores.

- Sim, claro. - Sorri honestamente pela primeira vez. Enquanto ela se dirigia para a cozinha, eu fazia mais perguntas - Quantos peculiares a senhorita tem nessa fenda?

- Nem muitos, nem poucos. Seria bom que visse com seus próprios olhos, srta. Jones. - Falou, tendo um breve acesso de tosse - Mas antes, vou providenciar algumas roupas pra você. Tome um banho. Vou chamar os outros.

- Obrigada.

- Seja bem-vinda a seu novo lar.

Então fiz o que pediu, extremamente nervosa. E se eles não gostassem de mim?

RISE ;; enoch o. ( ✓ )Where stories live. Discover now