22. A GAROTA LONDRINA

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Era estranho demais viver sem Victor e suas piadas nem tão engraçadas que ele constantemente contava. Era estranho não conviver com Caleb e seu senso exorbitante e escrupuloso de autoridade. Era estranho viver até mesmo sem Jasmine e seus comentários sarcásticos e indelicados ou sem Marie tentando entrar na minha mente de vez em quando - ou quase sempre. A vida no orfanato da srta. Peregrine parecia mais cinza e monótona. Todos os dias eu fazia a mesma coisa: cuidava de meus homúnculos, fazia minhas obrigações, ouvia algum noticiário na rádio e dormia. Certo dia tive o prazer de saber que Trevor Wartch, um dos foragidos mais procurados pela polícia inglesa, fora preso meses atrás.

Ele merecia isso. Era o mínimo que um psicopata como Trevor deveria receber, após arrancar o amor da minha vida dos meus braços. Apesar de Eleonor ter morrido, sua voz ressoava em minha consciência por todas as noites, mesmo quando eu comecei a namorar Marie Wander. Infelizmente, por motivos desconhecidos, ela não me visitou mais, depois de tantos anos. Muitas das vezes eu tinha pesadelos com ela, a maioria me relembrava o dia de sua morte.

Teria sido eu o culpado por ela ter se afastado de mim? O que eu teria feito para nem mesmo sua voz me visitar em meus sonhos?

- Enoch, hora do café. - Fui tirado dos meus pensamentos por Emma, que acabara de abrir a porta do meu quarto. Ela parecia tão desgastada quanto eu. Talvez por noites de sono mal dormidas.

Depois que Abe saiu do orfanato para ser um combatente na guerra contra os nazistas, a garota parecia mais distante do chão do que a própria Olive. Às vezes eu a encontrava lendo e relendo algumas das cartas enviadas por seu namorado enquanto estavam separados. Parecia doloroso não poder tocá-lo ou sequer falar com ele pessoalmente. Eu costumava visitar seu dormitório para checar se ela estava bem - algumas das vezes, quando Emma tinha pesadelos, eu ficava colado a ela, beijando sua testa e dizendo que tudo ficaria bem, mesmo sem eu saber se tais palavras eram verdadeiras -. Eu sabia que não teria nenhuma chance com ela, mas faria alguma diferença se eu quisesse apenas ajudar alguém como Emma Bloom?

- Estou indo. - Respondi. Emma ainda estava me encarando com seus olhos rodeados de olheiras - Você está bem, Emma?

- Você está bem, Enoch? - Perguntou-me friamente. Ambos os questionamentos ficaram pelo ar, as respostas sequer puderam ser ouvidas.

- Não pode ficar assim para sempre, Bloom. Abe virá pra cá algum dia. Ele só está fazendo seu dever como um soldado.

- Pelo que eu saiba, o dever de um soldado não é se isolar do mundo. Não é deixar sua família de lado, mesmo estando em outro país. - Disse, pasma - É isso que Abraham tem feito nesses poucos meses. Ele nem deve mais ligar para mim.

- Não diga asneiras, Emma. Ele te ama.

- Se isso é amar, não quero permanecer com esse maldito buraco negro pela vida inteira!

O ar ficou mais pesado. Aproximei-me dela e dei um abraço apertado e correspondido. Retirei uma mecha de seu cabelo, molhada por suas lágrimas.

- Tenho certeza que você encontrará um outro alguém, Emma.

- E se eu não quiser encontrar? - Sussurrou em meu ouvido.

- Então faremos uma aposta. Se nenhum idiota se apaixonar por Emma Bloom, você se tornará minha assistente. - Falei, sorrindo - Colherá vários corações para meu estoque. Vai sujar suas mãos de lama se for preciso.

- Sendo assim, prefiro esperar por alguém. - Ambos rimos. Ela olhou para mim com gratidão, o que fez meu coração derreter, como se ela estivesse tocando nele - Obrigada, Enoch. Obrigada por sempre estar ao meu lado.

- Conte comigo.

. . .

Algumas das vezes sentia o tempo passar tão rápido quanto um estalo. Imaginava a srta. Peregrine brincando com os segundos e minutos, avançando-os só por diversão. Que bom que era só impressão minha.

RISE ;; enoch o. ( ✓ )Where stories live. Discover now