capítulo VII

47 4 0
                                    

3 de maio de 1939

Querido diário,não existem as mais educadas palavras,ou qualquer palavra em geral que resuma como estou me sentindo agora,talvez a palavra usada,ou para resumir,um lixo.

Ontem pela volta de umas 4:00am pessoas bateram em minha porta,por eu ainda está acordada(ninguém consegue dormir com o seu estômago corroendo de fome) me levantei em disparada,meu coração batia forte e incessantemente,quando ouviram o mínimo ranger da porta a arrombaram,me levaram arrastada pelo chão como se eu fosse um saco de lixo sendo levado para fora de casa.
Sinto uma dor terrível ao perceber que o meu braço estava deslocado devido eu estar bastante magra,travei ao chão com um grande grito de dor e em reclamo por socorro,uma só veia minha não aguenta mais,sinto o sangue dentro de mim explodir,meus pulmões pararem,e apenas o ar gélido desta noite entrar na minha garganta e seca-la cessando assim o meu grito.

Imediatamente eles pararam com a sua caminhada e me deram uma tapa no rosto,em recusa eu cuspi em sua cara para mostra minha repugnância contra todos eles. Daí foi aquele momento clichê onde a sua vida passa diante dos seus olhos.

Leves flashbacks atravessaram em minha mente,sabe,a gente acha que é piada quando vemos ou ouvimos isso dos relatos das outras pessoas,agora bem sei que é verdade,oque mais eu via naqueles momentos era oque eu estava procurando,e oque outros acham que é apenas algo fútil e que foge da racionalidade,eu via sonhos,sonhos passados e futuros.

Pensei nos meus irmãos,numa vida que eu não poderia passar para as outras pessoas,porque ela não tinha sido digna o suficiente para ser vivida;em todos os momentos nunca fui dona da minha própria vida,sempre a controlaram e me fizeram de um trágico experimento.

Em uma fração de segundos tudo isso se passou,enquanto todos eles vinham como lobos ferozes para cima de mim eu apenas entrei no papel de presa indefesa, em que a mente estava eclodindo a cada segundo um turbilhão de lembranças de felicidade,sei que agora essa é a palavra que a sociedade precisa ouvir,e que ela existe.
Ela existe nos nossos mínimos flashbacks,naqueles momentos em que você queria que voltasse,no seu passado,nos anseios do seu futuro,felicidade não é algo estético nem sintético. Ela é subjetiva,ela é concreta nas nossas mentes e nos universos dentro de cada um de nós. Todo esse conjunto é o significado de uma vida bem vivida.

Os detalhes mais inúteis sobre a nossa casa,o cheiro do café sentido no nosso olfato que era sempre percebido as 4:00pm,sentada em minha cama lendo meu livro com o meu vestido azul de bolinhas brancas.
Tínhamos um cachorro,nada que tínhamos não dávamos nome,pois não queríamos nos apegar em algo que poderia morrer em qualquer momento; saber nomes de alguém é o começo de uma linha tênue de afeto,aconselho que evite isso.

Não lembro de nada,estava concentrada demais pensando em todas essas coisas em vez de pensar em meu próprio sofrimento momentâneo,seria egoísmo meu ter tantas coisas que precisavam ser lembradas.

No momento estou em uma sala escura,fui trazida fazendo um rastro de sangue pelo chão num corredor negro e encardido,dentro desse meu compartimento minúsculo nado em meu próprio sangue seco.

Tem alguém vindo para cá.

Talvez Tenha Um Final Feliz (Livro I- Sob Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora