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A segunda feira passou como um borrão, também não poderia ser diferente. O trabalho não foi capaz de prender minha atenção, as reuniões sequer foram ouvidas, nada pode me fazer esquecer a proposta de Miguel. Questionei-me um milhão de vezes, tentei ponderar, encontrar uma solução objetiva como os cálculos que faço com tanta facilidade, me rendi, não consegui resolver nada, e pior, reconheci pela primeira vez para mim mesma que ele estava irrevogavelmente instalado em meu coração. Como posso me dar a esse sentimento? Como vou me entregar a uma relação? Como ter contato físico com ele? Como renegar esse sentimento avassalador que esta me consumindo? Como...? como...? como...?

As perguntas não pararam um só momento de ecoar em minha cabeça. Até que coloquei a mão na boca e me dei conta... Estou apaixonada por Miguel. Como não percebi isso antes, claro que estou apaixonada, nunca tive dificuldades em dispensar os homens, nunca fiquei pensando em alguém, nunca desejei um beijo, um carinho, uma proximidade... Céus... Nunca havia desejado um relacionamento. Estou perdida... Com esse pensamento tomei minha decisão.

Às dezoito horas quando sai do trabalho vi que Miguel já me aguardava na calçada ao lado de Edna. Ele, apesar de estar de costas, parece que notou imediatamente minha presença, como se a energia existente entre nós fosse palpável. Virou-se e caminhou até mim com aquele sorriso maravilhoso que fez meu estomago estremecer. Deu-me um beijo no rosto que retribui da mesma forma.

- Oi querida! Como foi seu dia? – perguntou tão amável que derreti por dentro.

- Bem! Quer dizer, um pouco fora do ritmo. Não consegui me concentrar. - Respondi um pouco constrangida, pois não sou de deixar meu trabalho a desejar e hoje foi um dia que não dei o melhor de mim.

Ele pôs a mão nas minhas costas e me guiou para o carro. Abriu a porta para mim e me deu a mão para me ajudar a entrar. Fez o mesmo com a Dinha e deu a volta no carro para tomar seu lugar de motorista.

- Eu até as convidaria para uma cerveja, mas como amanhã temos que trabalhar e eu tenho um teste surpresa pra aplicar, vou leva-las para casa e deixaremos a cerveja pra outro dia.

- Olha que vou cobrar hein. Falou a Dinha toda animadinha.

- É melhor mesmo irmos pra casa. De qualquer forma ainda é segunda feira, não dá pra sair tomando cerveja logo no inicio da semana. – disse isso e virei o olhar para fora do carro, o peso da decisão estava me sufocando. Na verdade o mundo parecia que estava desabando sobre mim. O clima dentro do carro caiu uns mil graus, senti-me mal por ser rude. Meu corpo todo estava um caos e não sabia como controlar tantos sentimentos se misturando e se digladiando entre si.

O restante do caminho foi percorrido em silencio. Deixamos Dinha em sua casa e nos despedimos rapidamente. Chegando a minha casa dava pra notar o quanto estávamos tensos e foi a minha vez de quebrar o gelo.

- Acho melhor você entrar pra que possamos conversar melhor. Falei de uma vez com a voz exasperada.

- Será que não tem problema? Você mora sozinha e não quero te causar transtornos.

- Não tem problema nenhum Miguel. Sou adulta, livre, desimpedida e muito bem resolvida pra receber na minha casa quem eu quiser, como quiser e quando quiser. Mesmo que tenha que confessar, você é o primeiro homem que vai entrar na minha casa. E talvez na minha vida. Essa ultima frase foi dita apenas na minha mente, não sei se conseguiria dize-la em voz alta.

Entramos e por um instante Miguel pareceu hesitar, ou talvez estivesse apenas conferindo o ambiente. Não sei ao certo. Ofereci um lugar para sentar que ele aceitou prontamente. Minha casa é muito aconchegante decorada com moveis modernos e alguns quadro exibindo cores exuberantes, dão a ela um ar todo especial. Percebi que Miguel observou tudo cuidadosamente e pelo seu semblante acho que gostou.

- Aceita beber alguma coisa? Água? Café? – perguntei após alguns minutos.

- Não. Na verdade não sei se conseguiria ingerir alguma coisa antes de conversarmos. Não consegui fazer isso o dia inteiro pensando na sua resposta.

- Então é melhor conversarmos logo. Você deve estar morrendo de fome.

Fiz aquela observação e me dei conta de que esse homem na minha frente havia passado o dia sem comer e sem beber nada por mim. Por temer a resposta que eu lhe daria. Por eu significar muito para ele. Senti minha face corar e o coração palpitar com esse pensamento.

- Pois bem querida, você já tem uma resposta para mim? Como já te falei antes, vou respeitar qualquer que seja a sua decisão. Eu desejo profundamente que fiquemos juntos e felizes. Porém, preciso adverti-la de uma coisa, temo que diante de uma recusa sua não nos vejamos mais. Miguel disse isso com uma visível dor no semblante e prosseguiu. – Não sei se suportaria te ver e não te tocar, ou pior e não sereis minha.

- Eu aceito! Falei subitamente surpreendendo-o.

- como? Perguntou aturdido.

- Eu aceito ser sua namorada. Falei com mais calma.

Depois de processar a minha resposta Miguel se aproximou e me beijou intensamente. Um beijo amoroso, carinhoso, sedutor e revigorante. Sim, revigorante! Foi uma das sensações que senti naquele momento e pela primeira vez na vida tive um vislumbre de conseguir me livrar dos pesadelos que me assombram há anos.

- Você quer comer alguma coisa? Perguntei quando nos afastamos um pouco.

- Hum, acho que sim! Respondeu ainda me abraçando.

- Então vou preparar alguma coisa para nós.

- Não vai não, vamos pedir pizza. Agora que é minha namorada não vou perder o precioso tempo a seu lado deixando você cozinhar. Nem sei como vou conseguir passar o dia inteiro longe de você enquanto trabalhamos.

Pedimos a pizza e ficamos bem juntinhos no sofá esperando. Esse tempo foi preenchido com muitos beijos carinhosos e frases como: "vou te fazer a mulher mais feliz do mundo", "vamos conseguir superar qualquer coisa juntos", "vou te amar como mulher nenhuma jamais foi amada"... Ele parecia não se cansar de dizer essas coisas e eu me sentia cada vez mais segura ao ouvi-las. Mesmo me sentindo tão feliz não podia deixar de pensar no futuro e no aprofundar da nossa relação.

A pizza chegou, comemos ali mesmo na sala, sentados no tapete conversando e nos beijando como se o mundo tivesse parado só pra nós dois. Quando terminamos Miguel me ajudou a arrumar a bagunça que fizemos e resolveu ir embora porque já estava um pouco tarde. O acompanhei até a saída, nos beijamos mais apaixonadamente, nos despedimos e ele foi embora com a promessa de me pegar amanhã no trabalho. Fiquei observando até seu carro sumir de vista, quando entrei já estava sentindo falta dos beijos dele. Depois de um bom banho e de uma ligação pra Dinha pra contar a novidade fui dormir. Como há muito tempo não acontecia dormi sem ter pesadelos.

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