9

177 16 0
                                    


           As semanas seguintes correram tranquilamente, Miguel estava muito atarefado, todavia, não perdia uma oportunidade de estar comigo sempre que podia. Não tornei a ver Cristine e achei que ela finalmente tivesse caído na real de que Miguel não queria nada com ela.

           Tudo mudou numa quinta feira quando eu ia para o trabalho sozinha, por que a Dinha tinha médico marcado e não poderia acompanha-la. Quando passava na frente do colégio estadual começou uma forte chuva e tive que me abrigar na marquise da escola. Nesse momento não pude deixar de ouvir uma conversa entre dois jovens, um rapaz e uma moça.

Rapaz: nina você sabe da novidade?

Moça: não Du, qual é?

Rapaz: a professora Cristine falou no banheiro feminino que finalmente conseguiu fisgar o professor Miguel.

Moça: Isso só pode ser mentira, o professor Miguel vive fazendo declarações de amor pra namorada dele na sala de aula, a Antônia, não é esse o nome dela?

Rapaz: é sim, e o que impede o cara de ficar com as duas? Ele pode ter uma pra casar e a outra pra trepar.

Moça: Du, que coisa mais feia de se falar. Credo! Toma vergonha garoto.

Rapaz: vai dizer que você não conhece os homens?

Moça: não conheço os homens, conheço o professor Miguel e sei que ele não é assim.

Rapaz: ah não, e a foto que ela mostrou pras meninas dele dormindo no tapete da sala dela. O professor é homem e tem suas necessidades. Ele pode namorar sério com a tal Antônia e querer a professora Cristine só pra dar uma de vez em quando.

Moça: vamos acabar com essa conversa, a chuva passou, vamos embora antes que eu desista da pesquisa e brigue com você por falar do professor Miguel.

Os jovens saíram e então me dei conta de que a chuva havia parado e que eu devia prosseguir para o trabalho. O problema é que minhas pernas estavam petrificadas e precisei reunir todas as minhas forças pra sair do lugar. Percebi que não tinha condição alguma de ir trabalhar, liguei avisando que faltaria alegando um resfriado repentino e peguei o próximo ônibus de volta para casa. Não havia palavras para descrever a dor que sentia naquele momento. Não conseguia discernir se procurava Miguel para pedir explicações, se procurava Cristine para ver a tal foto ou se acabava logo com esse namoro e colocava um ponto final em tudo isso.

O ruim de viver machucado é que quando as dores vêm, umas após as outras, elas parecem assumir uma intensidade somativa. É como se uma dor, mesmo depois de digerida pudesse tornar a próxima mais excruciante. A minha vida sempre foi regida por uma sucessão de dores e cada vez que uma nova surgia arrastava consigo o peso das anteriores. Uma vez li numa publicação que a decepção só dói tanto por que vem daqueles que amamos. Infelizmente, na minha vida, tive provas mais que suficientes para atestar essa afirmação.

Quando cheguei em casa tudo que consegui fazer foi chorar, chorar, chorar e lembrar de todos os momentos que passei ao lado de Miguel e do quanto ele já tinha me ajudado a lidar com meus traumas. Acabei adormecendo entre as lágrimas e as lembranças. Acordei com um barulho estrondoso vindo da minha porta. Parecia que alguém estava à beira de um ataque, alguém não, Miguel, que batia na porta e gritava por mim desesperadamente. Levantei-me e fui até a porta, mal a abri e ele lançou-se em meus braços me abraçando e beijando. Vi no rosto dele a angustia, o desespero e a preocupação que estava sentindo naquele momento.

- meu amor como você está? o que aconteceu? Você está sentindo dor? Me fala. Fiquei maluco quando cheguei pra te apanhar no trabalho e a recepcionista me falou que você não foi trabalhar por estar doente. Ele falava em um só folego exasperadamente.

- não foi nada demais, apenas uma indisposição. Agora se você me der licença quero que vá embora, preciso descansar um pouco. Proferi essas palavras com tamanho peso na voz que ele percebeu de cara que eu não estava doente coisa nenhuma, e sim, que tinha algo errado entre nós, ou melhor, de errado com ele.

- Antônia meu amor me responde uma coisa. Você está doente?

- não. Respondi seca.

- e eu posso saber o que você tem realmente?

- você tem certeza que quer saber? Não tem nada melhor pra fazer hoje não? Provas pra corrigir ou simplesmente dormir em um tapete qualquer? Perguntei ironicamente.

- meu bem eu não sei do que você está falando. Da pra me explicar? Perguntou ele visivelmente aturdido com todo aquele desdém.

- ah você não sabe? Pergunta a Cristine talvez ela refresque sua memória. Agora sai da minha casa, por favor! Falei apontando a porta pra ele.

- tudo bem, eu não sei o que a maluca da Cristine te disse, só sei que seja o que for não é verdade. Porém, se você quer mesmo me tirar da sua vida por conta de uma fulana que você nem sequer conhece e com quem trocou pouco mais que meia dúzia de palavras, isso é problema seu e só seu. Pensa bem antes de tomar qualquer decisão, não sou home de ficar de leva e trás, se você quer fim será o fim. Depois não adianta arrependimentos nem pedidos de desculpas, pois pra mim uma relação se alicerça na confiança, quando esta ruir o relacionamento jamais se sustentará. Miguel falou estas palavras com pesar e muito aborrecido. Não me abraçou, nem me beijou, não me deu nenhum adeus ou até logo. Somente se retirou.

Voltei pra cama e chorei por toda a noite, não conseguia imaginá-lo com outra mulher, mesmo assim sabia que ele tinha suas necessidade e que eu estava bem longe de poder supri-las. Achava que ele não suportaria tanto tempo sem ter relações sexuais, sabia que Cristine era uma cobra criada e que faria qualquer coisa para ter Miguel em sua cama, sabia de todas essas coisas... só não sabia o que faria sem ele. O que mais me perturbava era a convicção de Cristine e essa maldita foto que ela dizia ter.

Pela manhã liguei novamente pra o escritório pra falar que não iria trabalhar outra vez. Meu dia passou entre lágrimas, cochilos, sofá e cama. Não consegui comer, beber, e ao fim do dia apenas tomei um banho e chorei ainda mais. À noite recebi a visita da Dinha que estava preocupada comigo. Não dei muitas explicações e ela percebeu que não me abriria. Minha amiga sempre respeitou meu espaço, e mesmo sabendo que algo muito grave aconteceu na minha vida nunca insistiu pra que eu contasse, nunca sequer me fez perguntas a respeito. Ela sabia que havia um limite de conforto pra mim em nossa amizade, que sentimentos e passado eram limites rígidos para mim. Nos despedimos e ela foi embora me prometendo que voltaria a qualquer hora que eu precisasse, bastava só ligar. Fui deitar e chorei mais ainda, primeiro por saber que tinha uma amiga pra todas as horas a quem eu não dava total confiança pra dividir minha vida, mesmo ela nunca tendo me dado sinais de que não fosse verdadeira, e, segundo, por perceber que passara o dia sem noticias de Miguel.

Ao amanhecer resolvi me afastar pra pensar, liguei pra o meu chefe e pedi uma semana de licença pra recuperar a saúde. Como eu tinhas férias vencidas ele não viu problemas em me dar os dias que precisava. Fiz uma mala, peguei meu carro e viajei pra uma praia bem afastada. Avisei somente a meus pais para que não se preocupassem. Não contei o que aconteceu entre mim e Miguel. Quando mamãe questionou falei que estava trabalhando muito e que precisava descansar. Meus pais sabiam dos meus limites e respeitavam. Eles sabiam que me abrir, mesmo que com eles, era muito difícil pra mim. Eu vivia atormentada por fantasmas que entraram forçadamente em minha vida.

oi amores!

mais um capitulo fresquinho

daqui pra frente nossa história vai desenrolar e muitas verdades irão aparecer. 

votem e comente. bjs no coração!!!!!!!

Um Amor para Curar...Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang