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A semana passou como um lampejo. Miguel me pegava todos os dias no trabalho, íamos pra casa, namorávamos um pouco e depois ele ia embora. Na sexta feira ele levou a mim e a Dinha para tomar uma cerveja em um barzinho novo que tem musica ao vivo. Quando chegamos lá percebemos logo a presença de alguns colegas do nosso trabalho. Como não temos amizades intimas na empresa, apenas acenamos.

Algumas cervejas depois e uma conversa bem animada, a banda começou a tocar a musica Oceano de Djavan. Miguel me convidou pra dançar e aceitei prontamente porque amo essa musica. Naquele momento, com ele me conduzindo divinamente em seus braços, percebi o quanto estava próxima e o quanto já havíamos nos envolvido nesses últimos dias. Me sentia protegida nos braços de Miguel e o mundo ao redor parava de existir como que por encanto. Naquele momento só existíamos nós dois e a melodia que nos embalava. O medo, a insegurança e o passado não tinham força suficiente para transpor aquela redoma de sentimentos que estava se erguendo ao nosso redor. Se alguém me dissesse a um mês atrás que me deixaria abraçar por um homem, provavelmente mandaria internar essa pessoa em um hospital psiquiátrico. No entanto, ali estava eu agora, nos braços de um homem magnifico, completamente relaxada e apaixonada.

A beleza do nosso momento foi quebrada quando Miguel me soltou rapidamente e se virou. Olhamos juntos e vi que se tratava de Renato, um colega de trabalho com quem pouco falo e de quem não vou muito com a cara.

- Antônia você me daria à honra de uma dança. Falou ele ignorando de proposito a presença de Miguel.

- Oi Renato! Acho melhor não. Falei visivelmente constrangida.

- Nossa Antônia! Trabalhamos juntos a anos, tentei te convidar pra sair várias vezes e você sempre recusou. Agora te encontro aqui e nem uma dancinha mereço?

- Por favor, Renato, eu já disse não. Não torne as coisas piores do que já são.

- Olha cara ela já disse não. Que parte disso você não entendeu? Ou prefere por escrito? Falou um Miguel possesso e irônico ao mesmo tempo.

- E você quem é? Perguntou Renato dando a entender que percebera agora a presença de Miguel.

- Ele é meu namorado. Respondi no tom mais ríspido que pude.

- Quer dizer que a santinha do escritório não é tão santa assim e tem até namorado? O que mais não sabemos da puritana Antônia? Ou será que não é tão purita...

Renato não teve chance de concluir a frase. Miguel o acertou com um soco que o fez cambalear e depois com mais um que o atirou no chão. Alguns colegas nossos se aproximaram, mas apenas para retira-lo de lá, viram toda a discussão e reconheceram que ele passou dos limites. Alguns ainda se desculparam comigo e disseram não compactuar com o que Renato falou.

Após o triste incidente Miguel resolveu dar a noite por encerrada e nos levou para casa. No caminho ele me pediu desculpas pelo seu comportamento.

- Antônia querida me desculpa por agir como um troglodita. Eu geralmente não sou assim. Ouvir aquele cara te ofender me deixou completamente fora de mim.

- Você não tem que se desculpar. Me defendeu e aquele idiota estava precisando de uma lição. Desde que entrei na empresa que ele tenta se aproximar. Oferece carona, convida pra sair, tenta se aproximar na hora do cafezinho... Eu sempre deixei claro que não queria nada com ele. Espero que agora ele fique bem longe de mim.

- Ah mais ele vai ficar. Falou Dinha que até então estava calada e muito séria. – ou ele fica longe de você, ou não responderei por mim. Segunda feira terei uma conversinha com ele, deixa comigo, ele sequer olhará na sua direção outra vez.

Concordei e lancei pra Miguel um olhar que dizia: ela sabe o que faz não se preocupa.

Passados alguns meses, nosso namoro tornava-se cada vez mais solido. Nos víamos quase todos os dias, saiamos juntos nos fins de semana pra passear nas praças e parques. Estávamos esbanjando felicidade. Sentia-me mais a vontade com Miguel e sabia que já tinha transposto barreiras físicas das quais não imaginei que pudesse me livrar. O caminhar de mãos dadas, os abraços apertados, o dançar, as mãos dele acariciando minhas costas não me causavam temor e sim prazer, leveza e relaxamento.

Percebi que Miguel não estava sendo apenas meu namorado, ele estava sendo a minha cura. Agora eu podia afirmar com toda convicção que era capaz de amar e que estava irremediavelmente amando Miguel.

Na segunda feira ao sair do trabalho percebi uma mulher diferente conversando com Miguel ao lado do seu carro. Ele logo que sentiu minha presença virou-se e veio até mim. Me recebeu com um abraço e um beijo apaixonado. Não pude deixar de perceber o desconforto, ou até mesmo o desgosto no rosto dessa mulher ao presenciar nossa troca de afeto. Miguel nos apresentou e descobri se tratar de Cristine, uma professora colega do trabalho dele.

Naquele momento não dei muita importância e achei que pudesse ser apenas um ciúme bobo. Depois de alguns dias percebi Cristine muito próxima a Miguel, ficando ao lado dele pra me esperar na saída do trabalho e não havia motivo aparente para tal atitude. Comecei a demonstrar meu incomodo com a presença de Cristine e na sexta à noite, na volta para casa, resolvi falar.

- Miguel há quanto tempo você conhece a Cristine?

- Pouco mais de um mês. Ela começou a trabalhar no estadual substituindo a Ana que ganhou bebê. Respondeu naturalmente.

Ele viu meu desconforto e que estava chateada e perguntou bem humorado.

- você está com ciúmes meu bem?

- Não estou com ciúmes, só acho que ela esta afim de você.

- Mas você sabe de quem estou afim não sabe? Essa pergunta foi feita em um tom de voz que derreteria todo o polo norte e não só o meu ciúme.

- Tá bom, você venceu. Mas vou ficar de olho nela viu. Se ela pensa que vai ficar dando em cima de você na minha frente e que vou fazer papel de trouxa, está muito enganada. Miguel apenas riu e acariciou meu rosto. O que eu não esperava era o que ele disse em seguida.

- O que eu preciso fazer pra você entender que eu te amo? – falou da maneira mais carinhosa que poderia e continuou. – Eu te amo e só vejo você, só sinto desejo por você, só sou atraído pra você. Penso em você dormindo, acordado, no banho, lecionando, planejando aulas, comendo... Quantas vezes já escrevi seu nome nos planejamentos e nas atividades. Meus alunos perguntam por que só uso o nome Antônia nos exemplos que dou nas aulas. Sabe o que respondo? Por que esse é o nome da mulher da minha vida.

- Nossa Miguel! Não sei nem o que dizer. Você me deixou sem palavras.

- Diga que você também me ama. Falou com um sorriso maroto.

- Você sabe que eu te amo. Respondi.

- Sério? Você me ama? Agora eu que fiquei sem palavras. Tive muito medo de não ser correspondido.

- Te amo sim, te amo muito, te amei desde aquele primeiro beijo que você me roubou na calçada da minha casa naquela sexta feira chuvosa. Percebi naquele momento que estava perdida. Após aquele beijo, descobri que não poderia estar em nenhum lugar no mundo que não seja nos seus braços. Eu te amo Miguel como jamais amei e sei que jamais poderei amar.

Ele segurou forte em minha mão e percorreu assim o percurso restante ate minha casa. Quando chegamos era palpável a urgência que tínhamos um do outro. Precisávamos nos sentir, nos tocar. Abraçamo-nos e nos beijamos profundamente. Algo mudou naquele instante e descobrimos que estávamos irrevogavelmente, irresistivelmente e avassaladoramente apaixonados um pelo outro.

Descobri o quanto necessitava de Miguel e como mexia com ele, como o deixava excitado e que nosso relacionamento estava prestes a avançar. Que a intimidade entre nós dois aumentaria diante da declaração de amor. E, se ele pensasse em casamento? Como eu reagiria? Estava chegando a hora em que teria que me abrir completamente e expor meus medos e fantasmas para Miguel.

Um Amor para Curar...Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang