26. Negócios

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Eu tenho pesadelos todos os dias. Eles aparecem nas horas mais frias da noite, me fazendo gritar de medo. Mas não se trata de apenas sonhos ruins, são lembranças misturadas com fantasias. Vozes assustadoras chamando meu nome. Quase todas conhecidas. São como ecos no escuro sussurrando ao me chamar.

Primeiro, eu estou no maldito estacionamento onde tudo aconteceu. Aquela sensação, uma triste lembrança do meu coração batendo de pânico faz com que o pesadelo se torne ainda mais assustador. Eu já estive ali tantas vezes durante meses todas as noites, mas é o desespero que sempre faz o sonho se tornar algo novo quando eu revivo tudo. Caminho pesarosamente e o mais quieto que consigo, porém o local é uma zona vazia demais para que um simples passo se passe despercebido. Então eu paro e os ecos dos passos continuam me fazendo perceber — mais uma vez — que não estou só. É assim que começa, eu sei disso, de alguma forma eu sei.

Duas figuras surgem da escuridão, seus rostos estão desfocados como se fossem algum tipo de aberração. Eu tento me concentrar em suas faces mas é como se houvesse uma nata em meus olhos impedindo de visualizá-los.

Instintivamente eu dou alguns passos para trás, eu sinto o perigo, eu juro que sinto.

"O que vocês querem" quero perguntar, mas minha voz some. É aquele maldito desespero tomando conta de meu corpo. É o medo daquilo que vai acontecer ou, em uma realidade, já aconteceu. É a indignação de como o mundo algumas vezes pode ser injusto e cruel.

O resto acontece tão rapidamente quanto eu posso perceber: eles se aproximam e me dão um soco no estômago, eu caio e então recebo diversos xingamentos e chutes. Nesse momento eu só quero me encolher o máximo possível e sumir.

Então de repente tudo fica estranhamente silencioso e calmo. Levanto a cabeça, estou todo ensanguentado mas não há dor. Em minha volta as luzes se acendem revelando diversas pessoas batendo palmas e olhando para uma única direção, acompanho o olhar das pessoas e atrás de mim está meu patrão em um tipo de nomeação.

"Viva o novo governador do Ceará" grita um senhor e todos aplaudem. Parecem não me notarem ali no chão, no centro de tudo.

Então o Sr Louis pede silencio com um gesto e começa a falar:

"A partir de hoje eu estarei encarregado pessoalmente de me livrar de todas essas merdinhas que infestam nosso estado" ele me olhou severamente, de um jeito que eu nunca tinha visto antes e depois apontou em minha direção.

"Como esse aí" disse ele. Todos os olhares desconhecidos focaram em mim. Como um exército enfurecido eles começaram a vir em minha direção, seus rostos começaram a ficar desfocados.

O grito foi inevitável, mas normalmente era a única forma de sair de um pesadelo como aqueles. Anna já estava acostumada porém sempre aparecia em meu quarto assustada. Talvez ela tivesse medo de algum dia estre esses sonhos eu tentar me matar ou algo do tipo.

Ela me acalmou. Disse que estava tudo bem.

— Eu achei que com o passar do tempo esses pesadelos sumiriam, mas não está John. Você precisa procurar alguma ajuda.

Eu acariciei o rosto dela. Suas olheiras eram como um reflexo das minhas.

— Me desculpe — as lágrimas caíram.

— Shiiih. Não é culpa sua. É só uma fase. Vamos passar por ela juntos, tudo bem?

Fiz que sim com a cabeça. Eu estava grato por ter ela na minha vida. Enquanto eu abraçava minha melhor amiga, me lembrava do sonho e do pedido de Júnior. Eu nem deveria escutá-lo. Não depois de tudo que ele tinha feito. Mas e se Júnior tivesse razão?

O Filho Do Meu Patrão (Romance Gay)Where stories live. Discover now